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"EUA não podem continuar derrubando governos na América Latina", diz Sanders

Senador criticou a política intervencionista dos EUA na América Latina - Spencer Platt/Getty Images/AF
Senador criticou a política intervencionista dos EUA na América Latina Imagem: Spencer Platt/Getty Images/AF

Em Austin (EUA)

19/04/2016 00h03

O pré-candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, o senador Bernie Sanders, disse nesta segunda-feira (18) que a política intervencionista de seu país na América Latina deve terminar para iniciar um novo período baseado no "respeito mútuo".

Em um bate-papo com o vocalista do grupo porto-riquenho Calle 13, René Pérez "Residente", Sanders se alçou como o "único" candidato com uma visão das relações diplomáticas com a América Latina diferente da que imperou nas últimas décadas.

"Temos que ser honestos. A história dos Estados Unidos em relação à América Latina foi a de uma nação poderosa, com o exército mais forte do mundo, dizendo: 'Não gostamos deste governo, vamos derrubá-lo'", disse o senador pelo estado de Vermont, que especificou que o "caos" e "massacres" sucederam esses golpes de Estado.

"Os Estados Unidos não podem continuar intervindo na América Latina e derrubando governos ou tentando desestabilizá-los por razões econômicas", acrescentou o pré-candidato durante o bate-papo, cujo vídeo foi divulgado na internet.

Sanders, que concorre com a ex-secretária de Estado Hillary Clinton para obter a candidatura democrata, garantiu que se chegar à Casa Branca fomentará "uma nova relação (com a América Latina) baseada no respeito mútuo" e criticou a atual administração do presidente Barack Obama por não ter feito o mesmo.

"O senhor é o único candidato que fala sobre isso", disse Pérez durante o bate-papo, e Sanders respondeu: "sim, sou eu".

Sem mencionar o nome de Hillary Clinton, o vocalista do grupo Calle 13 comentou sobre a relação da ex-primeira-dama com o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, que é apontado como um dos responsáveis por promover os golpes militares dos anos 1970 no Cone Sul: "Não compreendo como um latino pode apoiar a mesma candidata que apoia Kissinger, que tanto prejuízo causou para a América Latina".

Sanders se mostrou de acordo com o vocalista porto-riquenho ao confirmar que Kissinger "causou" prejuízo à América Latina.

O candidato presidencial se referiu especificamente ao caso do golpe de Estado contra Salvador Allende no Chile. "Não é um segredo que Allende foi derrubado pela CIA e que após isso surgiu um governo neofascista que foi responsável pelo assassinato de milhares de pessoas. Isso é inaceitável", disse o senador.

Sanders também mencionou sua viagem à Nicarágua durante os anos 1980 para mostrar sua rejeição ao apoio dos Estados Unidos e do presidente Ronald Reagan aos Contras, um grupo armado financiado pelo governo americano para lutar contra a Revolução Sandinista.

Finalmente, Sanders se mostrou favorável a tornar Porto Rico um estado de pleno direito dos EUA, já que atualmente é um Estado Livre Associado, e de promover um referendo para que seus cidadãos possam decidir sobre o status político da ilha, com a independência entre as opções.

Também disse que "os abutres de Wall Street" devem se sentar com os representantes da ilha para alcançarem um "acordo" sobre a dívida que "beneficie" às duas partes.

Sanders e Hillary se enfrentam nesta terça-feira nas primárias decisivas do estado de Nova York, nas quais a ex-secretária de Estado parte como favorita, segundo a maioria das pesquisas.