Movimentos sociais temem que Congresso só aprove cortes para os pobres
Os movimentos sociais estão temerosos que o Congresso aprove apenas cortes para os mais pobres, afirmou o colunista José Roberto de Toledo no Análise da Notícia desta terça (12).
A percepção do Lula de que isso ia ter um custo político grave para ele está absolutamente correta. Eu entrevistei algumas pessoas dos movimentos sociais sobre essa questão hoje. E eles, obviamente, mencionaram a nota conjunta que eles divulgaram ontem, assinada por mais de 30 partidos e entidades.
José Roberto de Toledo, colunista do UOL
Toledo destacou um trecho da nota:
"O poder financeiro, os mercados e seus porta-vozes na mídia agitam o fantasma de uma inexistente crise fiscal, quando o que estamos vivendo é a retomada dos fundamentos econômicos, destruídos pelo governo anterior. Onde estavam esses críticos quando Bolsonaro e Guedes romperam os orçamentos públicos e a credibilidade do Brasil? Onde estavam quando a inflação caminhava para 12%?"
"Agora querem cortar na carne da maioria do povo, avançando seu facão sobre conquistas históricas como o reajuste real do salário-mínimo e sua vinculação às aposentadorias e ao BPC, o seguro-desemprego, os direitos do trabalhador sobre o FGTS, os pisos constitucionais da Saúde e da Educação"
Nota divulgada pelos movimentos socias
Segundo Toledo, os movimentos sociais estão preocupados com as reações de setores que não são alinhados com o PT após o anúncio de cortes.
Conversando com o pessoal dos movimentos sociais, eles têm várias preocupações, mas duas delas principais. A primeira é que dependendo de como vier o menu de cortes, se vier equilibrado, se vier cortando para todo mundo como afirmou o presidente Lula, diminui a pressão de fato diminuir a pressão. Por quê? Porque os setores mais à esquerda dos movimentos populares, que não são alinhados com o PT, tem vários partidos de esquerda, são pouco expressivos eleitoralmente, mas eles têm poder nos movimentos sociais, já estão preparados para radicalizar o seu discurso e eventualmente ir para a rua. Se eles forem para a rua, você cria um fato novo que pode ser explorado, inclusive pelo oposto do espectro, pela direita.
Então, esse é o motivo de preocupação. Eles estão preocupados com o que virá no anúncio dessa quarta ou quinta-feira das medidas propostas pelo governo para saberem se o corte está distribuído para todo mundo ou se está concentrado nos mais pobres, que é o que eles denunciaram na nota ontem.
José Roberto de Toledo, colunista do UOL
Toledo ressaltou que a segunda preocupação dos movimentos sociais é que o Congresso corte apenas os gastos para os mais pobres.
O governo vai fazer essa proposta e vai mandar para onde? Vai mandar para o Congresso. E aí, qual que é o ganho de risco? O Congresso só aprovar aquilo que é ruim, que atinge os mais pobres e que não aquilo que beneficie os privilegiados que estão no poder, como os militares, como os próprios congressistas e os setores empresariais. A gente já viu na desoneração o poder do lobby empresarial no Congresso.
E aí o governo está numa encruzilhada, porque a pergunta que a esquerda faz também é a seguinte: Qual que é a estratégia do governo? O que o governo quer com essa história? Por que ele está agindo isso? Por que ele resolveu fazer isso agora?
Essa estratégia, esse é o cenário traçado principalmente pelo Ministério da Fazenda. O problema é que nem todo mundo concorda com esse cenário. A esquerda acha que é assim, que está bom, que a renda está ótima, que melhorou, que o emprego está recorde, que o desemprego é o mais baixo em uma década. Enfim, que não tem motivo para você fazer corte, porque não tem desajuste fiscal.
Agora, por outro lado, a gente já teve uma pequena amostra, essa semana, da consequência extremamente negativa que pode ter para a popularidade do Lula, pelo menos de imediato, se essa proposta for entendida como algo que só pega os pobres. E mesmo que venha compensada por medidas que pegam os ricos e poderosos também, a hora que chegar no Congresso, só sobrar uma parte, né? Só sobrar a parte que pega os pobres. Aí a popularidade do governo vai cair e precisa ver se ela vai conseguir se recuperar em tempo de fazer diferença na eleição de 2026.
José Roberto de Toledo, colunista do UOL
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