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Em 100 minutos de entrevista, Lula fala como planeja o seu terceiro governo

Lula durante entrevista ao UOL: um declaração de amor ao Brasil e seu povo - Reprdução
Lula durante entrevista ao UOL: um declaração de amor ao Brasil e seu povo Imagem: Reprdução

Colunista do UOL

27/07/2022 14h14

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A primeira entrevista exclusiva de Lula, agora como candidato oficial do PT para um terceiro mandato, concedida na manhã desta quarta-feira aos meus colegas aqui do UOL, foi acima de tudo uma declaração de amor ao Brasil e uma profissão de fé no seu povo, um banho de esperança num país em depressão profunda.

Assim eu resumo os 100 minutos da sabatina do ex-presidente com os jornalistas Kennedy Alencar, Alberto Bombig e Carla Araújo, em que tudo foi perguntado, e nada ficou sem resposta, que pode servir de guia para quem quiser saber como será um possível novo governo Lula.

Não haverá surpresas. Aos 76 anos, animado com a vida e apaixonado pelo Brasil, Lula está com a corda toda, cheio de planos para o seu projeto de reconstrução nacional, sabendo que vai herdar uma terra arrasada, mas disposto a começar tudo de novo.

Para mim, que acompanho a trajetória deste nordestino marrento há mais de quatro décadas, que nunca se conformou com o destino de quem nasce no sertão, esta foi a melhor e mais completa entrevista que Lula já concedeu na vida. Falou tudo o que pensa sobre todo mundo, como um velho marinheiro de volta ao navio para salvá-lo do naufrágio, após o breve intervalo de 12 anos, depois de ter deixado o Palácio do Planalto, com mais de 80% de aprovação popular.

Lula passou a maior parte da sabatina sorrindo, mesmo ao falar de temas delicados, como os seus 580 dias na prisão, empolgando-se por vezes, ao lembrar do que fez em seus dois governos anteriores e da sua disposição para reconstruir tudo que foi destruído nos últimos anos.

Gastou pouco tempo para falar dos seus algozes da Lava Jato, hoje relegados ao opróbrio, e do atual ocupante do Palácio do Planalto, o único adversário que sobrou nesta sua sexta disputa presidencial, citados apenas quando foi perguntado sobre eles, para logo virar o disco, de olho no futuro, não no passado.

Nos planos de Lula, não há lugar para acertos de conta e revanches contra quem tentou apagá-lo da cena política, várias vezes dado como morto para sempre, assim como o partido que criou, no bojo das lutas sindicais contra a ditadura no século passado.

Lula não falou nada de muito diferente do que já dizia no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo, antes da criação do PT, durante as greves dos metalúrgicos, nos anos 1970, quando reivindicava melhores condições de vida para os trabalhadores num país rico de povo pobre.

Hoje, como na sua primeira campanha para presidente, em 1989, ele quer garantir três refeições por dia para os brasileiros, com direito a trabalho e renda decente para todos, que é o que não temos mais. Não é pedir muito, convenhamos.

Com os pés no chão, ele sabe que o desafio agora é muito maior, porque quem se habituou a comer carne boa, viajar de avião, andar de carro e botar filho na faculdade não se conforma com o retrocesso dos últimos anos, e se criou uma expectativa muito grande com a volta de Lula. Vai demorar um bocado para o Brasil voltar a viver como no início dos anos 2000, quando havia esperança de um futuro melhor.

Devolver a esperança para esse povo não será fácil, e a campanha eleitoral de 2022 tem que servir principalmente para isso: o brasileiro voltar a confiar no próprio taco e ter novamente orgulho do Brasil.

Para quem anda desanimado da vida e acha que o Brasil não tem mais jeito, como tantos amigos meus, recomendo assistir a essa entrevista aqui no UOL. Há luz no final do túnel.

Não se trata mais de uma disputa entre centro-esquerda e extrema-direita, o bem e o mal, civilização e barbárie, mas de uma questão de sobrevivência do país como Nação independente, dos seus habitantes e da democracia.

A escolha no dia 2 de outubro não será tão difícil. Só não podemos desistir do Brasil, como disse Eduardo Campos, em sua última entrevista, um dia antes de morrer num desastre de avião. Lula está fazendo sua parte.

Vida que segue.

Veja a íntegra da entrevista