Adolescentes japoneses se inspiram em execuções do 'EI' e geram debate sobre censura nas redes
O assassinato de um adolescente, possivelmente inspirado nos vídeos de execução de reféns do grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI), chocou o Japão e gerou um debate sobre o conteúdo que deve estar acessível à crianças nas redes sociais.
Ryota Uemura, de 13 anos, foi encontrado nu e sem vida no dia 20 de fevereiro, perto de um rio na cidade de Kawasaki, na grande Tóquio. Três jovens, com idades entre 17 e 18 anos, foram detidos na semana passada.
Os adolescentes foram registrados por uma câmera de segurança. Nas imagens, eles aparecem levando Ryota para o local do crime e voltando sem ele.
Vários cortes no pescoço provocados por uma navalha evidenciaram que o assassino confesso, um jovem de 18 anos, líder de uma gangue local, tentou decapitar o garoto, ao estilo dos jihadistas.
"Os investigadores suspeitam que (os criminosos) assistiram aos vídeos que mostram a execução de reféns do grupo Estado Islâmico e tentaram imitar", escreveu a revista popular Shukan Shincho.
Repercussão
O caso ganhou repercussão no Japão por causa das recentes mortes de dois japoneses que eram reféns do "EI" na Síria.
Haruna Yukawa e Kenji Goto foram decapitados no começo deste ano, e as cenas se espalharam rapidamente pelas redes sociais no Japão.
Desde a semana passada, programas de tevê e revistas vêm dedicando um grande espaço para falar de bullying e de censura nas redes sociais.
No site 2channel, um debate acalorado mostrou a revolta dos internautas. "A mídia deveria ser culpada por deixá-los (os jovens) serem influenciados pelo 'EI'", escreveu um leitor.
O primeiro-ministro Shinzo Abe chegou a mencionar o caso durante uma seção no Parlamento, uma atitude muito rara.
Abe disse que não consegue entender como este tipo de coisa pode acontecer e lembrou que é responsabilidade dos adultos protegerem as crianças.
O primeiro-ministro prometeu que o governo estudará a adoção de medidas para melhorar a cooperação entre as escolas, a assistência social às famílias e a polícia.
Bullying recorrente
Decapitação de reféns japoneses pelo 'Estado Islâmico' repercutiu nas redes sociais no país
Ryota vinha sofrendo bullying desde novembro do ano passado, quando passou a andar com um grupo de estudantes.
Pessoas próximas disseram que o garoto apanhava dos colegas caso não cumprisse ordens, como praticar pequenos furtos.
Ele chegou a aparecer na escola com hematomas pelo corpo e não assistia às aulas desde janeiro.
No dia do crime, Ryota foi levado para perto do rio para ser punido por ter falado sobre o bullying que vinha sofrendo para outras pessoas.
Dois dos menores que estavam no local contaram que o líder da gangue disse que queria ficar sozinho com a vítima e os mandou se afastarem.
Quando voltaram, viram que Ryota estava nu – ele foi obrigado a nadar no rio de águas geladas – e ferido. Tentaram ajudar, mas foram ameaçados pelo líder.
Tiveram de queimar as roupas do garoto e o largaram sangrando sozinho.
Arrependimento
Um dia após o crime, um dos garotos de 17 anos mostrou arrependimento numa rede social. "Por que isto teve que acontecer? Sinto muito. Parece que a culpa é minha", escreveu.
A escola disse que chegou a enviar um professor até a casa do aluno por cinco vezes, mas ele não teria conseguido falar com o menino ou com os pais em nenhuma das tentativas.
Ryota morava com a mãe em um apartamento em Kawasaki, para onde se mudaram em julho do ano passado. Antes disso, ele vivia em uma ilha no sul do Japão, onde o pai trabalha como pescador.
"Educadores, funcionários do governo local e policiais precisam refletir profundamente sobre o que poderia ter sido feito para evitar a morte de (Ryota) Uemura, e o que deve ser feito para evitar crimes semelhantes no futuro", escreveu o editorial do jornal The Japan Times.
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