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Defesa de general nega delação e diz que documento golpista foi descartado

A defesa do general Mário Fernandes, preso pela Polícia Federal após ter sido encontrado com ele a minuta de um documento golpista que previa o envenenamento do presidente Lula, afirma que ele não tem intenção de fazer um acordo de delação premiada e diz que o documento foi descartado pelo general sem ter sido apresentado ao então presidente Jair Bolsonaro.

O caso foi assumido recentemente pelo advogado criminalista Marcus Vinícius Figueiredo, de Brasília. Questionado pelo UOL se o general havia manifestado interesse em fechar uma delação, Figueiredo disse que ele está "tranquilo" sobre os fatos investigados. Trata-se da primeira manifestação pública da defesa a respeito do caso.

De jeito nenhum. O meu cliente não está delatando, justamente porque ele está tranquilo de que essa minuta não foi apresentada a absolutamente ninguém, a nenhum militar e a ninguém, absolutamente ninguém. A nenhum militar e nem ao [ex-]presidente Jair Bolsonaro
Marcus Vinícius Figueiredo, advogado do general Mário Fernandes

O general da reserva do Exército foi preso preventivamente pela PF no último dia 19 de novembro, na Operação Contragolpe. Na época dos fatos, ele trabalhava no Palácio do Planalto como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência. Em um aparelho eletrônico dele, foi encontrado um documento batizado de "Punhal Verde e Amarelo". A minuta descrevia detalhes de um plano com teor golpista que previa o envenenamento do presidente eleito Lula e de seu vice Geraldo Alckmin, além de um confronto com possível assassinato do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

O general da reserva Mario Fernandes, que foi secretário-executivo do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) no governo de Jair Bolsonaro (PL), em foto de 2022
O general da reserva Mario Fernandes, que foi secretário-executivo do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) no governo de Jair Bolsonaro (PL), em foto de 2022 Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A PF detectou que o documento foi impresso por Mário Fernandes no Palácio do Planalto em um horário no qual Bolsonaro estava lá dando expediente. O advogado afirmou ao UOL que os detalhes sobre o plano "Punhal Verde e Amarelo" serão esclarecidos ao STF, mas disse que o general Mário Fernandes descartou o documento antes de apresentá-lo a militares ou ao então presidente Jair Bolsonaro.

Essa minuta foi impressa no Planalto, como trata a representação e o relatório [da PF], e ela foi eliminada. Ninguém teve acesso a essa minuta, absolutamente ninguém. Tanto é que não existe uma minuta física a respeito desse tema. As especulações envolvendo o conteúdo dessa minuta ocorrem em razão de um arquivo eletrônico. É à Corte Suprema que ele vai dar as devidas explicações, diante de todas as especulações que a mídia vem apresentando a respeito do tema, inclusive de outros profissionais que representam outros investigados também se manifestando sobre ela. O que cabe ao meu cliente, por orientação da defesa, é respeitosamente se dirigir à Corte Suprema e apresentar explicações
Marcus Vinícius Figueiredo, advogado do general Mário Fernandes

O general também tinha formação no curso de Forças Especiais, uma espécie de unidade de elite do Exército. A PF aponta que os "kids pretos", como eram conhecidos, teriam um papel relevante para executar o golpe. A investigação detectou um outro documento que planejou uma ação dos militares das forças especiais em Brasília, no dia 15 de dezembro, para monitorar os passos do ministro Alexandre de Moraes. Esse documento, encontrado com outro militar, foi batizado de "Copa 2022".

Para a PF, o documento tinha relação com o planejamento previsto no "Punhal Verde e Amarelo". A defesa do general, entretanto, afirmou que ele não participou dessa ação dos 'kids pretos' e desconhecia o plano "Copa 2022". "O general não tinha conhecimento desse fato", disse o advogado. Ele também afirmou que o general não conhecia o documento que previa a instalação de um gabinete de crise encabeçado pelo general Walter Braga Netto após a ação golpista.

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Preso inicialmente no Rio, onde estava no dia da deflagração da operação, o general será transferido para Brasília por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes. Ele deve ficar em uma carceragem do Comando Militar do Planalto por causa de sua patente —ele só poderia ficar em uma unidade comandada também por um general.

Outros três militares ainda permanecem presos por causa das suspeitas de participação no plano de golpe. A Polícia Federal concluiu a investigação na semana passada e indiciou o general Mário Fernandes e outras 36 pessoas por tentativa de rompimento com o Estado democrático de direito.

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