Brasil vive estabilidade política "extraordinária", diz Temer
Em encontro com empresários em Nova York, o presidente Michel Temer garantiu nesta quarta-feira (21/09) que o governo brasileiro vive uma estabilidade política "extraordinária", assegurada, segundo ele, por uma "relação muito adequada entre o Executivo e o Legislativo".
"E isso [a estabilidade política] também dá segurança jurídica. Temos alardeado que lá no Brasil, o que for contratado, será cumprido", afirmou Temer durante almoço com mais de 250 empresários, no último dia de sua viagem oficial aos Estados Unidos.
O encontro, do qual também participaram sete ministros brasileiros, faz parte do plano do governo de mostrar que a instabilidade causada pelo processo do impeachment foi superada. O objetivo é convencer investidores a participarem do pacote de concessões e privatizações, lançado na semana passada. São 34 projetos de infraestrutura nas áreas de energia, aeroportos, rodovias, portos, ferrovias e mineração, cuja meta é arrecadar 24 bilhões de reais somente em 2017.
Temer também detalhou aos empresários medidas que o governo vem tomando para retomar o crescimento da economia brasileira, criar empregos e reduzir o deficit público. Ele ressaltou a articulação junto ao Congresso Nacional para aprovar a PEC que institui um teto aos gastos públicos, para a qual afirmou já ter uma sinalização dos líderes partidários de que será aprovada ainda este ano.
O presidente destacou a defesa de uma "reforma radical" do sistema previdenciário - cuja proposta deve ser entregue até o mês que vem à Câmara dos Deputados - e de uma "readequação" da legislação tributária.
Após o almoço com empresários, Temer encontrou-se com o vice-presidente americano, Joe Biden, e seguiu de volta ao Brasil. Ele passou três dias em Nova York participando de compromissos na ONU.
Governo nega falta de legitimidade
Questionado por jornalistas após o encontro com empresários, Temer negou que haja dificuldades com relação à legitimidade de seu governo. "Basta ler a Constituição para verificar que o governo é legítimo", afirmou.
O presidente disse ainda lamentar o episódio em que seis delegações (Equador, Venezuela, Costa Rica, Nicarágua, Bolívia e Cuba) deixaram o plenário da ONU na terça-feira quando ele discursava, em sinal de protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff. "Eram 193 delegações, nem percebi a saída deles", disse o presidente.
Temer voltou a dizer ser "natural" a existência de movimentos no Brasil contrários à sua gestão, mas afirmou que insistirá na tese da "pacificação" do país. "Eu não poderia imaginar que, depois de uma fase um pouco complicada politicamente pela qual o Brasil passou, todo mundo fosse aplaudir e haveria unanimidade", afirmou.
Para o ministro da Economia, Henrique Meirelles, que também participou do almoço, as investigações conduzidas pela operação Lava Jato podem ser positivas para o Brasil, pois "mostram a solidez das instituições brasileiras" e geram mais confiança no país. Segundo Meirelles, durante o encontro nos EUA vários empresários demonstraram interesse em investir no Brasil.
Desafio de atrair investidores
O desafio de vender a imagem da estabilidade brasileira, no entanto, é grande. Brian Winter, vice-presidente do Conselho das Américas, organização que promoveu o encontro, disse à DW Brasil que o discurso de Temer sobre produtividade e parcerias público-privadas foi bem recebido. No entanto, Winter acredita que os investidores continuarão receosos com relação ao Brasil, "dados os contínuos desafios da economia e a situação política".
João Augusto de Castro Neves, diretor do grupo Eurasia para América Latina, avalia que a dificuldade de conquistar credibilidade junto à parcela da população insatisfeita com Temer na presidência e o risco de instabilidade oferecido pela Lava Jato podem dificultar a captação de investimentos na infraestrutura brasileira.
"A qualidade da equipe econômica deste governo e o interesse em reformas fiscais e setoriais têm mostrado avanços significativos com relação ao anterior", afirma Neves, lembrando que muitas vezes o governo Dilma emitia "sinais contraditórios" aos investidores.
"No entanto, os escândalos de corrupção e a Lava Jato vêm envolvendo não apenas o PT, mas boa parte do sistema político. E esse governo não está imune", afirma.
Ainda segundo Neves, a expectativa é de que o novo governo comece a conquistar a confiança do mercado a partir do ano que vem, caso o Palácio do Planalto não seja atingido pela Lava Jato. O grupo Eurasia, que faz consultoria de risco político, avalia em 80% as chances de que a gestão de Temer chegue até 2018.
Jankiel Santos, economista-chefe do banco de investimentos Haitong, concorda que os investidores devem continuar cautelosos. "Apesar de as medidas adotadas pelo atual governo estarem na direção correta, ainda paira um risco do lado jurídico, já que o atual presidente era vice da deposta e algumas denúncias estão resvalando na campanha eleitoral, da qual ele também participou."
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