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Por que o Nobel da Paz premiou o 'caso de sucesso' da Primavera Árabe

Representantes do Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia dão entrevistas após anúncio do Prêmio Nobel da Paz, em Túnis - Adel Ezzine/Xinhua
Representantes do Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia dão entrevistas após anúncio do Prêmio Nobel da Paz, em Túnis Imagem: Adel Ezzine/Xinhua

09/10/2015 13h07

Surpreendente para muitos, a escolha do pouco conhecido Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia para receber o Prêmio Nobel da Paz de 2015 na verdade foi o reconhecimento por uma conquista bem mais aparente: primeiro palco da chamada Primavera Árabe, a onda de protestos que em janeiro de 2011 varreu alguns países do norte da África e do Oriente Médio, a Tunísia é o único bom exemplo em meio a um cenário de caos.

Foi na Tunísia que o vendedor de frutas Mohamed Bouazizi ateou fogo ao próprio corpo em 2011, ao não conseguir permissão para regularizar sua banca de venda de frutas. Essa foi essa fagulha que deu início a uma série de protestos contra regimes ditatoriais no Oriente Médio e norte da África.

Ao contrário de vizinhos como Egito e a Líbia, hoje mergulhados em problemas políticos ou sob a ameaça mais significativa do extremismo político-religioso, a Tunísia alcançou um nível de estabilidade em sua transição para uma democracia, quatro anos depois dos eventos que levaram à renúncia de Zine El Abidine Ben Ali, o presidente que durante mais de uma década tinha governado o país com mão de ferro.

Ainda que nos últimos meses o país tenha sido alvo de atentados tanto contra seu Parlamento quanto um em um de seus balneários turísticos (em junho, quando mais de 30 estrangeiros foram mortos a tiros por um militante islâmico em Sousse), a Tunísia conseguiu frear o que parecia uma descida rumo à anarquia em 2013.

Analistas internacionais viram o país à beira de uma guerra civil. Mas a coalizão de lideranças sindicais, empresários, advogados e ativistas de direitos humanos conseguiu intermediar um diálogo entre o governo, liderado pelo partido islamista Ennahda, e a principal força de oposição, o Nidaa Tounes.

A Tunísia aprovou uma nova Constituição e, no ano passado, realizou sua segunda eleição geral desde a queda de Ben Ali.

Enquanto isso, o Egito teve um golpe militar que derrubou o presidente islamita Mohammed Morsi, a Líbia está fragmentada e se tornou um local de atuação de grupos extremistas como o autodenominado "Estado Islâmico". Iêmen e Síria estão mergulhados em guerra civil.

'Avanço da paz'

O perigo do extremismo ainda ronda a Tunísia, sobretudo por conta das infiltrações de militantes baseados na Líbia.

"Mas o quarteto possibilitou o avanço do processo de paz. Vivíamos uma crise política que poderia facilmente se transformar em guerra civil. Temos a esperança de que o prêmio não seja algo apenas simbólico para a Tunísia", disse Amna Guellalli, diretora da ONG Human Rights Watch no país.

"O quarteto foi formado em 2013, quando o processo de democratização estava em perigo de colapso, como resultado de assassinatos políticos e amplos distúrbios sociais", disse o comitê do Nobel em comunicado nesta sexta. "Estabeleceu-se como uma alternativa, um processo político pacífico em um momento em que o país estava à beira da guerra civil."

Ao mesmo tempo, diz o comitê, em outros países do norte africano e do Oriente Médio, "a luta pela democracia e por direitos fundamentais está estagnada ou sofreu revezes".

Mas, e politicamente o país está mais estável, a economia não seguiu o mesmo ritmo.

Embora tenha projeções de crescimento de 3,7% para 2015, a Tunísia enfrenta um alto índice de desemprego (15%).

E o atentado de junho no resort de Sousse atingiu ainda mais a indústria do turismo, que de maneira direta e indireta é responsável pelo ganha-pão de quase 20% dos 10 milhões de tunisianos, bem como contribui para 14% do PIB do país.