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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com Telegram e WhatsApp, Bolsonaro monta logística da mentira para 2022

 Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

13/10/2021 11h52

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Email inválido

Apesar de Bolsonaro estar colonizando o Telegram visando às eleições de 2022, sua estratégia não prescinde do WhatsApp. Pelo contrário, a ideia é que os dois aplicativos de mensagem façam parte da mesma estrutura de difusão de notícias falsas e outros materiais visando à desinformação.

O WhatsApp é apontado como um dos cabos eleitorais do então presidente da República ao permitir o disparo em massa de mensagens. Porém, mais efetivo do que isso, foi Bolsonaro ter abastecido grupos de seguidores, que foram para o corpo a corpo digital.

Seguidores de Jair dispararam material que ganhou tração manualmente devido a uma característica do aplicativo na época: o anonimato (de quem produz a mensagem mentirosa) e viralização (de um conteúdo). Dessa forma, histórias fantasiosas foram distribuídas em um piscar de olhos, como a, hoje, icônica "mamadeira de piroca do PT".

Devido às críticas que recebeu pelo impacto negativo que estava causando nas eleições do Brasil e da Índia, o aplicativo adotou sugestões, inclusive vindo de pesquisadores e especialistas brasileiros, limitando em cinco o número de pessoas e grupos para os quais uma mensagem pode ser compartilhada. Posteriormente, a plataforma adotou o limite de apenas um compartihamento para mensagens encaminhadas com frequência.

Isso não resolveu o problema da plataforma, mas dificultou a manipulação do debate público através dela.

Neste novo cenário, Bolsonaro vai usar o Telegram para garantir o fornecimento de munição a seu exército de seguidores para que travem uma guerra em seu nome ao longo de 2022. Esses bolsonaristas, por sua vez, postam o conteúdo recebido pelo Telegram em seus grupos no WhatsApp de amigos, de familiares e de colegas de trabalho.

Isso é facilitado pelo fato de o Telegram ter muito menos regras de uso para a sua comunidade e não ter escritório no Brasil - o que torna praticamente impossível que decisões judiciais em tempo hábil retirem conteúdo ou mesmo a plataforma do ar, ao contrário do que ocorre com o WhatsApp. Criado em 2013 pelos irmãos russos Nikolai e Pavel Durov, a empresa está, hoje, sediada em Dubai.

Essa estrutura da mentira, que distribui conteúdo via Telegram e ramifica via WhatsApp, conta com o fato que, apesar da esquerda bater bumbo de que o apoio a Bolsonaro nas redes é realizado majoritariamente por robôs, ele possui uma grande quantidade de seguidores engajados em espalhar o que ele quiser. De acordo com a última pesquisa Datafolha, 15% dos brasileiros acreditam em tudo o que o presidente diz.

Bolsonaro não precisa que o Brasil esteja no Telegram, apenas que seus seguidores continuem fiéis e ativos, prontos para atuar como cabos eleitorais, levando adiante as mensagens. O que reforça a importância de o presidente manter esses 15% constantemente excitados e mobilizados, seja com ameaças de golpe de Estado, seja com ataques a instituições e jornalistas.

Após ser demandado pela Justiça Eleitoral, o WhatsApp tem retirado vídeos mentirosos do ar durante as eleições. Cada vídeo, quando postado, tem uma espécie de RG que pode ser identificado. Advogados de candidatos prejudicados levam esses dados ao juiz, que ordena a remoção - o que o leva a ser retirado de todos os celulares. Mas, até isso acontecer, passam-se horas ou dias, o suficiente para a mentira viralizar e fazer efeito.

Isso sem contar que o mesmo não pode ser feito com conteúdo em texto.

Sim, o presidente não quis estruturar a logística do combate à pandemia, mas está estruturando a logística da mentira para as eleições. Questão de prioridades.