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Chefe do Banco Mundial diz que nenhum país está livre de problemas sociais como no Brasil

O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim - Alex Wong/Getty Images - 23.jul.2012
O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim Imagem: Alex Wong/Getty Images - 23.jul.2012

Em Washington

28/06/2013 15h02

O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, afirmou, em entrevista exclusiva à AFP, que nenhum país está livre de manifestações sociais como as ocorridas no Brasil ou na Turquia, e negou que exista uma fragilização dos grandes países emergentes.

Há um ano à frente da organização, este médico e acadêmico americano, tem acompanhado de perto as manifestações nos grandes países emergentes, que impulsionaram o crescimento mundial nos últimas anos, superando os Estados Unidos e a Europa.

"Nenhum país está livre deste tipo de movimentos de cidadãos, que se mobilizam para pedir mais", declarou Kim, de 53 anos, instalado em sua sala em Washington, onde se encontra o centro de comando da instituição.

Para o "Dr. Kim", o Brasil, assim como a Turquia, definitivamente "fez muito para redistribuir os créditos do crescimento, mas ainda subsistem muitas desigualdades".

"O Brasil tem de refletir profundamente sobre o que fazer para iniciar uma nova etapa de crescimento econômico", aconselhou.

Por outro lado, Kim rejeitou a ideia de que os países emergentes estejam no final de um ciclo de expansão, depois de terem impulsionado o crescimento mundial, mesmo que a China tenha registrado indícios de uma desaceleração de sua economia.

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"Haverá altos e baixos, mas é importante não reagir desproporcionalmente ante estas oscilações", declarou Kim.

O chefe do Banco Mundial tem outras ideias em mente, e destacou seu grande projeto de erradicar a pobreza extrema até 2030. "Ainda existem 1,2 bilhão de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia e isso é uma mancha em nossa consciência coletiva", lembrou.

"Esses objetivos nos colocam diante de um imperativo urgente que não enfrentamos ainda", considerou, acrescentando que nenhum país "deve ser esquecido" na luta contra a pobreza, principalmente o Mali e os Estados do Sahel, na África.

Mas um outro desafio se impõe: o Banco Mundial soou o alarme sobre os perigos do aquecimento global, e precisa analisar os meios de apoiar o crescimento econômico sem provocar o aumento das emissões de CO2.

Para tanto, existem pistas, assegura Kim, que cita pequenas centrais de energia solar ou eólicas no continente africano. O desenvolvimento da agricultura também deve ser estimulado porque é a única atividade que permite "devolver o carbono" para a terra, segundo ele.
 

Mas Kim é realista. "Ainda é impossível orientar as ações em vista de um mundo sem energias fósseis", assegurou, acrescentando que os países emergentes não aceitariam as consequências.

Esses países "não emitiram muito carbono, mas seriam privados de energia porque nós, países ricos, jogamos muito carbono na atmosfera. É inaceitável para eles", disse.


Essas não são as únicas preocupações deste médico de origem sul-coreana, que chegou aos Estados Unidos aos 5 anos de idade. Uma discussão sobre o peso dos países emergentes no Banco Mundial deverá acontecer "em alguns anos", admite.

"Os debates serão tensos", acredita.

Mais discretamente, Jim Yong Kim também lançou uma reflexão para erradicar "a cultura do medo" que reina no Banco Mundial, segundo ele.

De acordo com o seu diagnóstico, alguns dos 10.000 funcionários da instituição estariam travados por "um medo de arriscar", que inviabiliza qualquer ação e iniciativa.

"O desenvolvimento é um trabalho arriscado", clama Kim. "Nós devemos modificar a nossa cultura do medo da derrota e adotar uma cultura onde nós faremos tudo para atingir resultados, sabendo que sofreremos derrotas", declarou.

"O maior risco seria não tomar nenhum risco", concluiu.