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Gatos acrobatas conquistam fãs em turnê de ônibus pelos EUA

Amazing Animals/Divulgação
Imagem: Amazing Animals/Divulgação

Alessandra Corrêa

De Winston-Salem, para a BBC Brasil

03/08/2015 17h08

Nas apresentações dos Amazing Acro-Cats ("Incríveis Acro-Gatos", em tradução livre), nem tudo costuma sair como planejado.

Não são raras as vezes em que as estrelas do show desistem de seguir o roteiro e decidem simplesmente passear na plateia.

O espectadores, porém, em vez de reclamar desses momentos de rebeldia, respondem com mais aplausos e entusiasmo.

"Eu nunca sei o que eles vão fazer. Eles não são muito confiáveis", conta, rindo, Samantha Martin, a líder do grupo de 14 gatos acrobatas que percorre os EUA a bordo de um ônibus.

"Às vezes eles fazem todos os truques em casa, quando ninguém está vendo, e fazem tudo perfeitamente nos ensaios, quando também não há ninguém vendo. Mas quando o público chega, eles mudam de ideia e resolvem fazer outra coisa", diz Samantha à BBC Brasil.

"Um espetáculo nunca é igual ao outro", afirma a líder da trupe, que acaba de encerrar uma temporada em Nova York e está na estrada a caminho de Portland, no Estado do Maine, para uma nova série de apresentações.

Mas apesar de um ou outro desvio no script, os gatos de Samantha são artistas tarimbados, que ao longo de uma hora se revezam no palco em truques como saltar por entre argolas, se equilibrar na corda bamba, empurrar um carrinho ou andar de skate.

O ponto alto é a banda Rock Cats, liderada pela gata Tuna, de 13 anos, na qual os seis integrantes felinos "fingem" tocar guitarra, bateria, teclado e outros instrumentos em miniatura (na verdade, eles só produzem alguns "barulhos" com os instrumentos).

Ratos e galinhas

Samantha criou os Acro-Cats há 10 anos, mas sua vocação para treinar animais vem da infância.

"Aos sete anos de idade eu já sabia que queria ser treinadora de animais. Aos 10, comecei a treinar o cão da família", recorda. "Isso se transformou em meu dom especial."

A vocação foi aperfeiçoada com estudos de comportamento animal e uma temporada de trabalho em um zoológico.

Sua primeira empreitada artística foi com um grupo de ratos treinados para fazer acrobacias.

Durante um período também treinou uma trupe de aves, em que as estrelas eram galinhas e patos.

Por volta de 2005 resolveu se dedicar aos gatos. "Gatos são notórios por serem impossíveis de treinar, mas eu sei que você pode treinar qualquer animal", diz.

Recompensa

Ela usa uma técnica de treino que envolve uma recompensa positiva cada vez que o animal acerta, como um petisco. Eles jamais são punidos.

"É como um jogo para eles, no qual tentam adivinhar o que você quer deles e, em troca, ganham um petisco cada vez que adivinham", compara.

Samantha diz que alguns truques são aprendidos em questão de minutos, outros levam alguns dias ou semanas.

Para ser um Acro-Cat o gato tem de começar a ser treinado com no máximo quatro meses de idade.

"Um gato já adulto, sem experiência de vida na estrada, teria dificuldade de se adaptar, seria cruel", afirma.

Samantha diz que o treino é um ótimo estímulo mental para os gatos.

"Muitas vezes gatos que têm problema de comportamento estão simplesmente entediados", acredita.

"Se você fizer uma pequena rotina de treinos, eles terão como extravasar toda essa energia. Dez minutos por dia já fazem uma grande diferença na vida do gato."

Ambiente

O uso de animais em circos costuma gerar polêmica. Outros espetáculos que utilizam gatos já foram criticados no passado pela maneira com que os animais eram tratados.

Os gatos treinados por Samantha não sofrem qualquer tipo de abuso. Mas alguns especialistas questionam os impactos que a vida no palco tem sobre os animais, mesmo quando bem tratados.

"Eu particularmente acho um uso inadequado dos animais", disse à BBC Brasil a veterinária Ceres Berger Faraco, representante da Comissão de Ética, Bioética e Bem Estar Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária do Brasil.

Segundo a veterinária, gatos não costumam gostar de ambientes ruidosos, com cheiros, luzes e vozes diferentes, como o dos espetáculos.

"Não é o ambiente adequado para eles. É uma exposição no mínimo desnecessária. Acho difícil acreditar que esses animais realmente desfrutem disso", diz.

Ela também afirma que o treino não deve ser tentado em casa, por pessoas sem habilitação para usar a técnica.

Em vez disso, recomenda que os donos brinquem com seus gatos e ofereçam oportunidades para que eles se exercitem física e mentalmente.

Adoção

Samantha diz que os filhotes se adaptam facilmente e logo já estão acostumados e à vontade no palco.

Ela ressalta ainda que os gatos têm bastante espaço para se exercitar no ônibus e nos locais por onde a turnê passa. Quando não estão na estrada, os gatos vivem com ela, em Chicago.

Alguns dos Acro-Cats também mantêm uma carreira paralela de estrelas de comerciais de TV.

Além dos 14 Acro-Cats, que são seus animais de estimação, Samantha também treina gatinhos abandonados que encontra pelo caminho e que são posteriormente oferecidos para adoção.

Segundo ela, um rápido treinamento básico já resolve os problemas de comportamento mais comuns e facilita a adoção dos filhotes abandonados.

Até encontrarem uma família, eles viajam no ônibus com os Acro-Cats, Samantha e suas assistentes.

Desde 2009, mais de 150 gatos foram treinados por Samantha e sua equipe e encontraram um lar permanente.