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Sem plano de vacinação, general agora corre atrás para antecipar prazos

                                 Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello: após meses de inação do governo, a bomba agora estourou no colo dele                              -                                 ANDERSON RIEDEL/PR
Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello: após meses de inação do governo, a bomba agora estourou no colo dele Imagem: ANDERSON RIEDEL/PR

Colunista do UOL

09/12/2020 14h05

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"Ainda não temos um plano", concluíram os especialistas do Observatório Covid-19 BR, um projeto multidisciplinar que reúne os centros de pesquisa mais importantes do país, ao analisar o plano de vacinação divulgado pelo Ministério da Saúde na terça-feira.

Em nota técnica divulgada hoje de manhã no Globo, o grupo afirma que é preocupante o estado atual de planejamento: "É um esboço rudimentar, com tantas fragilidades e lacunas que dificilmente poderá ser seguido".

Quase na mesma hora, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, apareceu em entrevista à CNN para informar que a vacinação contra a Covid-19 poderá começar já agora em dezembro.

Depois que o governador João Doria anunciou o início da vacinação em São Paulo para o dia 25 de janeiro, o governo federal agora corre atrás do prejuízo e procura antecipar prazos, anteriormente previstos só para março.

"Pazuello prevê 60 dias para aprovar qualquer vacina" é a manchete da Folha desta quarta-feira.

De repente, mudou tudo, como se fosse possível improvisar um plano nacional de imunização, que já deveria estar pronto há muito tempo, com a compra de insumos básicos como seringas e agulhas, que independem das vacinas escolhidas pelo governo.

Governadores buscam a "vacina do Doria"

Só depois que o Reino Unido começou a imunização esta semana, Pazuello anunciou a compra de vacinas da Pfizer, porque a de Oxford ainda vai demorar mais do que o previsto.

Sem tempo para esperar por Brasília, governos estaduais e municipais começaram a procurar o Instituto Butantan para comprar diretamente a Coronavac, "a vacina chinesa do Doria", como é chamada por Bolsonaro, que meses atrás obrigou Pazuello a romper um acordo com os governadores para a aquisição de 46 milhões de doses.

Ainda nesta quarta-feira, o governador da Bahia, Rui Costa, anunciou a compra de 19,8 milhões de seringas e agulhas, um investimento de R$ 5,5 milhões, com entrega imediata.

"Isso faz parte do nosso planejamento para a vacinação em massa na Bahia, mas precisamos que o governo federal seja ágil na certificação de uma das vacinas já existentes contra a covid-19. Se a Anvisa atrasar, nós vamos ao STF para poder vacinar a população", disse o governador.

A bomba estourou

Ninguém podia prever a pandemia, mas um ano após o surgimento dos primeiros casos na China, governos de todo o mundo se mobilizaram para o desenvolvimento de vacinas, enquanto, aqui no Brasil, Bolsonaro insistia na negação da gravidade de doença e alimentava sua guerra particular com o governador paulista, que tinha feito uma parceria do Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac.

A bomba agora estourou no colo do general da Saúde, que se cercou de militares, sem experiência na área médica, para enfrentar a mais grave crise sanitária da nossa história, como se pudesse enfrentar o coronavírus a bala.

Vai ver que foi por isso que o presidente da República zerou hoje o imposto de importação de revólveres e pistolas, que antes pagavam uma alíquota de 20%.

"A medida entra em vigor no dia 1º de janeiro de 2021", anunciou Bolsonaro nas redes sociais, como se armas, e não as vacinas, pudessem melhorar a vida dos brasileiros

Seria tudo tragicômico, se o respeitado Imperial College de Londres não estivesse prevendo mais 4.600 mortes por covid-19 no Brasil, nos próximos sete dias.

Em breve, a seguir nesse ritmo, chegaremos à marca de 200 mil óbitos e 7 milhões de contaminados.

Vida que segue, por enquanto...