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Fernando de Noronha tem pior seca de sua história

Leandro Pagliaro/UOL
Imagem: Leandro Pagliaro/UOL

Gonzalo Domínguez Loeda

No Rio de Janeiro

16/03/2014 11h53

Quase 340 quilômetros mar adentro, onde já não se vislumbra a costa, a ilha de Fernando de Noronha, um paraíso natural protegido pelas leis ambientais, sofre a pior seca dos últimos 50 anos, que esgotou seu único manancial de água doce.

Sem chuva desde junho, os quase três mil habitantes da ilha e os turistas que ocupam as 1.400 camas disponíveis sofrem com cortes de água e sobrevivem com a que chega desde a única usina dessalinizadora da ilha, que agora não consegue abastecer todos.

Apesar do trabalho incansável dos caminhões-pipa que percorrem a ilha durante o dia todo transportando água dessalinizada, a prefeitura de Fernando de Noronha teve de dividir seu território em oito áreas, e cada uma recebe água um dia em nove.

Quando a temporada de chuva passou, os moradores da ilha, descoberta por Américo Vespúcio em uma de suas primeiras viagens, recebiam água um dia a cada cinco, abastecimento que foi diminuindo conforme caíam as reservas.

A dependência do manancial para abastecer os moradores é complementada com uma bateria de quatro dessalinizadoras que transformam a água do mar em água potável.

Quando cheio, o manancial tem capacidade para acumular 411 mil metros cúbicos de água, os moradores têm o fornecimento garantido, já que a maioria dos lares contam com depósitos.


Com uma produção de 27 metros cúbicos por hora, a água que sai das unidades dessalinizadoras é distribuída por caminhões-pipa que percorrem os poucos 17 quilômetros quadrados da ilha, mas o aumento de habitantes e turistas no último ano, aliado à seca, tornou essa quantidade insuficiente.

Com a ampliação proposta na semana passada pela Companhia Pernambucana de Saneamento e após o investimento de R$ 4,7 milhões para as obras, a fábrica poderá dessalinizar 60 metros cúbicos de água por hora, 24 por dia, o que, em princípio, acabaria com o problema.

Apesar da carência de água, as autoridades garantiram que hospital e unidades de atendimento básico não estão sem água e, como explicou à Agência Efe a coordenadora de saúde da ilha, Fátima Sousa, "não houve nenhum transtorno" nestes centros.

A situação levou muitos dos habitantes a situações extremas apesar do racionamento, e no último dia 8 houve protestos e o bloqueio de uma das estradas da ilha com barricadas e pneus incendiados.

De acordo com o diretor da Compesa, Fernando Lobo, nas últimas semanas a situação se agravou com a multiplicação de visitantes que chegaram à ilha para aproveitar o carnaval.


"Durante este período, em que a ilha recebe muitos visitantes, há um aumento aproximado de 20% no consumo de água", assegurou.

Lobo destacou que, ao contrário do que acontece no resto do país, onde a seca afeta estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, as soluções para a falta de água têm que ser geradas dentro da própria ilha, já que é inviável transportar água de outras regiões.

Fernando de Noronha é a mais importante das 21 ilhas que compõem o arquipélago, protegido pelas leis ambientais desde 1988, quando foi criado o Parque Nacional Marinho.