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Prefeito bolsonarista despeja moradores sem-teto nas ruas de outras cidades

Edivaldo Brischi, prefeito de Monte Mor (SP), anuncia ação de revitalização contra moradores de rua que se abrigam perto da rodoviária da cidade - Reprodução/Redes sociais
Edivaldo Brischi, prefeito de Monte Mor (SP), anuncia ação de revitalização contra moradores de rua que se abrigam perto da rodoviária da cidade Imagem: Reprodução/Redes sociais

Colunista do UOL

17/07/2021 16h15

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"Não posso ver minha cidade virar um lixo. A partir de hoje, moçada, eu vou começar a mostrar como se governa uma cidade. Pessoas do bem, me ajudem, me apoiem nessa ação", anunciou numa live, às 7 horas de manhã do último dia 14, o prefeito bolsonarista de Monte Mor, Edivaldo Brischi (PTB), um empresário do setor de eventos.

O "lixo" a que se refere Brischi são os moradores de rua desta cidade de 56 mil habitantes, na região de Campinas, no interior paulista, que foram forçados a entrar numa van e despejados em Boituva, a 86 quilômetros de distância. Outros foram levados para Rio das Pedras, Bauru, Campinas, São Paulo e São Bernardo do Campo, segundo o próprio prefeito.

Reportagem de José Maria Tomazela, publicada no Estadão, informa que a prefeitura de Boituva, na região de Sorocaba, registrou boletim de ocorrência por violação de direitos humanos, ao ouvir o relato dos sem-teto que perambulavam pela praça da rodoviária, na última terça-feira, sem saber onde estavam e para onde iriam.

A guarda municipal os levou para passar a noite no ginásio de esportes da cidade e entrou em contato com a assistência social de Monte Mor, que confirmou a operação despejo desencadeada pelo prefeito.

Foram ao todo seis viagens para tirar da cidade as pessoas em situação de rua, enviadas à revelia para outros municípios.

No vídeo, o prefeito pede à população que não dê comida para os moradores de rua. "Quem vai trabalhar se tem a pinga deles, a marmita deles?", justificou. "Sei que muita gente vai xingar eu (sic), mas estou fazendo o certo. Agora essa cidade tem prefeito".

Para atrair investimentos de empresários, segundo Brischi, a prefeitura está revitalizando o centro da cidade e até já pediu ao presidente Bolsonaro a instalação de uma escola cívico-militar. Os sem-teto estavam prejudicando seus planos de higienização.

Poderia ser pior, se Brischi adotasse os métodos do dono do seu partido, o lendário mensaleiro Roberto Jefferson, da base aliada do governo, que anda armado de fuzil nas redes sociais para resolver os problemas do país.

A reação dos moradores com casa de Monte Mor não demorou. "Não pode ver sua cidade um lixo, prefeito? Que tal dar condição de moradia a todos, oferecer abrigo aos desabrigados, alimento aos famintos? Varrer pessoas como se elas fossem lixo mostra o tipo de pessoa que você é. Lamentável", escreveu um internauta na página de Edilvaldo Brischi no Facebook.

A Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Campinas reproduziu a live e criticou as ações e declarações deste prefeito terrivelmente bolsonarista.

Se a moda pega, prefeitos de outras cidades também poderão enviar seus moradores de rua para Monte Mor, dando início a uma ciranda de miseráveis circulando em vans pelas estradas do país, onde falta cada vez mais emprego, teto e comida para milhões de brasileiros.

Só espero que não se inspirem naquele oficial de bigodinho do exército alemão que mandou os "indesejáveis" para campos de concentração.

Vida que segue.