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Maria Homem: Remédios viraram 'poções mágicas' que escravizam as mentes

Remédios, alguns tipos de alimentos e drogas ilícitas viraram "poções mágicas" que estão escravizando a mente das pessoas, afirmou a psicanalista Maria Homem em participação no UOL Entrevista na manhã desta quinta-feira (28).

Ela afirmou que esse fenômeno ocorre pelo lobby que indústrias fazem para convencer a sociedade que ela precisa dar conta de todas as tarefas do cotidiano com a manutenção de um estado de bem-estar.

"A indústria farmacêutica, a indústria lícita e ilícita das drogas, é uma das mais fortes do planeta. Não é brincadeira, se você juntar isso à indústria de alimentos e bebidas, que também tem psicotrópicos que te dão algum bem-estar ou mal-estar", disse a especialista.

Tudo isso responde ao mundo que te coloca num lugar de não focado, de impotente, de inapetente, de estar o tempo todo ligado. São sintomas da nossa cultura, que faz a gente ficar prestando atenção em milhões de coisas. Se você tem 8 anos, tem que focar para estudar matemática. Se tem 28, você tem que usar para produzir mais no seu trabalho. Toda essa geração está em algum nível de chapação mental. A gente está fazendo isso. Tivemos uma bolha disso que explodiu com a crise dos opioides nos Estados Unidos. A gente está escravizando as mentes com a maior naturalidade, sem crítica. Isso é gravíssimo, profundo, é um lobby gigantesco. E vai de cerveja, passando por Coca-Cola, até cigarro e tabaco.

Como somos seres um pouco delirantes e imaginários, a gente fala: 'me dá essa poção mágica, me dá esse mito aí, me dá esse salvador'.

O UOL Entrevista foi conduzido pela apresentadora Fabíola Cidral e pelos colunistas Leonardo Sakamoto e Mariana Varella.

Fazer terapia e pedir ajuda não é fraqueza, diz psicanalista

Durante a entrevista, Maria Homem disse que, além da educação cognitiva, a sociedade precisa entender a importância da educação psíquica e do afeto para mudar essa interpretação.

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A educação mental permite que a gente tenha um radar mais ativado sobre a gente mesmo e sobre o outro. A gente vai afinando nossa percepção. A gente precisa saber que não somos só cognição. A gente até agora só estava numa educação cognitiva, maravilhosa. A razão é um bastião profundo do ser humano, mas o afeto também é. E o afeto misturado à cognição faz os grandes.

Então vamos a isso, a uma educação psíquica, sem achar que é fraqueza, sem achar que você é menos, sem achar que você é louco por precisar de terapia, por pedir ajuda, que você é fragilizado, que você vale menos. A vida é difícil mesmo.

Maria Homem: Sociedade cria hiperideal e faz lógica de mundo mais perversa

A psicanalista também afirmou que a sociedade está em um momento de ruptura de paradigma que propõe mais liberdade para as pessoas serem quem querem.

O mundo está numa mudança de paradigma bem mais ampla, do que a gente poderia falar de uma visão de mundo pré-moderna, que era mais estruturada, tinha uma força transcendental, normalmente divina, que ordenava o que era a vida e inclusive o pós-vida, qual era o sentido, os lugares e as missões. A gente está numa fase de transição disso, num derretimento de toda essa lógica, que a gente pode chamar de patriarcal, binária, normativa, calcada na tradição, no conservar o que veio antes.

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Por outro lado, Maria Homem destacou que essa mudança cria hiperideais deixa a sociedade mais sobrecarregada.

A gente está criando hiperideais. Você não tem que ser rico, você é bilionario. Você já fez seu primeiro bilhão? Você tem poder?

O avesso disso é que a modernidade propõe que você seja livre, invente uma história. Mas isso é uma maravilha até a página dois. É uma missão difícil [...] Esse desenhar a sua própria história vem com um ideal muito elevado. A gente está criando hiperideais e uma lógica piramidal muito mais perversa.

Diante de um ideal fálico, esse lugar dourado, idealizado, o ideal de eu, ele é massacrante sobre o eu. Então como você não vai escutar tudo isso quando está diante de seres reais, com dúvidas, questões, interrogações sobre si e falhabilidade?

Assista à íntegra do UOL Entrevista

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