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José Roberto de Toledo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Governo Bolsonaro foi um desastre, mas no caso do Censo foi 'catastrófico'

Colunista do UOL

28/06/2023 20h46

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O IBGE divulgou hoje os primeiros resultados do Censo 2022 e apontou que a população do Brasil atualmente é de 203 milhões de pessoas. Durante o programa Análise da Notícia, o colunista do UOL José Roberto de Toledo destacou que o novo número populacional traz uma série de implicações na formulação de políticas públicas e até mesmo no quadro eleitoral e, além disso, fez críticas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O governo Bolsonaro foi um desastre em quase todos os aspectos e, no caso do Censo, especificamente, foi um desastre catastrófico. A culpa é do senhor Paulo Guedes, que não deixou fazer o Censo em 2020, como deveria ser.
José Roberto de Toledo

Censo é feito em anos terminados com o número zero. O mundo inteiro segue esta regra. Como em 2010 e 2020, por exemplo, para existir uma base de comparação comum entre todos os países, mas, no Brasil, ele foi realizado apenas em 2022 durante o governo de Bolsonaro.

Fator Paulo Guedes. O ex-ministro da Economia cortou a verba para o Censo em 2020 e também em 2021, quando já havia explodido a pandemia de covid-19. Quando foi finalmente realizado em 2022, o orçamento foi cortado e a coleta, que deveria levar no máximo dois meses, demorou 10 meses, porque faltava dinheiro e recursos. "Esse Censo foi uma catástrofe do ponto de vista da gestão administrativa por culpa do Paulo Guedes", afirmou Toledo.

Consequências graves para a formulação de políticas públicas. O atraso na realização do Censo traz diversas consequências para um país, sobretudo na formulação de políticas públicas. Quando não se conhece sua própria população, é impossível atender as demandas específicas de determinada região ou grupo social.

Cidades do interior atraíram novos moradores. Sorocaba, cidade que fica a 100 km da capital São Paulo no sentido oeste, foi a quarta cidade com maior aumento populacional em todo o país. No período de 12 anos, desde o Censo de 2010, a população aumentou em 137 mil habitantes. No mesmo período, a cidade ganhou 107 mil novos eleitores, o que comprova o crescimento da população.

São Paulo perdeu moradores para o interior. Desde o último Censo, a população da cidade de São Paulo aumentou em 198 mil habitantes. O número de eleitores, entretanto, cresceu em mais de 800 mil no mesmo período. Uma possível explicação para a discrepância dos números é de que muitas pessoas saíram de São Paulo para o interior e o litoral, sobretudo durante a pandemia com a facilidade do home office, mas não fizeram a alteração de seu domicílio eleitoral.

Contagem populacional antes do Censo para ajustes é essencial. Uma contagem populacional, sem detalhes de renda, escolaridade e sexo, por exemplo, como é feito no Censo, no meio do período, seria ideal. Dessa forma, seria possível fazer ajustes nas projeções com base no tamanho da população do país. Uma contagem desse tipo, inclusive, já foi feita em 1996 para ajuste de projeções.

Mudanças nas políticas públicas. Hoje, a taxa de crescimento populacional do Brasil desacelerou e é de apenas 0,5% ao ano. Isso significa que o país tem mais pessoas idosas, menos jovens em idade de trabalhar e menos crianças. O impacto é uma mudança na formulação de políticas públicas, uma vez que é necessário investir mais em saúde geriátrica do que em maternidades e também investir menos em escolas e mais em hospitais, levando em consideração a nova composição.

Censo vai impactar pesquisas eleitorais e gestão dos municípios

Impacto nas pesquisas eleitorais. Os institutos de pesquisa consideram dados populacionais para várias questões de amostragem em suas pesquisas. Com a mudança da distribuição da população brasileira, com crescimento acelerado no Centro-Oeste e desacelerado no Nordeste, por exemplo, os institutos precisarão do detalhamento dos novos dados do IBGE para fazerem ajustes em suas amostragens.

Novo Censo deve impactar verbas para os municípios. Municípios que perderam muita população correm o risco de perder dinheiro do Fundo de Participação dos Municípios, enquanto municípios que aumentaram sua população devem receber mais verbas. Canaã dos Carajás (PA), por exemplo, aumentou sua população em quase 300% e deverá receber um aumento significativo na verba recebida.

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O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja a íntegra do programa: