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Por que eu (ainda) apoio o Obamacare

No dia 28 de junho, a maioria da Suprema Corte americana manteve a ampla reforma da saúde promovida pelo presidente Barack Obama - Stephen Crowley/The New York Times
No dia 28 de junho, a maioria da Suprema Corte americana manteve a ampla reforma da saúde promovida pelo presidente Barack Obama Imagem: Stephen Crowley/The New York Times

13/11/2013 00h01

Em um recente fórum do “New York Times” em Cingapura, Eleonora Sharef, a cofundadora do HireArt, explicava o que os novos empregadores procuram nos candidatos a empregos, mas chamou mesmo a atenção da plateia quando mencionou que sua empresa de contratação tinha sido instruída por um empregador para que não procurasse um candidato a uma vaga de marketing que não tivesse pelo menos 2.000 seguidores no Twitter --e quanto mais, melhor. Ela não revelou o nome da empresa, mas me disse que não era o Twitter.

Em um encontro com estudantes na Universidade de Fudan, em Xangai, poucos dias depois, me chamou a atenção quão ansiosos alguns estudantes chineses estavam diante da dúvida: “Será que eu terei um emprego?” Se você for um estudante de software na China, você se dará bem, assim como um operário de fábrica --mas o tradicional diplomado universitário? O “Times” noticiou neste ano que, atualmente, na China, “entre as pessoas com pouco mais de 20 anos, aquelas com diploma universitário apresentavam quatro vezes mais chance de estarem desempregadas do que aquelas apenas com diploma do ensino básico”.

Histórias como essas explicam por que eu realmente espero que o Obamacare (programa de reforma da saúde do presidente Barack Obama) seja bem-sucedida. Por quê?

Aqui está a lógica: A era da Guerra Fria na qual cresci era um mundo isolado por muros, tanto geopolíticos quanto econômicos, de modo que o ritmo de mudança era mais lento --você podia trabalhar para a mesma empresa por 30 anos—e, como os chefes tinham menos alternativas, os sindicatos tinham mais força. O resultado foi uma classe média construída com algo chamado salário alto ou decente para um emprego de qualificação média e os benefícios que o acompanhavam.

A proliferação desses empregos permitiu que muitas pessoas tivessem um estilo de vida de classe média --com menos educação e mais segurança-- porque não tinham que competir tão diretamente com um computador ou uma máquina capaz de fazer o trabalho deles mais rápido e melhor (disparadamente a maior fonte de eliminação de empregos) ou contra um indiano ou chinês capazes de fazer o trabalho deles mais barato. E por um estilo de vida de classe média, eu não falo apenas de tocar a vida. Eu falo de ter status: dinheiro suficiente para comprar uma casa, desfrutar de algum lazer e oferecer aos filhos a oportunidade de uma vida melhor que a sua.

Mas, graças à fusão da globalização com a revolução da tecnologia da informação que se desdobrou ao longo das duas últimas décadas --que está rápida e radicalmente transformando a forma como conhecimento e informação são gerados, disseminados e compartilhados para criação de valor--, “o emprego de qualificação média e alto salário acabou”, diz Stefanie Sanford, chefe de advocacia e políticas globais do College Board. Os únicos empregos de altos salários que apoiam o tipo de estilo de vida de classe média do passado são os altamente qualificados, exigindo um compromisso com educação rigorosa, adaptabilidade e inovação, ela acrescentou.

Mas será que até mesmo essa prescrição basta para criação um número suficiente de empregos com rendas decentes de classe média, pergunta James Manyika, que lidera uma pesquisa sobre tendências econômicas e tecnológicas no McKinsey Global Institute. Apesar dessas prescrições estarem certamente corretas, nota Manyika, elas “podem não ser suficientes para resolver a escala e natureza do problema”. O ritmo do crescimento da produtividade por meio da tecnologia, ele disse, sugere que nós poderemos não precisar de tantos trabalhadores para atingir níveis equivalentes de produção e produto interno bruto.

Como mostraram os economistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, no livro deles, “Race Against the Machine”, ao longo dos últimos dois séculos, produtividade, renda média e emprego costumavam crescer juntos. Não mais. Agora nós temos produtividade, riqueza e inovação recordes, mas a renda média está caindo, a desigualdade está crescendo e o desemprego elevado permanece persistente.

Certamente, como nota Manyika, algo semelhante aconteceu quando nós introduzimos a tecnologia na agricultura. Nós não precisávamos mais de tanta gente para produzir alimentos, então todo mundo passou a trabalhar no setor manufatureiro. À medida que o mesmo aconteceu ali, muitas pessoas migraram para o setor de serviços.

Mas agora, acrescenta Manyika, “uma parcela crescente dos serviços e trabalho de conhecimento bem remunerados está caindo vítima da tecnologia”. E apesar de novas empresas como o Twitter serem empolgantes, elas não empregam um grande número de pessoas em cargos de remuneração elevada. A economia e o setor de serviços ainda oferecerão empregos em grande número, mas muitos simplesmente não sustentam um verdadeiro estilo de vida de classe média.

Consequentemente, argumenta Manyika, a forma como pensamos no emprego para sustentar um estilo de vida de classe média pode precisar ser expandida para “incluir uma gama mais ampla de possibilidades para geração de renda” em comparação ao emprego tradicional com benefícios e um plano de carreira. Para estar na classe média, você pode precisar considerar não apenas empregos altamente qualificados, mas também “formas não tradicionais de trabalho”, explicou Manyika. O próprio trabalho pode ter que ser pensado como uma forma de empreendedorismo, onde você explora todo tipo de ativos e habilidades para geração de renda.

Isso poderia significar fazer usar suas habilidades por meio do Task Rabbit, ou seu carro por meio do Uber, ou seu quarto vago por meio do AirBnB para atingir uma renda de classe média.

No final, essa transição pela qual estamos passando pode provar ser mais empolgante do que as pessoas pensam, mas no momento, pedir a um grande número de pessoas para trocarem ser um funcionário por um empreendedor pode parecer assustador e incerto. Contar com uma rede nacional de segurança de saúde sob a vasta maioria dos americanos -para facilitar e permitir às pessoas fazer essa transição- é tanto moralmente certo quanto do interesse de todos que desejam uma sociedade estável.