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Delator cita propina de 1% ao PMDB e a dirigentes da Eletronuclear em Angra3

Em Curitiba e São Paulo

01/07/2015 12h14

O executivo Dalton Avancini, ex-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, declarou à força-tarefa da Operação Lava Jato que em agosto de 2014 houve "uma reunião na empresa UTC", em São Paulo, em que "foi comentado que havia certos compromissos do pagamento de propinas ao PMDB no montante de 1% e a dirigentes da Eletronuclear". Os repasses teriam sido acertados no âmbito das obras de Angra 3.

As revelações de Avancini foram feitas dia 12 de março em delação premiada que ele firmou com a força-tarefa da Lava Jato. Dois termos da colaboração do executivo foram juntados aos autos pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações sobre desvios e cartel na Petrobras. Ao enviar ao TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) informações em habeas corpus impetrado por um alvo da Erga Omnes --a mais nova etapa da Lava Jato--, o juiz assinalou que "há provas" de que o esquema que provocou um rombo estimado em R$ 6 bilhões na estatal petrolífera foi "reproduzido" em outras áreas do governo.

Em sua delação, Avancini diz não saber se a reunião na UTC ocorreu por iniciativa de Ricardo Pessoa ou de Antonio Carlos Miranda. Presidente da UTC Engenharia, Pessoa também fez delação premiada e apontou os nomes de pelo menos 18 políticos supostamente beneficiários de recursos do cartel. O empreiteiro declarou à Procuradoria-Geral da República que repassou R$ 7,5 milhões para a campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência, em 2010.

Naquela reunião, destacou o delator, foram "tratados alguns aspectos técnicos desse contrato, bem como o cronograma de execução, haja vista que a própria Andrade Gutierrez já havia reportado que atrasos na área civil iria repercutir no descumprimento de prazos do novo contrato".

O delator citou um executivo, Luiz Carlos Martins, segundo ele também da Camargo Corrêa. Avancini disse que "cogitou-se da necessidade de contratação de uma empresa para dar cobertura legal ao pagamento da propina, sendo definido que caso isso fosse feito ficaria a cargo de Luis Carlos e de Miranda (da UTC) tratar desse assunto".

A transcrição do relato de Dalton Avancini. "Que nessa reunião estavam presentes pela Andrade Gutierrez, Flávio Barra, pela Techint Ricardo Ourique, pela Camargo o declarante, pela UTC, Ricardo Pessoa, pela Odebrecht, Fabio Gandolfo, o qual segundo sabe estaria tratando pela primeira vez acerca do assunto, pela EBE um executivo de nome Renato, segundo recorda e pela Queiroz Galvão o seu presidente de nome Petronio; que, observa que na sua caixa de e-mails existe uma mensagem eletrônica datada de 26/08/2014 enviada pela UTC onde consta a convocação para a mencionada reunião, ocorrida na sede da última empresa; que não sabe se efetivamente houve algum pagamento de propina ou a promessa de pagamento a alguém em especial, eis que no mês de setembro de 2014 acabou sendo detido e se encontra desde então na custodia desta Superintendência da Polícia Federal no Paraná." A Eletronuclear não respondeu ao contato da reportagem até o fechamento da matéria.

Defesa do PMDB

O PMDB repudia todas acusações de pagamento de propina ao partido. E jamais autorizou qualquer pessoa a usar o nome da legenda para cobrar valores ou realizar intermediações entre empresas estatais e órgãos de governo.

Defesa Andrade Gutierrez

"A Andrade Gutierrez vem sendo consultada com frequência sobre informações contidas em documentos a que não teve acesso e esclarece que não se manifestará sobre tais conteúdos. No entanto, a companhia reitera que nunca participou de formação de cartel ou fraude em licitações, assim como nunca fez qualquer tipo de pagamento indevido a quem quer que seja, nem participou de esquemas ilícitos de favorecimento a políticos. Como vem fazendo desde o início da Operação Lava Jato, a Andrade Gutierrez reafirma que não tem ou teve envolvimento com os fatos hoje investigados e vem mais uma vez repudiar as acusações feitas à empresa."

Defesa da Odebrecht

"A Construtora Norberto Odebrecht nunca participou de oferecimento ou pagamento de propina em contratos com qualquer cliente público ou privado, o que obviamente inclui as obras de Angra3 e Belo Monte, portanto não reconhece como verdadeiras as afirmações do criminoso colaborador que, visando obter a sua liberdade, em razão de prisão preventiva, não tem qualquer compromisso com a verdade. Aliás, o próprio Juiz, no despacho que homologou a delação premiada de Dalton Avancini, alertou que o conteúdo dos depoimentos prestados é "de questionável valor para a Justiça Criminal".

Defesa da Camargo Corrêa

"A Construtora Camargo Corrêa reitera que está colaborando com as investigações ainda em curso e desenvolve esforços para sanar irregularidades e aprimorar sua governança corporativa."

Defesa da Queiroz Galvão

"A Queiroz Galvão acredita firmemente na idoneidade de todos os seus executivos e reafirma seu compromisso com a ética e a transparência. A companhia nega veementemente qualquer pagamento ilícito a agentes públicos para obtenção de contratos ou vantagens e reitera que todas as suas atividades seguem rigorosamente à legislação vigente".

Defesa da UTC

A UTC Engenharia não vai se pronunciar.