Síndrome da turbina eólica: vizinhos de parques viram alvo de estudo em PE
A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a UPE (Universidade De Pernambuco) deram início a um estudo sobre um problema que pode estar acometendo pessoas que vivem perto de parques de geração de energia. O fenômeno é conhecido pela comunidade científica como síndrome da turbina eólica.
Esse problema é gerado pela exposição aos ruídos e aos infrassons, segundo pesquisadores. Os principais sintomas são os problemas auditivos, no sono, na concentração e aprendizagem, além de tontura, instabilidade e náuseas, além de dores de cabeça.
Outros países já têm essa síndrome como uma doença catalogada no CID [código internacional de doenças], mas no Brasil isso ainda não é reconhecido, não há maiores estudos na área.
Wanessa Gomes, pesquisadora na Fiocruz e professora da UPE
Comunidade reclama
No último dia 10 de maio, a pesquisadora Wanessa Gomes apresentou em um evento promovido pelo Ministério Público Federal, em João Pessoa (PB), dados coletados no sítio Sobradinho, em Caetés (PE), entre março e dezembro de 2023. A cidade onde nasceu o presidente Lula foi uma das primeiras a receber esses empreendimentos e desde 2014 sofre com impactos.
No local, foram mapeadas 83 torres, 105 moradores foram ouvidos. Desses, 57% demonstraram interesse em sair do local.
Motivo apresentado pelos entrevistados para querer sair:
- 70% - eólicas
- 5% clima
- 5% - acesso a saúde
- 20% - Outros ou em branco
No local, diz Wanessa, há casas com distância de apenas cem metros de algumas das torres.
Na comunidade, 60% dos moradores responderam ter algum problema mental:
- 28% estresse
- 20% irritabilidade
- 14% palpitação
- 14% tristeza profunda
- 12% cansaço
- 8% falta de vontade de viver
Projetos antigos têm problemas, diz associação
Representante das empresas do setor, a Abeeólica (Associação Brasileira de Empresas de Energia Eólica) afirma que os projetos aprovados antes de 2014, como é o caso de Sobradinho, "podem, de fato, estar fora de alguns dos parâmetros atualmente estabelecidos pelo Conama, uma vez que à época não existiam."
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberPorém, as empresas atuais gestoras não estão medindo esforços para promover um trabalho constante de mitigação e suporte para a comunidade.
Nota da Abeeólica
Segundo a entidade, as referências usadas nos estudos ambientais que liberaram os parques até dez anos atrás são de 2007 e 2010 e, portanto, "anteriores aos parâmetros estabelecidos pelo Conama e que estão desatualizados em relação à tecnologia atualmente empregada."
Sobre a questão de saúde, a Abeeólica diz que não há ainda estudos que mostrem "impactos na saúde decorrentes da presença de usinas e parques eólicos, é essencial destacar que não existem estudos científicos que comprovem que os parques sejam nocivos à saúde — em qualquer que seja o aspecto.
Mais ações
A pesquisa vai fazer uma análise das informações de moradores no banco da Secretaria de Saúde de Pernambuco. A ideia é levantar o registro de doenças nessas comunidades, antes e depois da instalação do parque, e descobrir se elas podem ter relação com as eólicas.
A partir de julho, o grupo vai fazer uma audição dos ruídos em algumas casas vizinhas a parques, em parceria com um professor da área de fonoaudiologia da Uncisal (Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas). "Vamos fazer uma avaliação das perdas auditivas."
Vamos fazer também entrevistas em duas comunidades de Paranatama e de Venturosa. Ao mesmo tempo, vamos fazer diagnósticos relacionados à saúde mental, à questão do sono também. Temos também mais duas pesquisas de iniciação científica que vão avaliar acometimentos no aparelho cardiovascular.
Wanessa Gomes, pesquisadora
A agricultora Roselma de Melo, 36, é uma das pessoas que integram o estudo. Ela diz que problemas para domir foram os primeiros relacionados ao funciomento da torres. "Aqui era tranquilo, a gente vivia bem sem barulho algum. Depois das eólicas, foi aquele barulho horrível."
No mês de dezembro, depois de dez anos, ela e a família conseguiram receber uma indenização e se mudaram do sítio.
Depois foi começando o problema de audição, ansiedade, depressão. Tudo isso foi se agravando: quem tomava medicamentos aumentou tudo; e quem não tomava passou a tomar.
Desde o começo a gente sabia que, ou a gente saia, ou as eólicas saiam, porque estava insustentável. Onde tem eólica, não tem como ser humano viver bem. É um impacto muito forte não só na saúde dos seres humanos, mas de animais também.
Roselma de Melo, ex-vizinha de parque eólico
Deixe seu comentário