Topo

Oferta de água no Oriente Médio pode cair pela metade até 2050

Andrea Wellbaum, do Cairo

22/03/2007 10h50

O Banco Mundial (Bird) alertou que se os países do Oriente Médio quiserem evitar um agravamento na falta de água na região, terão de cooperar uns com os outros.
Esta é uma das recomendações de um relatório divulgado recentemente pelo órgão, que traça um futuro seco para o Oriente Médio se não forem implementadas mudanças na administração da água.

"A disponibilidade de água per capita vai cair pela metade até 2050, com sérias conseqüências aos já sobrecarregados lençóis subterrâneos e sistemas hidrográficos naturais", alerta o documento.

A história recente do Oriente Médio não inspira grandes esperanças: o ex-primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, teria dito que a Guerra dos Seis Dias, em 1967, começou quando engenheiros sírios tentaram desviar parte do fluxo de água de Israel.

Após assinar o tratado de paz com o Estado israelense, em 1979, o presidente do Egito, Anwar Sadat, disse que seu país nunca mais lutaria em uma guerra, exceto para proteger suas fontes de água. O rei Hussein, da Jordânia, também já deu declarações neste sentido.

A questão da água está sempre presente nas negociações de paz entre israelenses e palestinos, já que os lençóis de água que abastecem Israel ficam na Cisjordânia e o rio Jordão corre por uma parte dos territórios ocupados.

Porém, na opinião da especialista em administração de recursos naturais, co-autora do estudo do Banco Mundial, Julia Bucknall, a falta de água atualmente "pode ser muito mais um veículo condutor para a paz do que para a guerra, como era antigamente".

"No nível técnico, até israelenses e palestinos estão conversando o tempo todo. A partir do momento em que os países perceberam que o problema da falta de água pode se tornar insolúvel se não for resolvido logo, os governos começaram a cooperar muito mais uns com os outros."

Oásis

O Oriente Médio é a região com menos disponibilidade de água por habitante - enquanto que 5% da população mundial vive na área, ela conta com apenas 1% da água fresca existente no planeta. Países como Egito, Argélia e Marrocos gastam entre 20% e 30% de seus orçamentos em suprimentos de água.

"Na medida em que as economias dos países da região e as estruturas populacionais mudarem nas próximas décadas, a demanda de água e os serviços de irrigação vão mudar, assim como a necessidade de tratar do problema da poluição industrial e urbana", alertou Bucknall.

Outro fator que deve tornar a situação ainda mais difícil é o aquecimento global. Quando o beduíno Salim Ataig, de 23 anos, era garoto, muitas pessoas da região onde ele mora, no sudoeste da Península do Sinai, no Egito, costumavam ir até um imenso oásis na região de Wadi Kid para pegar água e levar para casa.

"Hoje o oásis não existe mais. Agora, as pessoas da cidade de Dahab têm de usar água do mar desalinizada para tomar banho e lavar a louça", diz Ataig.

A opção para beber e cozinhar é comprar água coletada em oásis mais distantes, como o de Bir Ogda. Sessenta litros custam 16 libras egípcias (o equivalente a cerca de R$ 6) e costumam durar um ou dois dias para uma família de três ou quatro pessoas.

"Há cinco anos passou a chover muito menos aqui no Sinai. Antes disso, chovia todos os anos, mas agora não chove mais. Acho que se continuar assim vamos ter muitos problemas no futuro", prevê Ataig.

A diminuição de água de chuva por causa das mudanças climáticas também é um dos problemas mencionados no relatório do Bird. Porém, seus autores são otimistas e dão várias alternativas para solucionar o problema.

Comércio exterior

"Um dos fatores animadores é que 85% da água são usados para agricultura. Eles vão ter de passar a usar a água deles para as coisas que gerem a maior quantidade de dinheiro e emprego", afirmou Bucknall.

De acordo com ela, por ser mais fácil importar comida do que água, a região, que é abundante em sol, deve se concentrar em plantações de produtos como uvas, tomates, melões e morangos e importar produtos cujo plantio seja menos rentável.

A administração da água também tem de melhorar, segundo o relatório. "O mais importante é o poder público considerar a questão da água uma grande prioridade política", disse a autora.

As mudanças propostas incluem planejamento para integrar quantidade e qualidade de água, reforma tarifária para o fornecimento de água - muitos países subsidiam serviços de má qualidade quando os consumidores prefeririam pagar por um serviço de melhor qualidade -, além do fortalecimento de agências de governo.

"Nós sabemos que as opções que nós estamos dando não são fáceis e que elas envolvem mudanças dolorosas, mas a outra opção é pior."