Prática da bruxaria vai custar mais caro no Marrocos
Fatima Zohra Bouaziz.
Rabat, 21 jun (EFE).- A bruxaria, uma das práticas que deram e seguem dando fama ao Marrocos, será a partir de agora um ofício mais perigoso, depois que o governo marroquino multiplicou por dez as multas contra os atos de magia e feitiçaria.
O governo aprovou uma revisão do Código Penal em que subiu o valor das multas contra a magia que será entre 300 e 1.500 dirhams (R$ 103 e R$ 537, respectivamente), em comparação com penalidades atuais de 10 a 120 dirhams, contra aquele que "exerça uma atividade de adivinhar, prever ou explicar os sonhos".
A punição se aplica de forma geral a toda classe de bruxarias, enquanto as típicas videntes que percorrem a famosa praça de Marrakech lendo o destino dos turistas não costumam ser incomodadas pela lei.
A prática da feitiçaria é tão popular que custa ao país uma má fama internacional, especialmente no Oriente Médio, que associa o nome do Marrocos com as artes ocultas.
No Marrocos, o tema é comentado em voz baixa, mas, em abril, uma tentativa de assalto à casa de uma "chowafa" (vidente, ou bruxa por extensão) demonstrou a agressividade com que muitas pessoas perseguem um fenômeno que consideram herético. Apenas a intervenção policial conseguiu evitar uma tragédia.
O que provocou a ira popular nesse caso foi que alguns moradores viram sair da casa da "chowafa" um gato que tinha seus lábios costurados com fios porque levava na boca a foto de um homem: todo marroquino sabe que essa feitiçaria é uma das mais recorrentes para submeter a vontade de uma pessoa.
Isso porque as práticas da feitiçaria são muito populares, mas ao mesmo tempo seus autores são rejeitados socialmente. Uma ambivalência que se encontra na própria tradição islâmica, que admite o poder do mau-olhado e dos 'djin', ou gênios, ambos mencionados no Alcorão; mas condena a prática da feitiçaria como um "pecado capital".
Segundo um estudo publicado em 2012 pelo instituto americano Pew Research Center, 80% dos marroquinos crê no mau-olhado e 78% confia no poder da bruxaria.
Há duas figuras principais que se dedicam a este ofício no Marrocos. Uma delas é a chowafa "multitarefa" que prevê o futuro, cura o efeito de uma maldição ou um feitiço que ela mesma prepara para ferir alguém.
Junto a ela está o "fkih", uma espécie de curandeiro religioso que usa o Alcorão para fins terapêuticos para curar pessoas que sofrem de mau-olhado, ou que estão habitadas por gênios que só poderão ser despejadas em sessões de exorcismo.
As duas figuras tornaram-se as mais capacitadas para curar os males sobrenaturais, e até mesmo doenças que em outros lugares seriam tratadas por psiquiatras e psicólogos, pois para muitos marroquinos os problemas mentais são provenientes de uma maldição.
Quando um cliente visita uma chowafa, sai de lá com uma receita quase secreta de distintas substâncias para atingir seus fins. A mistura será fornecida por um herborista, presente em todos os mercados do país, cuja fachada é a venda de especiarias, plantas e frutos secos, mas que também vende peles ou líquidos de animais, ninhos de certos pássaros e outras substâncias inconfessáveis.
Mustafa (nome fictício) é um destes herboristas da Medina de Rabat, e só fala em voz baixa e quase nunca a um jornalista.
"Algumas pessoas vêm até nós com receita de uma chowafa, outros preferem contar a sua doença e nos pedem conselhos. É como ir até uma farmácia ao invés de um médico", afirmou Mustafa à Agência Efe, acrescentando que esta atividade pode gerar enormes lucro em apenas um dia (uma receita pode custar até 1.500 dirhams, cerca de R$ 525), algo melhor que "passar todo o mês vendendo tâmaras, amêndoas ou pimentão".
Aço em pequenas lâminas, grãos de pedra de âmbar ou pedaços do ninho de uma cegonha são algumas das substâncias mais pedidas para curar doenças comuns, ajudar uma mulher a encontrar um marido, eliminar o azar, trazer êxito profissional e até ganhar eleições.
O próprio Mustafa contou que foi vítima de um feitiço de uma ex-namorada que lhe impedia de sentir atração por outras mulheres, até que visitou uma chowafa que o ordenou a jogar o aço e um talismã que preparou em um braseiro e saltar sobre a fumaça para remover o mal.
Após o salto, Mustafa logo encontrou outra namorada.
Rabat, 21 jun (EFE).- A bruxaria, uma das práticas que deram e seguem dando fama ao Marrocos, será a partir de agora um ofício mais perigoso, depois que o governo marroquino multiplicou por dez as multas contra os atos de magia e feitiçaria.
O governo aprovou uma revisão do Código Penal em que subiu o valor das multas contra a magia que será entre 300 e 1.500 dirhams (R$ 103 e R$ 537, respectivamente), em comparação com penalidades atuais de 10 a 120 dirhams, contra aquele que "exerça uma atividade de adivinhar, prever ou explicar os sonhos".
A punição se aplica de forma geral a toda classe de bruxarias, enquanto as típicas videntes que percorrem a famosa praça de Marrakech lendo o destino dos turistas não costumam ser incomodadas pela lei.
A prática da feitiçaria é tão popular que custa ao país uma má fama internacional, especialmente no Oriente Médio, que associa o nome do Marrocos com as artes ocultas.
No Marrocos, o tema é comentado em voz baixa, mas, em abril, uma tentativa de assalto à casa de uma "chowafa" (vidente, ou bruxa por extensão) demonstrou a agressividade com que muitas pessoas perseguem um fenômeno que consideram herético. Apenas a intervenção policial conseguiu evitar uma tragédia.
O que provocou a ira popular nesse caso foi que alguns moradores viram sair da casa da "chowafa" um gato que tinha seus lábios costurados com fios porque levava na boca a foto de um homem: todo marroquino sabe que essa feitiçaria é uma das mais recorrentes para submeter a vontade de uma pessoa.
Isso porque as práticas da feitiçaria são muito populares, mas ao mesmo tempo seus autores são rejeitados socialmente. Uma ambivalência que se encontra na própria tradição islâmica, que admite o poder do mau-olhado e dos 'djin', ou gênios, ambos mencionados no Alcorão; mas condena a prática da feitiçaria como um "pecado capital".
Segundo um estudo publicado em 2012 pelo instituto americano Pew Research Center, 80% dos marroquinos crê no mau-olhado e 78% confia no poder da bruxaria.
Há duas figuras principais que se dedicam a este ofício no Marrocos. Uma delas é a chowafa "multitarefa" que prevê o futuro, cura o efeito de uma maldição ou um feitiço que ela mesma prepara para ferir alguém.
Junto a ela está o "fkih", uma espécie de curandeiro religioso que usa o Alcorão para fins terapêuticos para curar pessoas que sofrem de mau-olhado, ou que estão habitadas por gênios que só poderão ser despejadas em sessões de exorcismo.
As duas figuras tornaram-se as mais capacitadas para curar os males sobrenaturais, e até mesmo doenças que em outros lugares seriam tratadas por psiquiatras e psicólogos, pois para muitos marroquinos os problemas mentais são provenientes de uma maldição.
Quando um cliente visita uma chowafa, sai de lá com uma receita quase secreta de distintas substâncias para atingir seus fins. A mistura será fornecida por um herborista, presente em todos os mercados do país, cuja fachada é a venda de especiarias, plantas e frutos secos, mas que também vende peles ou líquidos de animais, ninhos de certos pássaros e outras substâncias inconfessáveis.
Mustafa (nome fictício) é um destes herboristas da Medina de Rabat, e só fala em voz baixa e quase nunca a um jornalista.
"Algumas pessoas vêm até nós com receita de uma chowafa, outros preferem contar a sua doença e nos pedem conselhos. É como ir até uma farmácia ao invés de um médico", afirmou Mustafa à Agência Efe, acrescentando que esta atividade pode gerar enormes lucro em apenas um dia (uma receita pode custar até 1.500 dirhams, cerca de R$ 525), algo melhor que "passar todo o mês vendendo tâmaras, amêndoas ou pimentão".
Aço em pequenas lâminas, grãos de pedra de âmbar ou pedaços do ninho de uma cegonha são algumas das substâncias mais pedidas para curar doenças comuns, ajudar uma mulher a encontrar um marido, eliminar o azar, trazer êxito profissional e até ganhar eleições.
O próprio Mustafa contou que foi vítima de um feitiço de uma ex-namorada que lhe impedia de sentir atração por outras mulheres, até que visitou uma chowafa que o ordenou a jogar o aço e um talismã que preparou em um braseiro e saltar sobre a fumaça para remover o mal.
Após o salto, Mustafa logo encontrou outra namorada.
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