Leonardo Sakamoto

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Opinião

Recuo de Tarcísio sobre câmeras será fake se PMs controlarem gravação 

A declaração do governador Tarcísio de Freitas sobre estar errado em suas críticas às câmeras corporais em policiais será apenas uma distração para desviar o foco dos recentes casos de violência da PM-SP, a menos que ele volte atrás na substituição das câmeras de gravação ininterrupta por aquelas que têm que ser ligadas pelos agentes.

Seu governo vai trocar as câmeras que registram as imagens sem parar (com exceção do momento em que o policial vai ao banheiro ou faz refeições), compradas durante o governo João Doria, por outras que são acionadas pelo agente ou pelo Copom (Centro de Operações da PM). A medida é criticada por especialistas em segurança pública, pois pode dificultar a gravação de ocorrências policiais e a produção de provas.

"Eu admito, estava errado. Eu me enganei, e não tem nenhum problema eu chegar aqui e dizer para vocês que eu me enganei, que eu estava errado, que tinha uma visão equivocada sobre a importância das câmeras", disse Tarcísio. Fazendo média com os policiais e com a extrema direita, ele já havia afirmado que a efetividade da câmera corporal na segurança do cidadão é "nenhuma".

Mas as palavras proferidas, nesta quinta (5), terão o mesmo valor de uma nota de R$ 3 caso não sejam embasadas em ações concretas. Neste caso, o cancelamento do processo de substituição das câmeras que gravam de forma ininterrupta para aquelas que precisam ser acionadas.

Ele disse que enquanto o governo não estiver "confortável" com o novo tipo de câmera, elas não entram em operação. Deveria ter anunciado que o programa será feito com câmeras de gravação ininterrupta, que garantem, de verdade, mais segurança aos cidadãos e aos policiais honestos.

Pois, independente da opinião de Tarcísio, o governo de São Paulo nunca deixou de tocar o programa das câmeras em fardas, muito por conta da pressão da sociedade civil e da imprensa. Mas o enfraqueceu com essa mudança na forma de gravação. Se o governador falou sério e não apenas jogou fumaça para a imprensa, precisa voltar atrás nisso.

Se com a gravação ininterrupta já foi difícil para o Ministério Público receber todas as imagens gravadas pelas câmeras dos policiais envolvidos em mortes na Operação Escudo, na Baixada Santista, imagina no novo sistema...

"Ah, mas a licitação das novas câmeras não previam gravação ininterrupta."

Mas o que São Paulo prefere neste caso: perder dinheiro com a licitação e garantir um sistema seguro de fato para cidadãos e policiais ou usar as câmeras novas e ter o risco de jovens serem arremessados de pontes, idosas espancadas, senhoras estranguladas e "suspeitos" mortos a tiros por policiais sem imagens que comprovem que o uso de violência era necessário?

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Em tempo: Após a repercussão negativa, policiais foram sendo afastados e presos em casos como o do jovem jogado na ponte, o do rapaz que roubou sabão em um mercado e foi executado com 11 tiros nas costas e da mulher idosa agredida junto com seus familiares. Nesse ritmo, quanto tempo até as tropas se insubordinarem, considerando que todas essas ações cometidas pelos PMs foram incentivadas e respaldadas pelo governador Tarcísio de Freitas e pelo secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL