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Estudo americano avalia que zika pode afetar mais vidas do que ebola

Ricardo Moraes/Reuters
Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Do UOL, em São Paulo

02/03/2016 16h00

Um estudo americano aumentou o alerta sobre o vírus da zika ao afirmar que a doença poderá ser pior do que o mortal ebola, que teve epidemia concentrada em alguns países da África nos últimos dois anos. Em artigo acadêmico publicado na revista Plos (Public Library of Science), cientistas de um grupo de resposta ao surto da zika (movimento com membros de diversas universidades americanas) ressaltam que o novo vírus é mais complexo do que o que assola a África.

A comparação com o ebola é feita na conclusão da tese do grupo. O estudo aponta que o vírus da zika "se apresenta como um desafio muito mais complexo do que o ebola" e também que a nova doença "pode impactar mais vidas". A OMS acredita que 4 milhões de pessoas terão zika só nas Américas.

Para chegar à conclusão, os cientistas lembram que a zika tem efeitos devastadores em fetos – para os responsáveis pelo estudo americano, os indícios da microcefalia já são suficientes para traçar uma relação de casualidade entre o vírus transmitido pelo Aedes aegypti e os problemas neurológicos.

A publicação ainda lembra que a zika é epidêmica em uma região com grande grau de conexão global, diferentemente das nações africanas afetadas pelo ebola. Por isso, os casos se espalharão bastante e rapidamente. Mais do que isso, os cientistas conhecem muito menos este vírus do que o ebola.

"Talvez o maior desafio com a zika será reconhecer pelo o que é: uma nova doença que não se encaixa na epidemiologia e no paradigma de resposta do ebola ou da dengue e que demandará esforço, recursos, colaboração e, acima de tudo, mente aberta em formular respostas"

De maneira geral, a pesquisa publicada na Plos analisa a trajetória e as principais características do vírus da zika por meio de diversos estudos já publicados, entrevistas com agentes de saúde e observações feitas no Brasil.

A zika pegou a comunidade científica de surpresa. Antes considerada uma doença com sintomas leves, agora ela é tratada como uma emergência mundial pela OMS (Organização Mundial de Saúde) pelas fortes evidências de que cause microcefalia em bebês. Cientistas do mundo inteiro têm se debruçado sobre o vírus, que afeta principalmente o território brasileiro.

Pouco ainda se sabe, mas estudos avançam

Várias pesquisas estão sendo desenvolvidas para confirmar a relação causal entre o vírus da zika e os casos de microcefalia e outras alterações neurológicas. Alguns já começaram a ser publicados.

Um estudo feito por pesquisadores do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz Paraná, e divulgado no começo de janeiro mostrou pela primeira vez que o vírus apontado como a principal hipótese para o aumento de casos no país de bebês com microcefalia no país, pode ser capaz de atravessar a placenta durante a gestação.

A análise foi feita a partir de amostras de uma paciente do Nordeste que sofreu um aborto retido -quando o feto deixa de se desenvolver dentro do útero - durante o primeiro trimestre de gravidez. A gestante havia informado ter tido sintomas de zika na sexta semana da gestação.

Os pesquisadores analisaram a placenta da paciente e identificaram a presença do vírus, assim como em células da mãe e do embrião.

Outro levantamento baseado em casos de 35 bebês brasileiros com microcefalia mostrou que 70% das mães de filhos com microcefalia ligada à infecção pelo zika apresentaram vermelhidão entre o primeiro e segundo trimestre de gestação. Das crianças, 71% apresentam microcefalia severa –perímetro cefálico muito reduzido. O estudo foi feito pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA).

Grande quantidade do vírus também foi encontrada no tecido cerebral de um feto com microcefalia de uma mulher eslovena, de 25 anos. O estudo sobre o caso foi publicado no dia 10 de fevereiro e foi feito na Eslovênia. A mulher morava e fazia trabalhos voluntários em Natal (RN) desde 2013 e engravidou em fevereiro de 2015.

A eslovena teve sintomas de infecção por zika na 13ª semana da gestação. Ela retornou à Europa com 28 semanas. Um ultrassom feito na 29º semana mostrou os primeiros sinais das alterações neurológicas, que foram confirmadas na 32ª semana.

Outra investigação feita em bebês nascidos com microcefalia em Salvador (BA) e Recife (PE) mostrou que algumas das crianças também apresentavam lesões oculares que podem levar à cegueira. Os resultados foram publicados na revista Lancet, em janeiro deste ano, e na Jama Ophthalmology, em fevereiro.

Pesquisadores da Fiocruz também publicaram em fevereiro, na Lancet Infectious Diseases, um estudo que mostrou a presença do vírus no líquido amniótico de duas mulheres que tiveram sintomas da doença durante a gravidez e cujos fetos tinham microcefalia. A investigação reforça a teoria de que o vírus pode atravessar a placenta e infectar fetos.

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