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A esperança que vem de Paris para o meio ambiente

30.nov.2015 - Pedestres e policiais caminham pela praça Tiananmen durante dia bastante poluído em Pequim - Kim Kyung-Hoon/Reuters
30.nov.2015 - Pedestres e policiais caminham pela praça Tiananmen durante dia bastante poluído em Pequim Imagem: Kim Kyung-Hoon/Reuters

14/12/2015 15h55

O acordo do clima de Paris salvou a civilização? Talvez. Isso pode não soar como um sonoro endosso, mas na verdade é a melhor notícia do clima que temos em muito tempo. Esse acordo ainda pode seguir o caminho do Protocolo de Kyoto de 1997, que parecia um grande acordo, mas acabou sendo totalmente ineficaz. Mas ocorreram mudanças importantes no mundo de lá para cá, que podem ter finalmente criado as condições iniciais para uma ação a respeito do aquecimento global antes que seja tarde demais.

Até muito recentemente, havia dois enormes obstáculos para se chegar a qualquer tipo de acordo global para o clima: o crescente consumo de carvão pela China e a oposição implacável do Partido Republicano nos Estados Unidos. O primeiro parecia indicar que as emissões globais dos gases do efeito estufa aumentariam inexoravelmente, independente mente do que os países ricos fizessem, enquanto o segundo significava que o maior desses países ricos era incapaz de fazer promessas críveis, sendo portanto incapaz de liderar.

Mas ocorreram duas mudanças importantes em ambas as frentes.

De um lado, há uma mudança visível na postura chinesa –ou uma mudança que seria visível se a neblina de poluição não fosse tão densa. Falando sério, a China enfrenta uma enorme crise de qualidade do ar, causada em grande parte pela queima de carvão, o que a torna bem mais disposta a reduzir a pior forma de consumo de combustível fóssil. E o crescimento econômico da China –a renda real per capita quadruplicou desde 1997– também significa que há uma classe média em rápido crescimento que exige uma melhor qualidade de vida, o que inclui um ar relativamente seguro para se respirar.

Assim, a China está exercendo um papel muito diferente agora do que no passado. Um indicador: alguns dos suspeitos habituais da direita de repente mudaram seu discurso. Eles costumavam argumentar que limites às emissões americanas seriam inúteis, porque a China continuaria poluindo; agora estão começando a argumentar que uma ação americana não é necessária, porque a China reduzirá o consumo de carvão independentemente do que fizermos.

O que nos traz às posturas dos republicanos americanos que não mudaram, exceto para pior: o Partido Republicano está mergulhando em parafuso em um buraco negro de negação e teorias conspiratórias anticiência. A notícia fundamental é que isso pode não importar tanto quanto pensávamos.

É verdade que os Estados Unidos não podem adotar uma ação ampla a respeito do clima sem novas legislações e isso não acontecerá enquanto os republicanos controlarem a Câmara. Mas o presidente Barack Obama limitou as emissões das usinas elétricas –uma grande parte da solução que precisamos– por meio de uma ação executiva (algo como uma medida provisória no Brasil). E essa medida teve o efeito de restaurar a credibilidade americana no exterior em relação ao clima, permitindo que Obama assumisse um papel de liderança em Paris.

Mesmo assim, que motivos existem para acreditarmos que o acordo realmente mudará a trajetória do mundo? As nações concordaram tanto em metas de emissões quanto em uma avaliação regular de seu sucesso ou fracasso no cumprimento dessas metas, mas não há penas fora a censura aos países que fracassarem em cumprir.

E atingir essas metas de emissões certamente ferirão alguns interesses especiais poderosos, já que isso significaria deixar grande parte dos combustíveis fósseis restantes no solo, para nunca serem queimados. Logo, o que impedirá o setor de combustíveis fósseis de comprar políticos suficientes para transformar o acordo em uma carta morta?

A resposta, eu sugeriria, é que novas tecnologias mudaram fundamentalmente as regras.

Muitas pessoas ainda acreditam que energia renovável é sonho de hippie, não uma parte séria de nosso futuro. Ou isso, ou acreditaram na propaganda que a retrata como uma espécie de elefante branco liberal (Solyndra! Benghazi! Painéis da morte!) Mas a realidade é que o custo da energia solar e eólica despencou drasticamente, a ponto de estarem próximas de serem competitivas com os combustíveis fósseis sem a necessidade de incentivos especiais –e o progresso no armazenamento de energia torna as perspectivas delas ainda melhores. Energia renovável também se tornou uma grande empregadora, muito maior atualmente que a indústria do carvão.

Essa revolução em energia tem duas grandes implicações. A primeira é que o custo da redução acentuada das emissões será muito menor do que até mesmo os otimistas presumiam –os alertas sombrios da direita costumavam ser em grande parte tolice, mas agora são uma tolice completa. A segunda é que dado um estímulo moderado –do tipo que o acordo de Paris pode fornecer– a energia renovável pode gerar rapidamente novos grupos de interesse com uma participação positiva no salvamento do planeta, oferecendo um contrapeso para os Kochs da vida e semelhantes.

É claro, tudo poderia facilmente dar errado. Um presidente Ted Cruz ou um presidente Marco Rubio poderia descartar todo o acordo, e quando tivéssemos outra chance de fazer algo a respeito do clima poderia ser tarde demais.

Mas isso não precisa acontecer. Não acho que seja ingenuidade sugerir que o que saiu de Paris nos dá uma razão real para ter esperança em uma aérea onde a esperança tem sido escassa demais. Talvez, depois de tudo, nós não estejamos condenados.