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Violência no Oriente Médio traz medo de nova Intifada

Mohamad Torokman/Reuters
Imagem: Mohamad Torokman/Reuters

Kersten Knipp (md)

06/10/2015 11h42

O aumento de confrontos entre israelenses e palestinos leva analistas a temerem o início de uma terceira revolta palestina

Será que o conflito no Oriente Médio corre o risco de se transformar numa terceira Intifada? Essa pergunta é feita com cada vez mais frequência, diante da escalada da violência dos últimos dias.

"Vejo alguns paralelos com o início da segunda Intifada, em 2000", disse o ex-negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, em entrevista a uma estação de rádio palestina. O serviço secreto israelense, Shin Bet, também não exclui a possibilidade de uma nova Intifada, segundo reportagem do jornal israelense "Jerusalem Post".

Uma coisa é clara: a violência aumentou nos últimos dias. No fim de semana, ocorreram repetidos confrontos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, entre jovens palestinos e policiais e soldados israelenses.

Os palestinos atiraram pedras e coquetéis molotov, as forças de segurança israelenses responderam com munição real e balas de borracha. Também houve confrontos com colonos extremistas na Cisjordânia.

Na segunda-feira, a Força Aérea israelense realizou ataques contra a Faixa de Gaza, de onde havia sido disparado um foguete contra Israel. Antes disso, quatro israelenses haviam morrido e outros ficaram feridos em três ataques de palestinos. Os autores dos atentados foram mortos pelo Exército israelense.

Além disso, o Exército atirou e matou no domingo, segundo fontes palestinas, um palestino de 18 anos, durante tumultos em Tulkarem, no noroeste da Cisjordânia. Vários outros palestinos ficaram feridos.

Extremistas tiram vantagem

Particularmente preocupante é o fato de que extremistas religiosos tentam, cada vez mais, tirar proveito dos conflitos para seus próprios propósitos. Um jovem palestino que matou um israelense a facadas no fim de semana, na Cidade Velha de Jerusalém, era membro da organização extremista Jihad Islâmica.

"A terceira Intifada começou", teria escrito ele em sua conta no Facebook, segundo o jornal israelense Arutz Sheva.

Embora o grupo Jihad Islâmica ainda não tenha assumido responsabilidade pelo ataque, a revista online especializada em política do Oriente Médio Al-Monitor acredita que o conflito possa vir a ganhar um toque cada vez mais religioso.

"Em um momento em que os fanáticos religiosos de todas as tendências ganham apoio de grande parte da população, o conflito no Oriente Médio é dominado cada vez mais por organizações como 'Estado islâmico' (IS), Al Qaeda, Hizbollah, Hamas e outros. Mesmo em Israel, fanáticos religiosos descobriram como é fácil abalar toda a região."

Radicais ganham apoio

Os radicais ganham popularidade dos dois lados. Na Faixa de Gaza, o governo do Hamas vem agindo há meses contra os jihadistas. Em Israel e na Cisjordânia, os militares têm se envolvido cada vez mais em confrontos com colonos extremistas.

Enquanto os radicais em Israel são em número limitado e representam apenas uma pequena parte da população, o conflito pode ser usado no lado árabe como motivo para uma mobilização muito maior.

"Embora a liderança do EI, da Al Qaeda, do Hizbollah e de outros grupos similares sejam bastante indiferentes ao destino de seus irmãos palestinos, eles usam o conflito para recrutar jovens árabes e palestinos", afirma o Al-Monitor.

O jornal "Jerusalem Post" critica as ações do governo de Benjamin Netanyahu, acusando-o de não ter outra ideia a não ser construir novos pontos de controle e impedir o tráfego de veículos palestinos em ruas relevantes em termos de segurança.

"Estas são soluções táticas de pessoas de intelecto limitado. Não há uma disposição em se adaptar à situação geral e, em outras palavras, à realidade estratégica." A publicação acredita ser compreensível que os palestinos se recusem a reiniciar as negociações a partir do zero. "Eles querem finalmente saber aonde essas negociações vão levar."

Por outro lado, no entanto, os palestinos também perderam oportunidades, segundo análise da publicação, ao não aproveitarem a paralisação da construção de assentamentos, há cinco anos, para acelerar as negociações de paz. "Assim como Israel, eles também não se dispõem a entrar em acordo."