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A reviravolta no caso Grégory Villemin, menino de 4 anos cujo assassinato intriga a França há 3 décadas

Foto de 24 de junho de 1984 mostra Grégory Villemin - AFP
Foto de 24 de junho de 1984 mostra Grégory Villemin Imagem: AFP

13/07/2017 18h32

O assassinato do pequeno Grégory Villemin, há 32 anos, é um dos maiores enigmas policiais da história moderna da França.

Em 16 de outubro de 1984, o corpo do menino de 4 anos apareceu com as mãos e os pés atados no rio Vologne, perto de sua casa, no nordeste do país.

Sua morte desencadeou uma trama de rivalidades familiares, cartas anônimas com ameaças, pistas falsas e erros judiciais que geraram um grande interesse midiático.

Mas o culpado do crime jamais foi encontrado.

Na última terça-feira, o juiz Jean-Michel Lambert, que desempenhou um papel fundamental na investigação, foi encontrado morto em sua casa com uma sacola de plástico na cabeça.

Segundo a polícia, não há indícios de violência.

Lambert, que tinha 32 anos quando foi designado para julgar o caso de Villemin, havia admitido que cometeu erros naquele que foi o primeiro trabalho de sua carreira como juiz.

"É um caso que me perseguiu por toda a minha carreira, toda a minha vida", disse o magistrado durante uma entrevista em 2014.

A Justiça reabriu as investigações no mês passado diante do surgimento de novas evidências que levaram à detenção de três familiares do pai da criança.

1.set.2014 - O primeiro caso de Jean-Michel Lambert como juiz foi o do assassinato de Grégory Villemin - Jean-François Monier/AFP - Jean-François Monier/AFP
1.set.2014 - O primeiro caso de Jean-Michel Lambert como juiz foi o do assassinato de Grégory Villemin
Imagem: Jean-François Monier/AFP

Como foi a investigação?

O primeiro suspeito do caso foi Bernard Laroche, um primo do pai do menino. Foi uma cunhada sua, Muriel Bolle, quem depôs contra ele e o mandou para a prisão.

Um ano depois, porém, Bolle retirou sua declaração - e Laroche foi solto.

Semanas depois, ele morreu baleado pelo pai do menino, Jean-Marie Villemin, que foi preso pelo crime.

Após alguns meses, o juiz Lambert focou a investigação na mãe da criança, Christine Villemin.

20.out.1984 - Christine e Jean-Marie Villemin, pais de Grégory, choram diante do caixão do menino durante funeral em Lepanges-sur-Vologne - Jean-Claude Delmas/AFP - Jean-Claude Delmas/AFP
20.out.1984 - Christine e Jean-Marie Villemin, pais de Grégory, choram diante do caixão do menino durante funeral em Lepanges-sur-Vologne
Imagem: Jean-Claude Delmas/AFP

A mulher acabou acusada de infanticídio em 1985, mas as acusações foram retiradas em 1993.

Em 1987, Lambert foi substituído por outro juiz, Maurice Simon, cujas pesadas críticas sobre o trabalho de seu antecessor vieram a público nesta quarta-feira.

Segundo o canal francês de notícias BFMTV, Simon havia escrito sobre o que descreveu como "desordem intelectual" de Lambert em suas anotações pessoais.

"Estou em meio a um erro judicial em todo o seu horror", escreveu ele sobre as acusações contra a mãe de Grégory Villemin.

O mesmo Lambert havia admitido que não estava preparado para lidar com o enorme interesse que o caso despertou e se queixado do escasso apoio judicial que recebeu.

30.out.1985 - Christine Villemin (terceira a partir da esquerda) faz parte da reconstituição da cena do crime; ela esteve presa entre 1985 e 1993 pelo assassinato do filho - Patrick Hertzog/AFP - Patrick Hertzog/AFP
30.out.1985 - Christine Villemin (terceira a partir da esquerda) faz parte da reconstituição da cena do crime; ela esteve presa entre 1985 e 1993 pelo assassinato do filho
Imagem: Patrick Hertzog/AFP

Por que o caso foi reaberto?

A ciência forense evoluiu bastante nas últimas três décadas, e os avanços na tecnologia de DNA deram novas esperanças aos investigadores do caso.

Em junho, três membros da família do pai do filho assassinado foram detidos pela polícia.

O tio-avô do menino, Marcel Jacob, e sua esposa, Jacqueline, passaram por uma investigação formal por sequestro seguido de morte - e acabaram soltos.

A terceira detida foi Muriel Bolle, que enfrenta acusações parecidas.

Os investigadores acreditam que a mulher, que tinha 15 anos na época do assassinato, retirou o depoimento que deu em 1984 devido a pressões familiares.

Bolle se declarou inocente e fez uma greve de fome que terminou nesta terça, o mesmo dia em que o juiz Lambert foi encontrado morto.