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Milhares de policiais se despedem de um dos agentes assassinados em Nova York

27/12/2014 17h52

Mario Villar.

Nova York, 27 dez (EFE).- Cerca de 25 mil policiais se reuniram neste sábado para se despedir de Rafael Ramos, um dos agentes assassinados há uma semana em Nova York por um homem que dizia querer vingar as mortes de negros em ações das forças da ordem.

Vestidos com seus uniformes de gala, os agentes acompanharam o funeral de seu companheiro em telões instalados no lado de fora da igreja na qual se reuniram várias autoridades lideradas pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

"Acho que falo em nome de toda a nação quando digo que nossos corações doem", disse Biden, que transferiu suas condolências à família da vítima e a todo o Departamento de Polícia de Nova York, que disse ser "provavelmente o melhor departamento policial do mundo".

A frase, que arrancou os aplausos do auditório, é dita após meses de tensão em todo o país como consequência das mortes de vários cidadãos afro-americanos em ações de agentes, que desencadearam fortes protestos contra a violência dos policiais e seu suposto racismo.

Ramos e Liu foram assassinados por um negro chamado Ismaaiyl Brinsley, de 28 anos, que se suicidou pouco após cometer o duplo assassinato no distrito nova-iorquino de Brooklyn.

Brinsley, que sofria problemas mentais, atuou invocando o nome de dois negros que morreram em ações da polícia, um deles Eric Garner, em Nova York, em julho, e o outro Michael Brown, em Ferguson (Missouri), em agosto.

Hoje, Biden se mostrou convencido que Nova York guiará a reconciliação no país, que viu renascer as tensões raciais do passado.

"Acho que esta grande força policial e esta cidade incrivelmente diversa demonstrarão ao país como superar qualquer divisão", disse o vice-presidente.

Após ele discursaram o governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, e o prefeito da cidade, Bill de Blasio, que foi o alvo da ira dos policiais após o assassinato de seus dois companheiros.

Os sindicatos policiais criticam De Blasio pela compreensão que mostrou perante os protestos organizados por causa da decisão de um grande júri de não apresentar acusações contra o agente envolvido na morte de Eric Garner, que morreu em julho após ser imobilizado com uma chave de braço ilegal.

Uma das principais organizações policiais da cidade chegou a acusar o prefeito de ter "sangue em suas mãos" e hoje foi possível ver alguns cartazes pedindo sua renúncia no lado de fora da igreja de Queens onde aconteceu o funeral.

Durante o discurso de De Blasio, parte dos agentes reunidos do lado de fora da igreja deram as costas para demonstrar seu descontentamento, em um gesto similar ao que vários policiais lhe dedicaram há uma semana em sua chegada ao hospital onde Ramos e Liu foram dados como mortos.

Em seu discurso, De Blasio ofereceu suas condolências às famílias das vítimas e a todo o Departamento de Polícia de Nova York, ao qual louvou por seu trabalho.

"Aqueles que se dedicam a proteger os demais pertencem a uma raça especial", declarou o prefeito, que assegurou que Nova York perdeu "um herói" com a morte de Ramos.

O agente de origem porto-riquenha, de 40 anos e pai de dois filhos, foi recordado hoje como um homem bondoso e muito envolvido com sua igreja local.

"Rafael é um herói", disse o chefe da polícia de Nova York, William Bratton, que lembrou como o agente chegou ao corpo com mais idade que muitos de seus companheiros e serviu de exemplo para os mais jovens.

"Agora nós somos sua família como éramos a família de seu pai", disse Bratton aos filhos de Ramos, ressaltando que espera que, da tragédia, se tirem lições para melhorar as relações entre as forças da ordem e as comunidades que servem.

Ramos, que nos últimos tempos estava se preparando para ser capelão, foi nomeado hoje por Bratton como capelão honorário de seu distrito policial.

Além disso, tanto ele como seu companheiro serão promovidos de forma póstuma à categoria de detetives de primeiro grau.

O funeral de Liu ainda não tem data confirmada, à espera que seus familiares possam chegar da China.