Corte de emissões precisa ser 25% maior para conter aquecimento a menos de 2°C
O dado consta do Gap Report, relatório feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que todo ano mede a lacuna entre as ações que a humanidade está tomando para diminuir a quantidade de gases que é lançada na atmosfera e o quanto de fato precisaria estar sendo feito a fim limitar a elevação da temperatura do planeta suba a menos de 2°C até o final do século.
O cálculo leva em conta estudos que estimam qual é o máximo de gases como CO2 (dióxido de carbono) e CH4 (metano) que os países poderiam estar emitindo naquele ano para ser compatível com essa temperatura. Esses gases, capazes de aprisionar o calor na Terra, se acumulam na atmosfera e levam muitos anos para se dissiparem.
No caso do CO2, estamos falando de até mil anos. Como atualmente já vivemos com a maior concentração deles em milhares de anos, as emissões têm de cair drasticamente para evitar os piores danos das mudanças climáticas, como tempestades mais intensas, secas mais prolongadas e um maior aumento do nível do mar.
Pela conta, em 2030 todos os países juntos deveriam emitir no máximo 42 gigatoneladas de CO2 equivalente (a soma de todos os gases de efeito estufa convertidos em dióxido de carbono), mas considerando o ritmo de ações atuais e os compromissos assumidos pelos países junto ao Acordo de Paris, a emissão do mundo estará entre 54 e 56 gigatoneladas.
Para se ter uma ideia, estima-se que o Brasil inteiro tenha emitido no ano passado quase 2 gigatoneladas de CO2 equivalente.
De acordo com o relatório, com essa quantidade mundial de emissões, a temperatura subiria de 2,9°C a 3,4°C até 2100, na comparação com os valores pré-Revolução Industrial.
O Acordo de Paris, que entra em vigor nesta sexta-feira, 4, um mês depois de ter atingido os parâmetros mínimos de adesão (55 países representando 55% das emissões), prevê esforços para limitar o aquecimento a menos de 2°C até o final do século, com tentativa de ficar em 1,5°C. Mas não foi imposto aos países um limite de emissões. Cada um falou com quanto pode contribuir para esse fim, mas é aí que a conta não fecha.
O alerta que o Pnuma e outros grupos científicos que se debruçaram sobre esses compromissos das nações vem fazendo desde que eles foram apresentados no ano passado é que é preciso aumentar a ambição. Ou depois serão necessárias tecnologias muito avançadas, a um custo muito elevado, para tirar carbono da atmosfera.
Para o diretor do Pnuma, Erik Solheim, o Acordo de Paris retardará a mudança do clima, assim como o fará a recente emenda adotada em Kigali para reduzir os hidrofluorcarbonos (HFC), mas isso não é suficiente.
"Se não começarmos a tomar medidas adicionais hoje mesmo, começando pela próxima reunião do clima, que será realizada em Marrakesh, deveremos lamentar uma tragédia humana que é evitável. O crescente número de refugiados do clima afetados por fome, pobreza, doenças e conflitos será um lembrete constante de nosso fracasso. A ciência nos diz que temos de avançar muito mais rápido", declarou, em nota à imprensa.
Na próxima segunda-feira, 7, começa em Marrakesh a 22ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP), que vai abrir os trabalhos para a implementação do Acordo de Paris, fechado em dezembro do ano passado. Até o momento, 94 países, das 197 partes que assinaram o acordo, já o ratificaram. Entre eles estão os maiores emissores do mundo - China e Estados Unidos - e também países que têm uma colaboração importante para o problema, como Brasil.
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