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Com "surto" de microcefalia, falta inseticida para mosquito da zika no NE

10.jun.2015 - O mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue - Agência Brasil
10.jun.2015 - O mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue Imagem: Agência Brasil

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

20/11/2015 06h00

Vivendo um surto inédito de microcefalia provavelmente relacionado ao zika vírus, os Estados do Nordeste sofrem há pelo menos três meses à espera dos larvicidas de combate ao mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, da febre chykungunya e do zika.

O inseticida é enviado pelo governo federal e é colocado em reservatórios de água para evitar o surgimento da larva que dá origem ao mosquito.

O Nordeste registrou este ano 399 casos de microcefalia. Na terça-feira (17), o ministério confirmou a presença de zika vírus em duas gestantes da Paraíba que estão com bebês no útero já diagnosticados com microcefalia. “É altamente provável que as duas coisas estejam ligadas”, disse o diretor do departamento de vigilância das doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch.

O UOL apurou que a situação atinge os nove Estados da região. O larvicida piroxisen é enviado pelo Ministério da Saúde aos Estados, que por sua vez repassam aos municípios, de acordo com suas necessidades –é das prefeituras a responsabilidade do controle de endemias. Os municípios são proibidos de comprarem diretamente o produto e têm de esperar o envio do produto pelo governo federal.

A falta de larvicida se torna ainda mais grave nos municípios do semiárido que enfrentam a pior seca dos últimos 50 anos. Nessas cidades, os moradores acumulam água em casa por conta da deficiência no abastecimento, o que aumenta as fontes de criação do mosquito.

Há casos como o do município de Ouro Branco, no sertão de Alagoas, onde o alto índice das doenças transmitidas pelo mosquito levou a prefeitura a decretar emergência. Segundo a prefeitura, há 90 dias a cidade está sem o larvicida é impedido de fazer o trabalho na casa dos moradores.

Situação “absurda”

Segundo a vice-presidente do Conselho de Secretários de saúde de Alagoas, Normanda Santiago, a situação é extremamente grave. “Está faltando em todos municípios do Estado. Estamos em seca, e as pessoas acumulam água em casa. É absurdo isso. Estamos reivindicando há meses, por mais que existam ações educativas, precisamos dos larvicidas para evitar a proliferação de novos mosquitos”, afirmou.

Santiago explica que, com a relação praticamente confirmada do zika vírus com a microcefalia, os municípios passaram a ter uma nova dor de cabeça. “Eu avalio com grande preocupação isso. Nos sentimos muito só, precisamos do apoio do Estado, do ministério para capacitar os profissionais. Imagine o que é ter uma mulher grávida acometida pela zika e que pode ter uma consequência gravíssima que é a microcefalia. A responsabilidade muito é grande”, disse.

Secretarias aguardam

Procuradas, as secretarias de Saúde dos Estados confirmaram o atraso no repasse federal, e algumas informaram a situação do abastecimento do produto.

A Secretaria de Saúde de Pernambuco, Estado campeão em casos de microcefalia (268 ao todo), disse que recebeu esta semana um ciclo de combate, que deve durar dois meses. O material ainda está sendo entregue às gerências de saúde para distribuição aos municípios.

No Rio Grande do Norte, a Secretaria de Saúde disse que aguarda o envio de nova remessa, “que estava para chegar na última sexta-feira [13]”, mas até esta quinta-feira (19) não havia chegado.

A Secretaria de Saúde da Bahia informou que o atraso na entrega “foi provocada pelos fornecedores dos quais o Ministério da Saúde compra o produto e distribui para os Estados.” “Segundo fonte do ministério, o problema estará resolvido até o final da próxima semana”, afirmou.

Já a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas informou que o larvicida foi entregue esta semana, e a partir de segunda-feira (23) começará a ser repassado aos municípios.

No Ceará, a secretaria de Saúde confirmou que há falta de larvicidas em algumas cidades, mas que está sendo feita uma distribuição e sendo orientado um uso racional do produto.

Já a pasta do Maranhão disse que ainda há falta do larvicida. “A previsão dada pelo Ministério da Saúde é que até o dia 25 o abastecimento seja normalizado em 70%, e posteriormente, chegará o restante.”

Sem explicação

Em nota, o Ministério da Saúde não informou o período ou motivo do atraso no envio de larvicidas. Disse apenas que está enviando, neste mês, 20 toneladas do produto, “sendo uma tonelada para Alagoas e cinco para a Bahia.” “Em janeiro do próximo ano, serão enviadas mais 40 toneladas para todo o Brasil”, complementou.

Ainda segundo o ministério, o uso do larvicida é recomendado apenas como “último recurso para eliminação dos focos do mosquito da dengue, quando não é possível remover ou eliminar os criadouros por meios mecânicos ou físicos.”

O ministério afirma ainda que as prefeituras devem priorizar a organização das “ações de rotina que favoreçam o controle larvário por parte da população.” Disse ainda que a população tem papel fundamental na prevenção e controle da dengue, com a adoção de “medidas simples”, como a “eliminação de recipientes que podem acumular água e servir de criadouro para o mosquito Aedes Aegypti.” “Vale ressaltar que 15 minutos por semana são suficientes para que as famílias façam uma vistoria em casa, evitando qualquer situação que possa acumular água parada”, finalizou.

Em outubro, o Ministério da Saúde informou que o país enfrenta, em 2015, a maior epidemia de dengue desde 1990, quando começou a haver o registro dos casos, com 1,4 milhão de doentes.