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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Michelle diz que Jair 'gosta de mulheres', mas pesquisa mostra o contrário

Colunista do UOL

25/07/2022 09h49Atualizada em 25/07/2022 19h14

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As mulheres continuam garantindo a dianteira de Lula à frente de Bolsonaro na eleição presidencial. É o que apontam os novos levantamentos das pesquisas XP/Ipespe e BTG/FSB, divulgados nesta segunda (25).

Na Ipespe, o petista tem 48% do voto feminino, enquanto o candidato do PL conta com 30%. Mulheres representam 53% do eleitorado, de acordo com o instituto. Já entre os homens, Bolsonaro tem 41% e Lula, 39% - um empate técnico, uma vez que a margem de erro é de 3,2 pontos.

Na FSB, 46% das mulheres preferem Lula e 24%, Bolsonaro. O voto feminino representa 52% do eleitorado nesse levantamento. Considerando apenas os homens, há um empate técnico, com o ex-presidente marcando 42% e o atual, 39%. A margem de erro é de dois pontos.

Na pesquisa geral da Ipespe, Lula vence Bolsonaro por 44% a 35%, enquanto na FSB, ele tem 44% e o presidente, 31%.

Não é à toa, portanto, que a campanha de Bolsonaro tem se esforçado em tentar convencer que ele "gosta de mulheres". Essa foi a tônica do discurso da primeira-dama, Michelle, no evento de oficialização da candidatura do marido, neste domingo (24).

"Falam que ele não gosta de mulheres. E ele foi o presidente da história que mais sancionou leis para mulheres, para a proteção das mulheres. Setenta leis de proteção para as mulheres. Falam que ele não gosta de mulheres, mas ele sancionou a lei que dava direito às mães com filhos com microcefalia de receber o BPC. Quando ele leva água para o Nordeste, ele está cuidando da mãe dona de casa, a mãe que leva o balde, a bacia na cabeça para cuidar de seus filhos", afirmou.

"Esse é o presidente que não gosta de mulheres, que não gosta de mulheres. A diferença é que ele faz, a diferença é que ele não quer se promover."

A questão é que, para reverter a grande diferença com Lula entre esse público até outubro, Michelle - que fez um discurso de tom messiânico - teria que operar também um milagre, uma vez que o presidente é acusado de tornar a vida delas mais difícil, com a erosão do poder de compra, as mortes na pandemia e as declarações machistas.

Fome, negacionismo e machismo tiram voto de Bolsonaro entre mulheres

Há uma parcela das mulheres que reprova Bolsonaro por seu comportamento historicamente misógino e violento. Quando parlamentar, ele afirmou, por exemplo, à deputada federal Maria do Rosário que ela não "merecia" ser estuprada por ele. Também disse que teve uma filha mulher porque deu uma "fraquejada".

Isso não mudou quando assumiu o governo, pelo contrário. No último 8 de março, em celebração do Dia Internacional da Mulher. Nele, o presidente afirmou que "as mulheres estão praticamente integradas à sociedade" - mostrando, dessa forma, que é ele quem não está.

Sua política de liberação de armas tem efeito negativo junto ao público feminino, apesar de conseguir bons resultados junto a homens inseguros. E seu negacionismo na pandemia de covid-19, que ajudou o país a atingir 670 mil mortes, também é repudiado mais por mulheres do que homens.

Os impactos da crise econômica se fazem sentir mais entre as mulheres (principalmente as negras) do que entre os homens, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE. Contudo, agora ele administra um país com uma inflação anual de quase 12% e uma queda de 7,2% no rendimento médio mensal.

Não apenas porque elas foram atingidas em cheio pelo desemprego e pela queda de renda, mas também porque muitas delas são as responsáveis pelo bem-estar de suas famílias. É a crise econômica, que joga 33 milhões de pessoas para a fome, e não questões comportamentais e culturais que tira o sono de dezenas de milhões de mulheres diariamente.

Para reduzir o impacto econômico nesse grupo, Bolsonaro aposta no reajuste temporário do Auxílio Brasil, que passará de R$ 400 para R$ 600 a partir de agosto, mas também do aumento do vale-gás.

Considerando famílias que ganham até um salário mínimo, Lula tem 61% a 19% na pesquisa BTG/FSB, enquanto vence Bolsonaro por 52% a 26% entre os que têm rendimentos entre um e dois salários por mês. Esses dois grupos representam 43% da população no levantamento. Já na XP/Ipespe, Lula marca 51% e Bolsonaro, 28%, entre quem ganha até dois salários mínimos por mês - que representam 47% do país, segundo a pesquisa.

O presidente também escolheu as mulheres jornalistas como alvo preferencial para seus ataques à liberdade de imprensa. Profissionais como Patrícia Campos Mello e Miriam Leitão sofrem com declarações do presidente que servem de ordem de ataque para assédio violento por parte de seu rebanho.

Em 4 de fevereiro, Bolsonaro soltou uma ironia para os seus fãs na porta do Palácio do Alvorada, afirmando que "segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim" - reforçando a desconfiança que sempre jogou sobre levantamentos de opinião que lhe são desfavoráveis.

Mulheres votam sim em Bolsonaro, mas elas, segundo a XP/Ipespe e a BTG/FSB, são significativamente menos numerosas do que as que escolhem Lula.