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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro abandonará Anderson Torres e Mauro Cid tal como Daniel Silveira?

Colunista do UOL

10/05/2023 18h35

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Daniel Silveira, que ficará para a história como o político que tripudiou uma Marielle Franco recém-executada e ameaçou agredir ministros do STF com um gato morto, se tornou uma assombração para aqueles aliados próximos de Jair Bolsonaro que, como ele, ajudaram a fomentar um golpe de Estado. Temem o mesmo destino do ex-deputado do PTB, que amarga uma cana na penitenciária de Bangu.

O Supremo Tribunal Federal derrubou, nesta quarta (10), por 8 votos a 2, o decreto de Bolsonaro que lhe concedera um perdão. Silveira havia sido condenado a oito anos e nove meses por atacar a democracia e ameaçar ministros da corte. Votaram contra André Mendonça e Kassio Nunes Marques, indicados pelo ex-presidente e que se mantêm fiéis aos ideais dele.

Em abril do ano passado, o então deputado foi elevado à posição de "mártir da liberdade", sendo usado como justificativa pelo ex-presidente para que seus seguidores atacassem o STF. E dizendo que não aceitaria a decisão do tribunal, subverteu o instituto da graça, dando a ele o perdão que, agora, o Supremo considera inconstitucional por desvio de finalidade.

Por servir aos interesses de Jair, ele ganhou manchetes de veículos de comunicação. Hoje, ganha jumbo frio. Tal como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, presos de forma provisória em meio a investigações sobre crimes cujo principal beneficiário é Bolsonaro.

À medida em que a Polícia Federal desenterra mais fatos, outros aliados de Bolsonaro vão aparecendo desempenhando papéis na conspiração e, eventualmente, sendo presos. Um exemplo é o ex-major Ailton Barros, amigão do ex-presidente, que aparece em trocas de mensagens tramando um golpe com Mauro Cid ou com coronel Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde na gestão Eduardo Pazzuelo.

Todas essas pessoas olham para o ex-deputado e devem estar se perguntando: ele sou eu amanhã? Ou melhor: Bolsonaro vai me abandonar à própria sorte como fez com o ex-deputado quando ele deixou de ser útil?

Claro que Torres e Cid eram figuras muito próximas do ex-presidente, e são, portanto, verdadeiros homens-bombas, enquanto Silveira foi mais um fantoche anabolizado momentaneamente pela extrema direita para suprir as suas necessidades. Jair confia que ambos vão ficar de bico calado para ajudá-lo. A questão é se aceitarão ir para o sacrifício quando uma condenação estiver no horizonte. E sem chance de perdão presidencial.

Como já disse aqui, um líder se sacrifica por sua comunidade. Jair, ao contrário, espera que seus aliados se sacrifiquem por ele. Todos, até agora, vêm mantendo a lealdade a um político conhecido por abandonar seus amigos na beira da estrada quando não perdem o valor para ele. Será que acham que, daqui a cinco anos, Bolsonaro vai lhes levar cigarro e frutas nos dias de visita?

Perguntem para Daniel Silveira, cujo perdão presidencial foi cancelado pelo STF, se Bolsonaro lembra que o ex-deputado e hoje presidiário existe.