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Albinos vivem perigosamente na Tanzânia

Mulheres carregam bebês albinos em Dar es Salaam, na Tanzânia - Bunyamin Aygun/AFP
Mulheres carregam bebês albinos em Dar es Salaam, na Tanzânia Imagem: Bunyamin Aygun/AFP

19/03/2015 16h51

Desde 2000, mais de 70 portadores do distúrbio congênito foram vítimas de mutilação e assassinato no país, devido à crença de que têm poderes mágicos. Em meio a ceticismo, políticos prometem coibir violência.

Hassan Khamisi vive em Shinyanga, cidade no norte da Tanzânia. O adolescente, de 17 anos, é um tanzaniano comum. Ele vai à escola, como as outras crianças. No entanto, ele se destaca por ser albino. O distúrbio congênito ocorre em todo o mundo e se caracteriza pela ausência de pigmentos na pele. Cerca de 1.400 tanzanianos são albinos.

Entre as implicações para a saúde estão uma pele mais sensível e um elevado risco de câncer. Fora isso, Khamisi poderia levar uma vida normal, não fosse o constante medo de que as pessoas o ameacem, ataquem ou até o matem. Isso porque na Tanzânia existe a superstição de que os albinos têm poderes mágicos.

Num dos mais recentes casos de perseguição contra albinos publicados pela imprensa tanzaniana, o menino de seis anos Baraka Cosmas teve a mão decepada no distrito de Rukwa, no oeste do país. Partes do corpo de albinos são negociadas como amuleto da sorte no país e usadas por curandeiros tradicionais para fazer poções mágicas.

Uma mão de albino chega a valer cerca de US$ 600 no mercado negro. No momento do ataque, Cosmas estava sozinho com sua mãe. A polícia prendeu sete suspeitos, incluindo o pai do menino. "Essas notícias fazem com que o medo seja meu companheiro constante", diz Khamisi, em entrevista à DW. "Sempre que vou dormir, quando acordo, esse medo está lá. Mesmo nos momentos em que eu estou seguro."

Medo dos curandeiros

Na verdade, Khamisi deveria se sentir seguro onde vive, na instituição Buhangija, que garante proteção e educação para crianças albinas. Mas a vigilância reforçada parece não ser suficiente. Ele sente arrepio só em pensar nos curandeiros tradicionais. "Essas pessoas podem estar em qualquer lugar, a qualquer hora", diz Khamisi. Outra coisa que lhe causa preocupação é que, quando for maior de idade, ele será obrigado a deixar o refúgio.

Enquanto isso, as histórias de horror se multiplicam. Segundo dados da ONU, apenas nos últimos seis meses, ao menos 15 albinos foram sequestrados, feridos ou mortos na Tanzânia e nos países vizinhos, Malawi e Burundi. Na Tanzânia, desde 2000, ao menos 72 albinos foram vítimas de violência.

Diante dos incidentes, a polícia decidiu agir mais energicamente e prendeu mais de 200 curandeiros. Há poucos dias, quatro pessoas foram condenadas à morte, devido a um caso de assassinato em 2008. O próprio presidente tanzaniano, Jakaya Kikwete, reuniu-se recentemente com representantes de associações de albinos e se disse favorável a providências mais enérgicas.

A nova atenção política também pode ser entendida como uma tentativa de melhorar a imagem do governo, já que a Tanzânia se prepara para eleições gerais em outubro. Muitos veem o ativismo por parte do governo como hipócrita. Críticos acreditam que especialmente políticos recorram aos curandeiros, acreditando que seus poderes mágicos possam ajudá-los na campanha eleitoral.

"O que somos para essas pessoas?", questiona Khamisi. "Somos aqueles que devem ajudar os políticos a ter sucesso? As eleições se aproximam, e os assassinatos se multiplicam", desabafa.

Campanha de conscientização

O jornalista tanzaniano Henry Mdimu lançou uma campanha de conscientização para o problema dos albinos. Embora ele mesmo tenha o distúrbio congênito, o jornalista diz que nunca enfrentou dificuldades. "Em toda minha vida, nunca tive a sensação de que faltava alguma coisa", afirma.

Por isso, Mdimu demorou para entrar na luta pela minoria à qual pertence. Quando se tornou ciente de que outros albinos vêm sendo marginalizados há anos e que a situação não melhorou para eles, ele achou que algo estava faltando nas campanhas sobre o tema já existentes. Então, decidiu viajar pelo país com dinheiro do próprio bolso, para chamar atenção para o problema nos lugares onde a superstição está mais arraigada.

No entanto, os ativistas em prol dos albinos lutam contra vários problemas. Uma grande manifestação programada para o último domingo foi cancelada pela polícia no último minuto, supostamente por motivos de "segurança".

Conseguir unir as diversas instituições que cuidam do problema também é um desafio. "Toda organização que lida com albinos tem que, primeiro, reconhecer que não pode agir como se fosse a única voz desse grupo", diz Abdallah Possi, jurista da Universidade de Dodoma e primeiro advogado albino da Tanzânia. Ele ressalta que tais campanhas costumam ser muito caras e, por isso, a cooperação é muito importante, especialmente num país grande como a Tanzânia.

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