Fazenda leva cardápio de emagrecimento do governo para Lula escolher
Não é um cardápio muito fácil de engolir. Nem pelo presidente, nem pelo PT, nem pelo Congresso, nem pelo Judiciário. É uma dieta para "mudar a dinâmica das despesas". A expressão faz parte do diagnóstico do Ministério da Fazenda: o governo tem que emagrecer e rápido para mudar as expectativas do chamado "mercado", alcançar grau de investimento e fazer a economia deslanchar em tempo de colher frutos ainda na eleição de 2026.
Alguns itens já entraram e saíram do cardápio, ao sabor das pressões internas e externas. Caíram fora:
- Mudanças no cadastro do Bolsa Família;
- Desvinculação do valor das aposentadorias do salário mínimo.
Outros itens impopulares permanecem na mesa para o presidente escolher depois da eleição:
- Conter o crescimento exponencial das despesas com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), mexendo, talvez, na idade mínima;
- Mudar as regras do seguro-desemprego para evitar que a concessão do benefício siga crescendo mesmo quando o emprego aumenta e o desemprego cai;
- Fazer uma nova regulamentação dos supersalários do funcionalismo público, especialmente do Judiciário, para evitar o pagamento além do teto salarial previsto em lei.
Outras medidas ainda estão em discussão dentro do governo e podem ou não vir a integrar o cardápio apresentado a Lula. Uma delas é a revisão da aposentadoria dos militares.
Por enquanto, o foro de discussão é dentro do governo. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad levou o cardápio a Lula, que, como é do seu feitio, ouviu e acenou positivamente para agradar o interlocutor. Mas na própria Fazenda sabe-se que quem vai ao juiz sozinho volta sempre satisfeito. Agora é a vez de Lula ouvir as opiniões das outras partes, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa. É a hora do fogo amigo.
Se e quando o cardápio for aprovado por Lula, as medidas precisarão ser aprovadas pelo Congresso. Quase todas as mais importantes necessitam de mudança na legislação. Se isso cria complicações que devem retardar a implementação do cardápio de cortes, cria também urgência para negociá-lo.
O governo deve pedir aos vários candidatos a presidente da Câmara o compromisso de colocarem em votação as medidas do cardápio de cortes em troca de apoio - ou neutralidade - na disputa entre eles.
A Fazenda também espera contar com um apoio raro ao governo para aprovar as medidas entre os parlamentares: empresários e entidades empresariais que preferem ver o governo cortando despesas do que aumentando impostos e contribuições. O lobby empresarial pelo cardápio de emagrecimento já está em ação. Basta ver a lista dos maiores doadores na eleição municipal.
É um momento delicado para o governo, que vem de um resultado negativo nas urnas. Vai ter que comprar brigas com o Judiciário, talvez com os militares, negociar com os novos comandantes do Congresso e vender à sociedade medidas impopulares.
O risco de indigestão é grande, mas a alternativa (não fazer nada) é pior. A eleição de prefeitos e as pesquisas de popularidade do governo mostraram que as velhas fórmulas para ganhar a opinião pública não funcionam mais como antes. Se não agir logo, Lula terá uma batalha de morro acima em 2026.
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