Topo

A crise na Arábia Saudita

8.out.18 - Defensores dos direitos humanos seguram foto de Jamal Khashoggi em frente ao consulado saudita em Istambul, Turquia - Murad Sezer/Reuters
8.out.18 - Defensores dos direitos humanos seguram foto de Jamal Khashoggi em frente ao consulado saudita em Istambul, Turquia Imagem: Murad Sezer/Reuters

12/10/2018 16h15

O provável sequestro e assassinato do oposicionista saudita Jamal Khashoggi, perpetrado no consulado da Arábia Saudita na capital da Turquia, terá graves consequências. As autoridades turcas publicaram fotos de agentes sauditas desembarcados em Ankara na altura do desaparecimento de Khashoggi.

O grupo teria assassinado e esquartejado o corpo da vítima para não deixar rastros no consulado e na residência do cônsul saudita. Os governos da Turquia, do Reino Unido, da França e, sobretudo, os Estados Unidos, manifestaram sua preocupação, pedindo explicações ao governo saudita. Residente permanente na Virginia e colunista do Washington Post, Khashoggi era conhecido e bem relacionado na América do Norte e na Europa. 

Apresentado até então como um reformador e modernizador, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, conhecido também pela sigla de seu nome, MBS, tem agora seu prestígio abalado. Malgrado a tirania que pesa sobre seu país e a sangrenta intervenção militar saudita no Iêmen, MBS fez uma muito bem sucedida viagem nos Estados Unidos em março deste ano.

Recebido na Casa Branca por Donald Trump, MSB recebeu logo do presidente americano a notícia de que havia sido autorizada a venda de $12,5 bilhões de armas para a Arábia Saudita, prometendo assegurar mais vendas ainda. Mohammed bin Salman não fez por menos e declarou que seu país contava investir $400 bilhões em negócios nos EUA nos próximos quatro anos.

Parte da mídia americana ampliou os alegados bons propósitos de MBS. O canal CNBC apresentou uma reportagem intitulada: "Mohammed bin Salman está trazendo transformações no estilo do Silicon Valley para a Arábia Saudita". O programa de entrevistas 60Mimutes, veiculado nos domingos às 19h30 (horário local) pela rede CBS e considerado o mais influente dos EUA, entrevistou MBS apresentando-o como um "revolucionário" que "emancipava as mulheres", numa sociedade notoriamente discriminatória. Mas os detalhes do desaparecimento de Jamal Khashoggi após sua entrada no consulado saudita em Ankara são tenebrosos. Neste contexto, a imagem de Mohammed bin Salman mudou. MSB aparece agora como um tirano sem escrúpulos.

O agravamento da crise põe em cheque o plano americano de constituir no Oriente Médio uma aliança militar centrada na Arábia Saudita sunita contra o Irã xiita. Provavelmente, aumentarão as resistências no Congresso a novas vendas de armas aos sauditas.

O desprestígio de MSB se acelerou nos últimos dias. O evento programado para os dias 23-25 deste mês na capital saudita, a "Future Investment Initiative", chamado de "Davos do deserto", onde Mohammed bin Salman vai mostrar seus projetos faraônicos, está sendo boicotado por grandes órgãos de imprensa e empresários ocidentais.

Um destes projetos é a megacidade Neom. Iniciado por MSB, Neom tem um custo previsto de US$ 500 bilhões para instalar, perto da fronteira saudita com a Jordânia e o Egito, uma cidade com internet banda larga gratuito que teria em 2030 o maior PIB per capita do mundo. Dias atrás, o governo saudita anunciou que executivos americanos importantes haviam integrado o Conselho Consultivo de Neom. Horas depois, começaram a se acumular os desmentidos e a saída de executivos do tal Conselho, na sequencia do envolvimento de MSB no sequestro e provável morte de Jamal Khashoggi