O assassinato de Kennedy: novos documentos e velhas conspirações
Na semana passada o presidente Donald Trump anunciou que poderá liberar a documentação sigilosa sobre o assassinato do presidente John Kennedy, em Dallas, em 22 de novembro de 1963. O fato se deve à resolução da comissão criada pelo Congresso em 1992, determinando que a publicação de todos os documentos sobre o crime fosse autorizada 25 anos mais tarde, isto é, em 2017. Concretamente, há cerca de 5 milhões de páginas de processos, investigações e depoimentos sobre o assassinato no National Archives, em Washington. Grande parte dos documentos, 88% do total, está disponível em livre acesso. Mais 11% do material foi parcialmente liberado com cortes. O restante, cerca de 1% do total, são documentos totalmente confidenciais. A decisão de Trump concerne, portanto, a publicação integral dos documentos sob embargo parcial ou total.
Há milhares de artigos, livros, filmes, documentários e publicações diversas sobre o assassinato de Kennedy por Lee Oswald. Muitos deles defendem, refutam ou geram teorias conspiratórias. Há explicações de todos os vieses ideológicos apontando os supostos autores do complô que levou à morte de Kennedy: a Máfia, a CIA, os castristas, os anticastristas, a URSS, o então vice-presidente Lyndon Johnson etc.
Neste contexto, o que pode haver de novo nos documentos a serem liberados? Segundo o "Washington Post", haverá novidades sobre Lee Oswald. Dois meses antes do assassinato, Oswald foi à capital mexicana para tentar encontrar agentes soviéticos e cubanos. Depois de falar abertamente em assassinar Kennedy, ele entrou no radar da CIA e passou a ser seguido de perto. Dois reconhecidos especialistas no assunto, Philip Shenon e Larry J. Sabato retomam, num artigo publicado recentemente no site noticioso Politico, este assunto. Segundo eles, a CIA e o FBI, sabiam muita coisa sobre Oswald e, se tivessem agido logo, a morte de Kennedy poderia ter sido evitada.
O assunto ainda é palpitante nos Estados Unidos. Vira e mexe, a tragédia de Dallas repercute de novo na política americana. No ano passado, nas primárias republicanas, Trump abriu outro episódio conspiracionista. Depois de perder o apoio de Ted Cruz, senador da Flórida, Trump disse que Rafael Cruz, exilado anticastrista e pai do senador, estava envolvido com Lee Oswald antes do assassinato de Kennedy. Com o anúncio da liberação dos documentos sigilosos esta estória voltou à tona.
Os especialistas de maior credibilidade são favoráveis à divulgação integral de todos os documentos para encerrar o drama que começou em Dallas há 54 anos. Obviamente, a comunidade de segurança americana não está de acordo e pretende conservar uma parte dos documentos sob sigilo. Seja para esconder a identidade de agentes ainda em vida, ou para cobrir a incompetência do FBI e da CIA na altura do assassinato.
Dependendo da decisão final de Trump, as teorias conspiratórias continuarão proliferando, como reconhecem os mais pessimistas. O pior de tudo, escrevem Shenon e Sabato no artigo citado acima, será a manutenção do embargo sobre uma parte dos documentos. Tal decisão, dizem eles, consolidará a ideia corrente entre o batalhão de conspiracionistas americanos que pensam que 54 anos após os fatos, "a verdade sobre o assassinato continua sendo escondida".
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