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Josias de Souza

Bolsonaro trata Aras como um procurador premiado

Colunista do UOL

29/05/2020 04h28

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O que diferencia um procurador-geral da República de um engavetador é a curiosidade. O engavetador tem uma vontade inabalável de acreditar. O procurador tem um desejo irrefreável de descobrir. Jair Bolsonaro constrange Augusto Aras cada vez que insinua que pode premiá-lo se ficar demonstrado que sua crença de engavetador é mais forte que sua desconfiança de procurador.

"Se aparecer uma terceira vaga —espero que ninguém desapareça—, mas o Augusto Aras entra fortemente na terceira vaga", disse Bolsonaro sobre a hipótese de indicar o procurador-geral para uma poltrona no Supremo Tribunal Federal. O capitão opera às claras, desprezando o tradicional mecanismo do ocultamento. Numa única frase, soou indecoroso e indelicado.

Bolsonaro faltou com o decoro ao tratar Augusto Aras como uma espécie de procurador premiado, do tipo que troca a leniência pela perspectiva de um benefício pessoal. Perdeu a delicadeza ao insinuar que conta com a morte de uma toga para dispor de uma vaga adicional além das duas que indicará graças à aposentadoria de Celso de Mello e Marco Aurélio Mello.

Augusto Aras faria um bem a si mesmo se dissesse um par de palavras sobre o assédio de Bolsonaro. Algo assim: "Me respeite, presidente." Faria ainda melhor se, ao decidir sobre os inquéritos que interessam a Bolsonaro, revelasse que tem algum apreço pela curiosidade. O procurador precisa esclarecer rapidamente se o seu interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação. A coisa está ficando feia.