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Dois terços da Grande Barreira de Corais sofrem danos 'sem precedentes'

Greg Torda, ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies
Imagem: Greg Torda, ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies

10/04/2017 08h21

Danos ambientais sem precedentes já afetam dois terços da Grande Barreira de Corais, da Austrália, um dos ecossistemas mais ricos do planeta.

Essa é a conclusão de um novo levantamento aéreo, que mostrou que o branqueamento dos corais chegou à porção central da barreira. Ano passado, análises mostraram que a parte norte também sofria com o problema. Somados, os eventos afetaram um trecho de 1,5 mil km de recifes.

O branqueamento ocorre quando os corais sofrem mudanças ambientais e expulsam as algas que vivem em seus tecidos. Com isso, eles perdem sua principal fonte de nutrientes e ficam mais suscetíveis à morte. O processo pode ocorrer por mudanças na temperatura da água e, por isso, é intensificado pelo aquecimento global.

Trata-se de um processo reversível, mas quanto mais impactado é o ambiente, mais difícil se torna a recuperação dos corais. Por isso, o professor Terry Hughes, da Universidade James Cook, cobrou urgência de governos em lidar com as mudanças climáticas para reverter, enquanto possível, o branqueamento da Grande Barreira.

"Desde 1998, vimos quatro desses eventos (de branqueamento), e o espaço entre eles variava bastante. Mas esse é o espaço mais curto já registrado", Hughes disse à BBC.

"Quanto antes agirmos contra a emissão de gases do efeito estufa e contra os combustíveis fósseis em favor das energias renováveis, melhor", acrescentou.

Golpe duplo

Quase 800 recifes de corais numa área de 8 mil km foram analisados pelo Conselho de Pesquisa Australiana, do Centro de Excelência para Estudos de Recifes de Corais. Os resultados mostraram que apenas a parte sul está relativamente intocada.

O pesquisador James Kerry acrescenta que os últimos danos registrados são "sem precedentes".

"O dano na parte central este ano foi tão severo em termos de branqueamento quanto o visto na parte norte no ano passado", disse Kerry à BBC.

"Para os recifes que foram afetados dois anos seguidos, é um golpe duplo. Eles ainda não tiveram chances de se recuperar dos eventos do ano passado".

Os últimos registros de danos ocorreram independentemente do fenômeno El Niño, o aquecimento anormal das águas na superfície no Oceano Pacífico Tropical que influencia padrões de vento no mundo todo, que costuma intensificar o branqueamento de corais.

A Grande Barreira abrange milhares de recifes de corais na costa nordeste da Austrália. Ela recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela ONU em 1981, por sua tamanha biodiversidade, que conta com 400 tipos de corais, 1,5 mil espécies de peixes e 4 mil de moluscos.

Segundo a ONU, é o local com "maior biodiversidade" entre os Patrimônios da Humanidade e, por isso, de uma "importância científica enorme e intrínseca".

Mais sobre o branqueamento

• O branqueamento dos corais é causado pelo aumento da temperatura da água devido ao efeito de correntes marítimas quentes.

• O processo é intensificado pelas mudanças climáticas, uma vez que os oceanos absorvem mais de 90% do calor da Terra.

• O branqueamento ocorre quando os corais impactados expulsam algas conhecidas como zooxantelas, que lhes dão cor.

• Se as condições voltarem ao normal, os corais podem se recuperar. Mas isso pode levar décadas, e se o impacto continuar, eles podem morrer.