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Mais de 400 continuam desaparecidos no pior naufrágio na China em décadas

AFP
Imagem: AFP

Paloma Almoguera

Em Pequim

02/06/2015 15h35

Mais de 400 pessoas, a maioria turistas chineses aposentados, continuam desaparecidas quase 24 horas depois do naufrágio do navio "Estrela Oriental" no rio Yang Tsé, a maior tragédia deste tipo no país em décadas.

Por enquanto os números oficiais do Ministério de Transporte da China falam de sete mortos e 14 sobreviventes, e a situação é incerta para a maioria dos outros viajantes da embarcação, que tinha 456 pessoas a bordo.

Dois dos sobreviventes foram resgatados hoje do interior do barco, além de um homem que não sabia nadar e conseguiu se manter vivo agarrado a um salva-vidas durante horas.

"O barco afundou em um minuto", lembrou, da cama do hospital Zhang Hui, 30, que teve tempo somente para colocar o colete e sair pela janela quando a água já chegava ao pescoço, para depois passar horas agarrado ao seu salva-vidas até alcançar a margem ao amanhecer.

Também sobreviveram o capitão do barco e o chefe das máquinas, que estão à disposição policial.

Estavam a bordo 46 tripulantes, cinco guias turísticos e 405 passageiros, a maioria entre 50 e 83 anos, embora também tenha sido relatado uma criança de três anos na lista de desaparecidos.

Os turistas são, na maioria, do leste da China (Xangai, da província de Jiangsu e outras áreas próximas). Não se acredita que houvesse estrangeiros no barco, de acordo com a lista de passageiros publicada por alguns meios de comunicação chineses.

A embarcação tinha partido a seis dias de Nankin, capital da província de Jiangsu, para um cruzeiro de 13 dias pelo Yang Tsé, o rio mais longo da Ásia, com destino a Chongqing, uma rota muito popular entre os turistas chineses.

O navio tombou violentamente na segunda-feira às 21h28 (10h28 em Brasília) em Jianli (no centro da China), onde permanece virado para baixo. As equipes de resgate afirmaram ter escutado em seu interior vozes e ruídos, o que mantém acesa a esperança de que ainda haja mais sobreviventes.

A busca foi ampliada para 150 quilômetros rio abaixo e pode se estender a 220 quilômetros em breve.

No entanto, o mau tempo, que se manterá nos próximos dez dias segundo os serviços meteorológicos, e o temor de afundar ainda mais a embarcação ao romper o casco, cuja quilha ainda está acima d'agua, obrigou a diminuir o ritmo da operação de resgate, conduzida por mais de quatro mil soldados da polícia, dos bombeiros e outros.

A polícia interrogou o capitão do barco e o chefe das máquinas, que afirmaram que o navio tombou quando foi surpreendido por um tornado, mas por enquanto as autoridades só confirmaram que um forte temporal de vento e chuvas atingia a região na hora do acidente.

As investigações preliminares não apontam que o barco tenha infringido alguma legislação. Uma das cinco embarcações mais luxuosas operadas pela companhia estatal Chongqing Wanzhou Dongfang, ele está em serviço há 20 anos e tem capacidade para 534 pessoas.

Os sobreviventes afirmaram que havia salva-vidas disponíveis, e que o problema foi a falta de tempo para reagir, segundo Zhang.

Alguns familiares dos passageiros lamentaram só terem informação sobre o acidente pela imprensa e não pelas autoridades.

"Disseram para esperarmos a informação dos meios de comunicação", disse à Agência Efe Qu Qing, uma mulher que tinha seis familiares dentro do barco (seus pais, suas três tias e um tio).

Wang Yiping disse à Efe que seu pai estava no barco, mas que só conseguiu "confirmar esta informação pela lista de viajantes publicada pela imprensa".

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, viajou de urgência ao local da catástrofe, pediu às autoridades que atualizem a imprensa de hora em hora, apesar de o governo estar restringindo o acesso ao local aos jornalistas locais.

O naufrágio do Estrela Oriental é um dos mais graves ocorridos nas últimas décadas no rio Yang Tsé, uma das vias fluviais de maior tráfego no mundo.