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Abstenção e indecisos são fiel da balança sobre casamento gay na Irlanda

Cathal McNaughton/Reuters
Imagem: Cathal McNaughton/Reuters

Javier Aja

Em Dublin

22/05/2015 15h06

Partidários e opositores ao casamento entre pessoas do mesmo sexo acompanham com atenção os dados de participação do eleitorado no referendo que está sendo realizado nesta sexta-feira (22) na Irlanda, e as pesquisas preveem o triunfo do "sim".

"Embora as pesquisas estejam indicando uma confortável vitória para a legalização do casamento entre casais do mesmo sexo, nos últimos dias ganhamos terreno, e o número de indecisos era até ontem alto, eles podem desequilibrar a balança", explicou à Agência Efe o ativista Keith Mills, que votou 'não' apesar de ser gay.

Mills, que pertence ao grupo "Mães e Pais Importam", apontou que a alta participação em Dublin e em outros centros urbanos favorece o "sim", pois significa que mobilizou, principalmente, o voto jovem, que se mostrou apático em plebiscitos anteriores.

Pelo contrário, se o voto urbano diminuir e crescer o do eleitorado das zonas rurais, consideradas mais tradicionais, o "não" poderia ter alguma possibilidade de triunfo, calculou o ativista.

Pouco mais de três milhões de irlandeses estavam aptos a votar para decidir sobre a permissão ao casamento gay. Como não existe o voto por correio na Irlanda, muitos deles viajaram para exercer este direito e elevar o índice de participação.

No meio da tarde, a maioria dos centros de votação de Dublin informaram que a participação nas urnas superava os 30%, acima da média de consultas anteriores, enquanto nas zonas rurais a participação era mais baixa, divulgou a emissora pública RTE.

Também hoje, os irlandeses devem decidir em outro referendo se reduzem de 35 para 21 anos a idade mínima para ser presidente da República, cargo essencialmente representativo.

O interesse em ambas as consultas é alto, como demonstra o fato de o cartório eleitoral ter registrado um aumentou de 66 mil pessoas nas últimas semanas, principalmente de jovens e estudantes.

As redes sociais ferviam hoje com fotografias e vídeos de indivíduos e grupos que chegavam na Irlanda por mar e ar para votar.

Mills é um exemplo, aterrissou hoje ao meio-dia em Dublin em um voo de Viena, na Áustria, onde cobre o Festival Eurovision e para onde voltará amanhã após votar no norte da capital irlandesa.

"Sou homossexual e agnóstico", disse, e justificou não aceitar o casamento homossexual "porque outorga aos casais do mesmo sexo o direito de adotar e assim o Estado não poderia dar preferência nesses casos a um casamento convencional, o que priva a criança de seu direito de ter um pai e uma mãe".

"Acho que os interesses dos casais de gays e lésbicas estão mais bem cobertos pela Lei de Uniões Civis de 2010, não é necessário conceder a eles proteção constitucional", reiterou Mills após votar.

Nessa cédula de votação, o eleitorado deve contestar com um "sim" ou um "não" à proposta do governo irlandês, uma coalização entre conservadores e trabalhistas, sobre se o "casamento pode ser contraído de acordo com a lei por duas pessoas sem distinção de gênero".

Essa é a frase que o Executivo, que conta com o apoio de todas as forças políticas nacionais, quer acrescentar ao artigo 41 da Carta Magna para proteger constitucionalmente os casais do mesmo sexo e equiparar seus direitos aos dos casais heterossexuais.

A República da Irlanda já promulgou em 2010 a lei de Relações Civis que, pela primeira vez no país, concedia reconhecimento legal aos casais de mesmo sexo.

O primeiro-ministro irlandês, o democrata-cristão Enda Kenny, também se manifestou hoje a favor da legalização do casamento homossexual ao afirmar que "votar sim é um voto a favor da igualdade neste país".

Kenny lançou essa mensagem em sua conta no Twitter, e também publicou uma foto junto com sua esposa, Fionnuala, após depositar sua cédula no colégio de San Antonio da cidade de Castlebar, no condado de Mayo.

Até às 21h, os pouco mais de três milhões de irlandeses poderão exercer seu direito ao voto em um referendo que, em caso de vitória do "sim", tornará este país, ainda majoritariamente católico, no primeiro a aprovar por vontade popular o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A apuração dos votos começará no sábado às 8h (local, 5h em Brasília) e o resultado final deve ser anunciado entre 15h e 17h.

Irlanda realiza referendo sobre casamento homossexual