Topo

Esperança em meio a mudanças

Andrew Caballero-Reynolds/AFP
Imagem: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Richard Branson

28/11/2016 00h01

Eu estive recentemente em Washington D.C. e em Nova York para a estreia de “Don’t Look Down”, um novo documentário sobre minhas aventuras no balonismo, e ficou óbvio que muitos americanos estão com raiva e medo devido à eleição presidencial deste mês.

Ao longo dos anos, visitei os Estados Unidos inúmeras vezes, e aprendi muito tocando negócios no país. Embora “esperança” possa não parecer uma palavra adequada para descrever as divisões do país neste momento, sei que os americanos têm experiências diversas de vida e eles sempre serão unidos pela esperança.

Desde as eleições, também venho pensando bastante sobre o impacto que o longo ciclo político teve sobre as mulhere s—em especial as mulheres jovens— considerando a retórica misógina que foi usada durante a campanha e após a votação. Política à parte, sei o impacto que palavras podem ter sobre jovens que estão começando suas vidas e carreiras, mais especificamente no mundo dos negócios.

Minha filha Holly já é adulta. Ela é uma médica talentosa e uma empresária realizada. Mas se ela tivesse 16 anos hoje, meu conselho a ela seria: Never mind the bollocks. [N.T. Em tradução livre, “não ligue para as besteiras”, mas também uma referência ao álbum da banda Sex Pistols, lançado pela Virgin Records, de Richard Branson]. Não deixe que os outros a definam. Continue trabalhando naquilo em que você acredita, e não desista.

Quando comecei a entrar no mundo dos negócios, havia pouquíssimas mulheres em cargos de poder a quem jovens mulheres pudessem olhar como inspiração. Desde então, o mundo virou de cabeça para baixo (graças a Deus!) e, como todos sabemos, muitos dos líderes dinâmicos, criativos e inteligentes de hoje nos negócios, na política e nas ONGs são mulheres. Eu me inspirei em várias delas, desde Sheryl Sandberg do Facebook até a filantropa e empresária Melinda Gates, passando por Jayne-Anne Gadhia, presidente da Virgin Money.

Você pode reconhecer ou não, mas o mundo mudou, e essa mudança na direção de uma inclusão e uma diversidade tornou nossos negócios indiscutivelmente mais bem-sucedidos e inovadores, fortalecendo nossas comunidades.

É claro que há muito trabalho ainda a ser feito para se melhorar o equilíbrio entre os gêneros, inclusive na Virgin, mas não consigo imaginar onde nossas empresas e nossa sociedade estariam sem todas as brilhantes e motivadas líderes mulheres que temos hoje.

Se não continuarmos incentivando mulheres e garotas a almejar o topo, estaremos deixando de lado mais da metade de nossos talentos. Foi com isso em mente que a Virgin America fez uma parceria tanto com o LinkedIn quanto com o LeanIn.org, uma organização liderada por Sandberg, em uma campanha para incentivar as mulheres a irem atrás de suas ambições profissionais e compartilhar suas histórias de carreira.

Além de disponibilizar gratuitamente sessões de desenvolvimento profissional em voos da Virgin America, equipados com Wi-Fi de alta velocidade, também batizamos de “Lady Boss” algumas naves Airbus A320, um lembrete de que o céu não é o limite para as mulheres em papéis de liderança.

Como mencionei, há muito mais trabalho a ser feito. E embora o teto de vidro definitivo não tenha sido quebrado nos Estados Unidos no começo deste mês, eu sei que isso acontecerá algum dia —e espero que isso aconteça em um futuro próximo.

O lado bom

Eu acredito que seja possível encontrar o lado bom de cada situação, então acho que vale a pena ressaltar alguns pontos positivos em relação à política sobre drogas que emergiram com a última eleição.

No dia 8, eleitores da Califórnia, de Nevada e de Massachusetts votaram a favor da legalização e da regulação da produção, venda e consumo da maconha, enquanto Montana, Dakota do Norte e Flórida aprovaram leis sobre maconha medicinal. Até uma década atrás, pouquíssimas pessoas teriam acreditado que o fim da proibição da maconha no país poderia de fato estar ao alcance.

Como escrevi recentemente em um artigo, os milhões de pessoas que foram detidas por porte ou venda de maconha, e depois encarceradas por conta de leis de sentença obrigatória, muitas vezes são proibidas de obter qualquer lucro com o mercado legal de maconha. A partir de um ponto de vista empresarial, isso não somente é injusto, como também proíbe que pessoas com verdadeira experiência no negócio de maconha contribuam para esse setor incipiente.

Espero que o novo presidente eleito reconheça que a guerra contra as drogas tem sido um fracasso colossal e custoso, e que ele continue a apoiar as reformas da justiça criminal e das políticas sobre as drogas iniciadas pelo presidente Obama e muitos corajosos governos estaduais.

Tenho certeza de que haverá mais pequenos passos positivos pela frente. Enquanto isso, estou ansioso por muito mais anos de viagens para os Estados Unidos para visitar nossa brilhante equipe e clientes maravilhosos.