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Alta dos preços e retenção de salários geram protestos na Cisjordânia

10/09/2012 11h08

A alta dos preços de produtos importados de Israel e o buraco no orçamento deixado por países doadores mergulharam a Cisjordânia em uma crise que ameaça o funcionamento da Autoridade Palestina e começou a provocar ondas de protestos no território palestino.

Nesta segunda-feira, os alunos das escolas palestinas não puderam ir às escolas e os funcionários não puderam chegar a seus locais de trabalho em decorrência de uma greve geral dos transportes públicos na Cisjordânia, em protesto contra a alta do preço da gasolina.

Empresas de transporte de cargas também aderiram à greve posicionando caminhões nas principais rodovias da Cisjordânia, impedindo a circulação de veículos entre o norte e o sul da região.

Os protestos, que começaram na semana passada, vêm aumentando e se espalhando por todas as cidades do território palestino.

O estopim foi a alta do preço da gasolina anunciada pela Autoridade Palestina, que governa o território, depois que Israel decretou o aumento dos preços há uma semana.

Salários

A grande maioria das mercadorias importadas que chegam à Cisjordânia vem de Israel. Os preços pagos pelos palestinos são semelhantes aos pagos pela população israelense, embora o salário médio nos territórios palestinos seja de cerca um quinto do salário médio em Israel.

Para agravar ainda mais a situação, o primeiro-ministro palestino, Salam Fayad, anunciou que a Autoridade Palestina não poderá pagar os salários de agosto dos funcionários públicos.

A Autoridade Palestina se viu obrigada a reter salários em decorrência da redução dos recursos transferidos - bem aquém dos prometidos - por países doadores.

De acordo com as últimas informações, os funcionários públicos palestinos receberão apenas metade de seus salários pelo mês de agosto e não se sabe o que acontecerá com os salários de setembro.

Durante os protestos na Cisjordânia, os manifestantes exigem a demissão de Fayad, a quem atribuem a responsabilidade pela situação econômica.

No entanto, palestinos ouvidos pela BBC Brasil atribuem a maior parte da responsabilidade pela situação na Cisjordânia à ocupação israelense.

"A Autoridade Palestina não pode resolver nossos problemas econômicos", disse à BBC Brasil o analista Jad Ishaq, diretor do Instituto de Pesquisa Sócio-econômica de Belém.

De acordo com Ishaq, "não se pode separar a situação econômica do impasse político e não vemos uma luz no fim do túnel".

"A colonização israelense rouba nossos recursos naturais, controla todas as nossas fronteiras e impõe um monopólio de produtos israelenses ao nosso mercado", afirmou.

Segundo o ministério da Fazenda da Autoridade Palestina, as perdas anuais sofridas pela economia palestina em decorrência da ocupação israelense são de cerca de US$ 7 bilhões.

Hamas e Egito

Para Ishaq, a crise econômica fortalece o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza e enfraquece o grupo secular Fatah, que controla a Autoridade Palestina na Cisjordânia.

Na Faixa de Gaza, o Hamas anunciou uma redução do preço da gasolina, que é importada do Egito, de 4,1 shekels (cerca de R$ 2) para 3,9 shekels.

Diferentemente do regime egípcio anterior, do ex-presidente Hosni Mubarak, o novo governo, liderado pelo presidente Mohammed Mursi, tem intensificado as relações econômicas com a Faixa de Gaza, permitindo a exportação de gasolina e de outros produtos - o que antes era impossível por causa da colaboração de Mubarak com o bloqueio imposto à Faixa de Gaza por Israel.

Já na Cisjordânia o preço subiu para 8 shekels - cerca de R$ 4 por litro.

Para o ativista Bassem Tamimi, "se a Autoridade Palestina não pode resolver nossos problemas, deveria se dissolver".

"A Autoridade Palestina perde sua legitimidade se não consegue obter um acordo para pôr um fim à ocupação israelense e nem melhorar as condições de vida da população palestina", disse Tamimi à BBC Brasil.

"A situação política e econômica está ficando insuportável e esse pode ser o início de uma terceira Intifada", acrescentou.