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As cidades vão às ruas: em vários países, cidadãos se mobilizam para melhorar o espaço urbano

21/05/2015 18h26

Em meio às ruas movimentadas da região de Kreuzberg, em uma área próxima a um trecho do antigo muro de Berlim, um terreno do tamanho de um campo de futebol funciona como uma fazenda urbana no coração da capital alemã.

Mas nem sempre o local foi assim. Há cinco anos, o terreno pertencente à prefeitura estava abandonado quando Robert Shaw, da ONG Nomadic Green, convocou moradores da região e voluntários para recuperá-lo.

Assim nasceu o Prinzessinnen-Gärten (Jardim das Princesas, em alemão), uma das diversas ações que vêm sendo realizadas por cidadãos para melhorar os espaços públicos em cidades ao redor do mundo.

O mesmo vem ocorrendo em anos recentes em cidades do Brasil, como São Paulo, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, onde coletivos de arte, música, design ou arquitetura realizam intervenções na paisagem urbana.

Projetos assim também podem ser encontrados na Europa, nos Estados Unidos e em outros países da América Latina.

Alguns são temporários, mas podem ser recorrentes. Outros têm caráter permanente. Todos buscam tornar metrópoles menos áridas e, assim, trazer a população de volta para as ruas ao incentivar a convivência em público.

A seguir, conheça algumas destas iniciativas:

BERLIM, Alemanha

Quando Robert Shaw foi a Cuba, ficou em sua memória o costume de moradores de alguns bairros da capital Havana de criar plantações urbanas. Ao voltar para casa, pensou se o mesmo não poderia ser feito na capital da Alemanha - e concretizou seu projeto em um terreno público sem uso até então.

Hoje, por trás das cercas cobertas por trepadeiras do Prinzessinnen-Gärten, há ervas, verduras, legumes e hortaliças. Qualquer um pode ajudar a mantê-lo, e é possível comprar produtos orgânicos cultivados nele, além de participar de oficinas ou simplesmente tomar um café rodeado pelo verde.

O efeito na região foi claro. Novas lojas e estabelecimentos comerciais abriram no entorno da plantação, e as propriedades próximas se valorizaram com a recuperação do local.

Em 2012, o projeto quase foi despejado, quando a prefeitura indicou que venderia a área, mas as autoridades voltaram atrás depois de um abaixo-assinado contra a medida reunir 30 mil assinaturas.

DALLAS, Estados Unidos

Em 2010, líderes comunitários, vizinhos e donos de propriedades em um quarteirão de Oak Cliff, em Dallas, no Texas, se reuniram para pensar como poderiam melhorar uma rua desta área degradada da cidade.

Com a ajuda de voluntários e menos de US$ 1 mil, foram instaladas ali ciclovias, bancos, árvores, canteiros de flores, lojas temporárias e nova iluminação. A ação deu tão certo que a prefeitura entrou em contato com o grupo para que o mesmo fosse feito em outras áreas da cidade.

Ao mesmo tempo, eles decidiram compartilhar sua experiência e conhecimento pela internet, criando o projeto The Better Block. Desde então, a iniciativa já foi replicada em mais de 80 cidades nos Estados Unidos, Canadá e Austrália.

LONDRES, Reino Unido

A jardinagem sempre foi uma paixão do britânico Richard Reynolds. Ele cresceu com sua família no interior, mas, ao se mudar para Londres no fim dos anos 1990 para trabalhar com propaganda, se viu rodeado por poucas áreas verdes.

Isso o levou a hobby incomum: ser um jardineiro de guerrilha. A partir de 2004, passou a sair de casa à noite para recuperar canteiros da região de Elephant and Castle, onde vivia.

Por meio da internet, sua iniciativa chamou a atenção de outras pessoas ao redor do mundo e foi transformada na organização Guerilla Gardening, que estimula a realização de ações semelhantes, que já foram colocadas em prática em cidades de mais de 30 países.

SANTIAGO, Chile

A partir do dia 25 de maio, as ruas da região central de Santiago do Chile serão tomadas de assalto por intervenções artísticas e culturais durante seis dias, como já virou costume na capital chilena desde 2012.

Naquele ano, foi realizada a primeira edição do festival Hecho en Casa, criado pelo publicitário Felipe Ziegers, do coletivo Grupo Grifo, que atua há 12 anos realizando ações no país e em outras cidades do mundo. Sua inspiração veio de um festival semelhante que ocorre no Equador.

O objetivo dos organizadores é fazer com que a população "sinta-se como se estivesse em casa" ao ir para a rua. Desta forma, querem estimular o moradores de Santiago a percorrerem o Centro para conhecer as obras e, assim, movimentar os espaços públicos da cidade.

MADRI, Espanha

Premiado na categoria comunidades no Festival Ars Electronica em 2013, na Áustria, o projeto El Campo de Cebada nasceu a partir de um problema: um ginásio poliesportivo havia sido demolido para dar lugar a um mercado, que nunca chegou a ser construído.

Diante da área abandonada, moradores do bairro La Latina, na região central da capital espanhola, ocuparam o terreno há cinco anos e criaram nele um espaço de convivência pública, com jardins, bancos, um anfiteatro, uma quadra de esportes e atividades culturais gratuitas.

Desde então, a dona da área decidiu transferir sua propriedade para a Federação Nacional de Associações de Vizinhos de Madri "para que pertencesse ao maior número de pessoas possível".

SAN FRANCISCO, Estados Unidos

E se uma única vaga de estacionamento fosse transformada temporariamente em um parque? Deste questionamento, surgiu em 2005 o projeto Park(ing) Day, criado pelo estúdio de design Rebar, de San Francisco.

A proposta da ação era gerar um debate público sobre a necessidade de serem criados espaços de convivência em áreas urbanas e, assim, melhorar a qualidade de vida de seus moradores.

A ação fez sucesso na internet e gerou pedidos para que a empresa realizasse algo semelhante em outras cidades. Por isso, o estúdio lançou um manifesto, disponibilizou um manual pela internet e passou a organizar um festival anual, na última sexta-feira de setembro, em que ações simultâneas são estimuladas ao redor do mundo.

TORONTO, Canadá

Uma lei de 2005 da Província de Ontário determinou que lojas e outros endereços comerciais da cidade deveriam ser acessíveis para pessoas com deficiência, mas também estabeleceu um prazo até 2025 para que se adaptassem a isso.

Frustrados, Luke Anderson e Michael Hopkins, dois moradores de Toronto, decidiram que era tempo demais para esperar e reuniram voluntários para construir e instalar 400 rampas de acessibilidade com o projeto StopGap.

Seus criadores admitem que a rampa não resolve totalmente o problema, pois as áreas internas dos estabelecimentos muitas vezes não são adaptadas para pessoas com deficiência. Mas acreditam ser um ponto de partida para que as pessoas pensem em como tornar todos os espaços da cidade mais inclusivos.

CARACAS, Venezuela

Depois de realizar uma pesquisa sobre a violência nos "barrios", como são conhecidas as áreas mais pobres de Caracas, o arquiteto Joel Valencia decidiu usar a ioga como ferramenta de combate à criminalidade.

Ele começou por Petare, uma das maiores favelas da América Latina, mas já levou a iniciativa para outras regiões carentes da capital venezuelana, como Julián Blanco, La Bombilla e José Félix Ribas.

No início, havia apenas cinco colaboradores. Hoje, a equipe é formada por cerca de 200, além de 70 professores voluntários, que usam as aulas de ioga e outras atividades, como eventos culturais e oficinas, para recuperar as áreas públicas destas comunidades.

Desde 2013, foram atingidas mais de 5 mil pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos. Deste total, algumas centenas vieram de outras regiões da cidade para participar - e cerca de 80% delas disseram nunca ter estado em um "barrio" antes, segundo Valencia.