"O efeito Trump" para os imigrantes mexicanos e brasileiros
O México é o país que mais tem sofrido com o novo presidente dos Estados Unidos. De cara, houve o anúncio da revisão ou da próxima extinção do Nafta, cujas consequências serão catastróficas para as exportações e a economia mexicana. Em seguida houve a conversa truculenta de Trump com o presidente Enrique Peña Neto e a confirmação de que os Estados Unidos levantarão um muro na sua fronteira meridional, obrigando o México a pagar a conta. Enfim, veio o anúncio da nova política trumpiana de busca e expulsão dos imigrantes clandestinos. Antes deste anúncio, já havia sido observado que a nova política americana provocaria uma crise econômica no México, aumentando a imigração clandestina para os Estados Unidos.
Um estudo do Business Insider, considerado um dos mais influentes sites de informação econômica e financeira, mostra que o México é o terceiro parceiro comercial dos EUA, depois da China e do Canadá (nesta ordem). Embora as trocas EUA-México representem pouco para os Estados Unidos, elas pesam bastante na economia mexicana. Assim, o superavit comercial do México com os Estados Unidos representa 5% do PIB mexicano. Sem contar as somas enviadas ao seu país pelos imigrantes mexicanos, que atingiram US$ 25 bilhões em 2015, ultrapassando o valor das exportações mexicanas de petróleo (US$ 18,5 bilhões de dólares). Durante a campanha presidencial, Trump ameaçou bloquear estas remessas, caso o México não financiasse a construção do muro entre os dois países.
Neste contexto de tensão e animosidade, Rex Tillerson, Secretário de Estado (equivalente ao ministro de Relações Exteriores) e John Kelly, Secretário de Segurança Nacional, viajaram nesta quarta-feira (22) para o México, com o fito de discutir a política imigratória americana com seus homólogos do governo mexicano.
Dentre os 11,1 milhões de imigrantes clandestinos nos Estados Unidos, 52% são mexicanos, mas essa porcentagem tem caído nos últimos anos, segundo dados da Pew Research Center relativos a 2014. Observe-se que 66% dos imigrantes clandestinos, incluindo aí mexicanos, brasileiros e muitas outras nacionalidades, vivem nos Estados Unidos a mais de 10 anos. No decorrer deste tempo, muitos desses indivíduos deram uma falsa declaração para encobrir sua estadia ilegal. Ocorre que clandestinos sejam levados a comprar um falso número e atestado de segurança social, identidade básica de toda pessoa residente nos Estados Unidos. Segundo outro estudo da Pew, a maioria dos clandestinos vive em 20 zonas metropolitanas que incluem Los Angeles, Miami, Nova York e Boston.
Com as medidas de repressão de Trump, qualquer imigrante ilegal acusado de um delito, mesmo sem ter sido julgado e presumidamente inocente, pode ser expulso dos Estados Unidos. Ao fim, são centenas de milhares de famílias, muitas delas bem enraizadas nos Estados Unidos, que passam a viver intranquilas, tirando os filhos das escolas, tendo novas despesas com advogados, escondendo-se ou expondo-se à chantagem de delatores.
Num editorial datado de quarta-feira, o New York Times condena sem ambiguidades a virada repressiva da política imigratória. O tema mobiliza a opinião pública e a diplomacia mexicana.
Deveria também preocupar as autoridades e a opinião pública brasileiras. Segundo um estudo do Migration Policy Institute, sediado em Washington e especializado no assunto, havia 336 mil imigrantes brasileiros vivendo nos Estados Unidos em 2014. Dentre eles, o número de clandestinos se situava entre 70 mil e 110 mil. É possível que haja subestimação no número total. Mas a proporção corresponde ao que se sabe : dependendo do nível de controle nas fronteiras, a proporção de imigrantes ilegais oscila entre 1/3 e 1/5 do total de imigrantes brasileiros nos EUA. Não é pouca gente.
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