Guerra Israel-Hamas: populações de países árabes estão unidas pela "causa palestina"
A Liga dos 22 países árabes realiza uma reunião de emergência nesta quarta-feira (11) para tratar do conflito entre o Hamas e Israel. A situação dos palestinos na Faixa de Gaza provoca fortes reações no mundo árabe, por vezes discordantes entre os governos e as suas populações nas ruas.
Desde o ataque lançado no sábado (7) pelos extremistas do Hamas contra o sul de Israel, foram registradas mais de 1.200 mortes do lado israelense e 1.055 do lado palestino, de acordo com o último balanço. A operação militar israelita e o estado de sítio contra a Faixa de Gaza continuam, o que tem gerado desaprovação entre os estados árabes. Eles denunciam os ataques contra civis palestinos e exigem o fim da "agressão", conforme relata o correspondente da RFI no Cairo, Alexandre Buccianti.
As reações não são unânimes, contudo, quando se trata dos ataques contra Israel executados por movimentos palestinos armados dentro da operação batizada pelo Hamas de "Tempestade de Al-Aqsa" (nome da mesquita de Jerusalém que constitui o terceiro local mais sagrado de Israel), mais de um terço dos estados árabes que têm relações normalizadas com Israel condenaram os ataques a civis. Entretanto, culparam Israel pela violência, acusando o Estado judeu de ter bloqueado o processo de paz e de aumentar as provocações contra os palestinos.
A pedido da Palestina, a Liga dos 22 Estados Árabes realiza, nesta quarta-feira, uma reunião extraordinária ministerial no Cairo, no Egito. O comunicado final refletirá as posições dos Estados que compõem a Liga Árabe: uma condenação unânime de Israel e um apelo ao "fim dos ataques contra os palestinos", mas nenhuma medida concreta além de iniciativas diplomáticas.
Povo árabe nas ruas
Já a reação das ruas é mais virulenta, esmagadoramente a favor da causa palestina, mesmo entre cidadãos árabes de países que, como o Egito, fizeram a paz com Israel há mais de quarenta anos.
No Egito, um agente da polícia disparou contra turistas israelenses no primeiro dia da ofensiva do Hamas contra o Estado judeu. Os egípcios, tal como os cidadãos de outros países que normalizaram as relações com Israel, aceitaram uma regularização diplomática considerada amarga do ponto de vista político e econômico.
Os analistas acreditam que se a guerra contra Gaza durar, a pressão das ruas forçará alguns estados a questionar a normalização com Israel.
Na Tunísia, apoio total do povo aos palestinos
Na Tunísia, após as declarações do Presidente Kaïs Saïed em apoio aos palestinos, logo após o ataque do Hamas contra Israel, vários grupos comerciais, bem como a população, organizaram manifestações em Túnis, em solidariedade aos palestinos. Depois dos torcedores de futebol, este fim de semana, e dos sindicalistas, em várias cidades do país, foi a vez da Ordem dos Advogados de Túnis de se manifestar, na terça-feira (10).
O país tem uma relação histórica e cultural com a Palestina, desde que a Tunísia acolheu os palestinos na década de 1980. Muitos tunisianos também se lembram do dia 1º de outubro de 1985, quando a sede da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em Hammam Chott, no subúrbio da capital, foi bombardeada por um ataque aéreo israelense, matando 68 pessoas, incluindo 18 tunisianos, relembra a correspondente da RFI no país, Lilia Blaise.
O posicionamento da Tunísia não é novo, explica Ghassen Ghribi, membro da associação de jovens advogados tunisianos. "A causa palestina sempre foi um tema humanitário central nos nossos debates e, como advogados e defensores dos direitos humanos, é ainda mais importante. Esta não é a primeira vez que nos manifestamos em apoio aos palestinos. Já fomos até à Justiça internacional para apresentar uma queixa no contexto de confrontos passados", acrescenta.
Nos últimos dias, o Presidente Kaïs Saïed tem afirmado repetidamente apoio total ao povo palestino. Uma posição que é objeto de consenso entre a população, apesar da crise política e econômica do país. "Hoje, apesar das diferenças políticas, sejam a favor ou contra Kaïs Saïed, a causa do movimento palestino une todos os tunisianos", continua.
Milhares de apoiadores em Amã
Na Jordânia, onde uma grande parte da população é favorável à Palestina, cada vez mais famílias jordanianas saem às ruas. Duas manifestações ocorreram na noite de terça-feira, em Amã, na Jordânia, relata Mohamed Errami, correspondente da RFI Amã. Gritos e palavras de ordem a favor da Palestina foram ouvidos durante quase duas horas, em frente à mesquita Al-Hussein.
A manifestação reuniu milhares de pessoas e teve a particularidade de transcender divisões políticas. Além do partido Irmandade Muçulmana, aliado do Hamas, e de jordanianos do partido nacionalista de esquerda, o ato reuniu cidadãos como Ali, um estudante de direito de 23 anos. "Estamos todos reunidos hoje para mostrar o nosso apoio ao povo palestino. Mesmo pessoas que não estão na política como eu, todos nós saímos às ruas", destaca o jovem.
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Quero receberA Jordânia compra água, eletricidade e gás de Israel. A mensagem enviada ontem à noite foi muito clara: fechem a embaixada israelense e cancelem todas as relações com o país vizinho. "Exigimos que haja uma mudança real nas relações entre a Jordânia e Israel", continua Ali. "Que o governo tome medidas reais nesta direção. Há anos que pedimos o fim destas relações, das mais importantes às mais simbólicas", completa. Uma nova manifestação será realizada na sexta-feira (13), no centro de Amã.
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