A associação de facções criminosas com lideranças evangélicas no Rio de Janeiro está em franco desenvolvimento.
A Tropa de Arão, por exemplo, domina já há algum tempo uma vasta área de favelas, chamada Complexo de Israel, em referência à "terra prometida" para o "povo de Deus".
Nessa modalidade, a facção exige conversão e práticas religiosas específicas para adesão e permanência na organização.
Inspirada na "gramática pentecostal", essa facção adotou referências bíblicas, como o nome do irmão de Moisés, para sua identidade.
As comunidades de Parada de Lucas, Vigário Geral e o Complexo de Israel foram eleitas como redutos da Tropa, onde símbolos religiosos, como a estrela de Davi, são amplamente exibidos.
A posição ocupada pela Tropa de Arão, sob o comando de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Arão, está em crescente expansão.
Divulgação/Polícia Civil do RJ
Ao exercerem autoridade paraestatal nas comunidades onde estão instaladas, lutam constantemente por novas ocupações territoriais para ampliar o seu potencial de vendas.
Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo
A diferença entre elas, explica Fábio Chaim, advogado especializado em Direito Criminal, acaba sendo o aspecto religioso e as práticas adotadas, inclusive com forte intolerância com relação às religiões africanas.
Impera a visão de que os conflitos armados, oriundos da relação entre as facções criminosas e com o Poder Público, seriam nada mais do que uma "guerra santa".
ROMMEL PINTO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
A Tropa de Arão possui uma conexão com o chamado Terceiro Comando Puro, rival do Comando Vermelho, mas aparenta tratar-se de uma facção independente, explica Chaim.
Mas, afinal, a tropa é composta por traficantes que se tornaram evangélicos ou evangélicos que se tornaram traficantes?
Eduardo Anizelli - 31.jan.2024/Folhapress
Os ideais se misturam, pois segundo estudiosos, seus membros são traficantes que participam da "vida do crime" e da vida religiosa evangélica.
Eles participam de cultos, pagam o dízimo e até patrocinam apresentações de artistas gospel na comunidade.
"Essa influência de religiões sobre as dinâmicas de poder do tráfico sempre existiu, e não é algo particular ao protestantismo", explica o advogado.
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