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Rebeldes queimam "bruxas" para impor controle na República Centro-Africana

26/11/2015 10h31

Por Tom Esslemont

BANGUI (Thomson Reuters Foundation) - Rebeldes da República Centro-Africana sequestraram, queimaram e enterraram vivas "bruxas" em cerimônias públicas, explorando superstições amplamente disseminadas para conseguir impor seu controle em áreas desse país devastado pela guerra, de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas.

O relatório elaborado por funcionários da ONU no âmbito dos direitos humanos, visto exclusivamente pela Thomson Reuters Foundation, contém fotografias chocantes de vítimas amarradas a estacas de madeira sendo conduzidas ao fogo, bem como torsos carbonizados de pessoas que foram submetidas ao ritual.

Segundo o relatório, a tortura ocorreu entre dezembro de 2014 e início de 2015 sob a instrução de líderes da milícia cristã "anti-Balaka", de maioria cristã, que combate rebeldes Seleka em todo o país há mais de dois anos.

A República Centro-Africana mergulhou na violência sectária quando rebeldes muçulmanos tomaram momentaneamente o controle do país, de maioria cristã, em março de 2013. A escalada da violência em ambos os lados semeou o descontrole em todo o interior.

Eleições presidenciais e parlamentares que substituirão um governo de transição e contam com apoio internacional estão previstas para 27 de dezembro, após repetidos atrasos, mas há preocupações generalizadas de mais derramamento de sangue durante a campanha.

Embora a crença em feitiçaria seja comum em toda a África, os investigadores da ONU disseram que aparentemente os rebeldes cristãos recorreram a essas superstições para intimidar, extorquir dinheiro e exercer autoridade sobre áreas sem lei.

"A feitiçaria está firmemente entrincheirada (na República Centro-Africana) e a ausência de autoridade estatal cria um terreno fértil para uma espécie de justiça popular distorcida pelos anti-balakas para seu benefício", disseram os investigadores.

O relatório, produzido por uma equipe de trabalho para a missão de estabilização da ONU, conhecida como Minusca, salienta que há informações de que 13 ataques contra vítimas com idade entre 45 e 70 ocorreram perto de Baoro, em Nana-Mambere, uma das 14 subdivisões do país.