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Vítimas da xenofobia: voltar pra casa ou começar do zero na África do Sul

22/04/2015 10h20

Marcel Gascón.

Johanesburgo, 22 abr (EFE).- Com os ataques a suas lojas e casas ainda frescos na memória, milhares de imigrantes e refugiados de países africanos se debatem em campos de deslocados de Johanesburgo e Durban entre voltar para casa ou começar do zero, de novo, na África do Sul.

"Fico aqui, não vou voltar ao Zimbábue. Tenho uma criança e espero outra e ali não há trabalho nem nada para fazer", disse à Agência Efe Lindiwe Ndlovu, de 26 anos, que dorme em uma barraca de campanha da organização de caridade Gift of the Givers desde sábado.

Como outras 20 mulheres do Zimbábue e de Moçambique, Ndlovu vivia até agora no 'township' (antigo gueto negro) de Alexandra, no norte de Johanesburgo.

"Vieram buscando estrangeiros pelas casas. Se não tínhamos documento de identidade sul-africano nos obrigavam a ir embora", relatou a jovem, que se refugiou em uma delegacia e foi recolhida por caminhonetes escoltadas da Gift of the Givers.

É um dia de semana e o campo, que acolhe cerca de 50 pessoas, está meio vazio: apenas algumas crianças, mulheres grávidas e um grupo de malauianos chegados de Durban, de onde fugiram da violência e das ameaças de jovens zulus que lhes acusam de tirar seu trabalho.

Os demais foram trabalhar e voltarão para comer e dormir quando caia a noite, explicou Sara Sithole, da Gift of the Givers, que trabalha no campo como cozinheira e tradutora.

"Voltei na semana passada do trabalho e, quando vi gente gritando contra os estrangeiros na rua, decidi ir embora", contou Mike Jackson, um alfaiate do Malaui de 22 anos.

Jackson, que treme enquanto fala, chegou há apenas três meses à África do Sul, mas já passou por bastante coisa e espera, junto a seu irmão e outros compatriotas, um dos ônibus que seu governo já começou a enviar para leva-los de volta ao país.

Enquanto voluntários dão brinquedos às crianças e moradores trazem doações ao campo, entra no campo um casal de imigrantes: Fatuma Moussa é natural da Zâmbia, e seu marido, Henry Izike, da Nigéria.

Os dois chegaram ali após refugiar-se vários dias em antigas casas para mineiros em Roodepoort, ao oeste de Johanesburgo, às quais chegaram na quarta-feira passada depois de sair do populoso 'township' de Tembisa, onde viviam e tinham um negócio ambulante de roupas.

"Entraram na nossa casa pelo telhado, de madrugada. Nos falaram em zulu, e, ao perceber que éramos estrangeiros, nos expulsaram e nos roubaram tudo", lembrou Izike, sentado sobre o fino colchão no qual dormirá esta noite neste refúgio improvisado no bairro de Mayfair.

"Quando lhes perguntei por que faziam isto disseram que faziam o que o rei tinha dito", afirmou Izike, em referência ao rei dos zulus, Goodwill Zwelithini, cujas palavras contra os imigrantes de países africanos acenderam o pavio xenófobo no final de março.

Henry e Fatuma - que deixaram seus dois filhos na casa de parentes em Roodepoort - não querem voltar ao 'township', nem viver mais entre sul-africanos.

"São gente bárbara, sem coração", declarou Izike sobre os agressores, com mais tristeza que raiva, acrescentando que planeja ir embora com sua família para Zâmbia e lembrando como seus próprios vizinhos, com quem conviviam diariamente, participaram do ataque contra sua casa.

Enquanto isso, em Germiston, ao leste de Johanesburgo, mais de 200 pessoas de Moçambique, Zimbábue e Malaui vivem em um edifício municipal após terem sido expulsas à força do povoado no qual viviam.

Alguns destes deslocados entrevistados pela Efe esperam encontrar um trabalho na África do Sul ou retomar os negócios que tinham, enquanto outros têm muito claro em mente que não têm futuro aqui e esperam ser repatriados por seus governos como já foram centenas de compatriotas.