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Aumento do número de carros causa enchentes, diz estudo

Adriana Stock, de Londres

26/03/2007 10h46

O aumento do número de carros em uma cidade pode ser uma das causas da ocorrência de enchentes.
Esta é uma das conclusões do relatório The Urban Environment feito pelo Royal Commission on Environmental Pollution (RCEP), comitê independente que dá consultoria ao governo britânico.

Embora o levantamento tenha sido feito para ser divulgado na Grã-Bretanha, uma das autoras disse à BBC Brasil que ele pode ser aplicado a "qualquer cidade do mundo".

"Pode, sim, ser aplicado à cidade de São Paulo, por exemplo. Devem existir outras causas para as enchentes lá, mas eu vejo uma relação com o aumento do número de carros", afirmou a professora Judith Petts, do Departamento de Administração de Risco Ambiental da Universidade de Birmingham e uma das autoras do relatório.

Judith explica que existe um complexo sistema no meio ambiente urbano em que vários fatores estão conectados.
"Se aumenta o número de carros nas ruas, há diversos impactos", diz a professora.
"O aumento do número de veículos levaria à maior demanda por estradas e estacionamentos. Já este último geraria o aumento de superfícies impermeabilizadas, que, por sua vez, impediria que a água da chuva fosse absorvida pelo solo. A água escorre pelas ruas e estradas e é poluída com o óleo dos carros, pedaços de pneus e lixo em geral. Isso, por fim, levaria a enchentes."

É uma complexa rede de "causas e efeitos" mas que se torna cada vez mais evidente à medida que as cidades se expandem - mais da metade da população mundial já vive em áreas urbanas, destaca o RCEP.

Judith diz que na Grã-Bretanha outro fato que tem agravado a situação é que as pessoas estão transformando os jardins na frente das casas em estacionamento.

Ao colocarem concreto impermeável no chão, a água da chuva também escoa para a rua.
Curitiba
Segundo Judith, uma das soluções para a redução de enchentes é diminuir o número de carros nas cidades.
"Isso envolve o governo, que terá que investir no desenvolvimento do transporte público. As áreas urbanas também precisam ser desenvolvidas de forma que os serviços estejam perto das casas das pessoas. Por fim, as superfícies precisam ser permeáveis", conclui.

No relatório, o comitê faz recomendações ao governo britânico para que elabore uma estratégia ampla para combater todos os fatores que têm um impacto negativo no meio ambiente urbano, usando, inclusive, soluções que já foram usadas por outros países, como o Brasil.

"Curitiba é um modelo de como cidades deveriam ser desenvolvidas ecologicamente e para a população", diz a professora da Universidade de Dundee Janet Sprent, que foi ao Brasil, há dois anos, a fim de coletar dados para o relatório.

"O transporte é bom, eles fizeram um bom uso do fornecimento de água, com uma rede de esgoto apropriada, enfim, muitas das coisas que recomendamos, mas, como em qualquer outro lugar, há problemas - em parte em função do próprio sucesso da cidade já que muitas pessoas querem morar lá e acabam trazendo mais carros."