Eleições locais, pero no mucho
Monize Arquer e Oswaldo E. do Amaral*
As eleições municipais obedecem a lógicas locais. Essa é uma máxima muito comum entre os analistas políticos e é, em grande medida, verdadeira. Descolados das eleições gerais, questões e temas municipais tendem a dominar as discussões nas disputas para prefeituras e câmara de vereadores.
No entanto, políticos e partidos não disputam as eleições municipais pensando apenas nelas. Pensam também em suas carreiras e em como ampliar as chances de sucesso em seus eventuais mandatos e eleições futuras. Ou seja, há um pedaço da estratégia que está conectado com dinâmicas políticas que estão além das questões locais.
Ao analisarmos os dados de lançamento de candidaturas para prefeitos e vereadores entre 2000 e 2020 por bloco ideológico (esquerda, centro e direita), é possível observar movimentos compatíveis com a distribuição de poder em nível nacional.
Esquerda cresceu entre 2000-2012
Entre 2000 e 2012, houve um crescimento na porcentagem de candidaturas dos partidos de esquerda no país tanto para as prefeituras como para as câmaras dos vereadores. Em boa medida, isso reflete o aumento da capilaridade do PT no período. Ocupando o governo federal desde 2003, o partido ampliou os incentivos para a migração de políticos e para a abertura de diretórios no interior do Brasil. Desde 2016, porém, os partidos de esquerda perderam espaço e apresentaram queda na proporção de candidatos lançados.
A crise que levou ao impeachment de Dilma Rousseff e a subsequente conquista do governo federal por um presidente abertamente hostil a qualquer partido de esquerda reduziram os incentivos para os candidatos locais se lançarem por esses partidos.
O PSB e o PV, por exemplo, estão entre os partidos que mais perderam candidatos que disputam novamente as eleições em 2020. Entre os que mais obtiveram ganhos, nenhum partido é de esquerda.
Os partidos de centro mantiveram o viés de queda verificado desde os anos 2000. Ou seja, não se beneficiaram da nova conjuntura política do país e perderam espaço entre 2016 e 2020 para partidos de direita.
O PSDB, por exemplo, assim como os partidos mencionados, está entre as agremiações que mais perderam candidatos que disputam novamente a eleição em 2020. O destino preferido, neste caso, foi o PSD, legenda que já nasceu com alguma força eleitoral por ter atraído lideranças importantes do cenário político e que segue buscando ampliar sua capilaridade no interior do país.
Direita ganhou espaço a partir de 2016
Entre 2000 e 2008, houve uma pequena queda na porcentagem de candidatos de partidos de direita. A partir de 2016, no entanto, houve um crescimento expressivo na porcentagem de candidatos que pertencem a esse bloco ideológico. Em 2020, quase 60% dos candidatos a vereador e a prefeito estão filiados a partidos de direita - recorde na série entre 2000 e 2020. O DEM foi o partido que mais se beneficiou com a migração de candidatos que disputaram as eleições de 2016, seguido pelo PP e pelo PSD.
Quando observamos os dados por UF, vemos que o crescimento das candidaturas em partidos de direita é generalizado em todo o Brasil. Apenas no Rio Grande do Norte, há menor proporção de candidatos de partidos de direita em 2020 do que em 2016 nas disputas para as prefeituras. Para as câmaras dos vereadores, em apenas quatro estados (BA, CE, RN e RR) não houve aumento da proporção de candidaturas por legendas de direita.
Os dados mostram duas coisas: (a) as eleições locais não se restringem apenas a dinâmicas políticas locais; (b) no cálculo de políticos e lideranças partidárias, de uma maneira geral, candidatar-se por um partido de direita na atual conjuntura política do Brasil, parece aumentar as chances de sucesso.
A julgar pelas preferências dos políticos, a direita larga na frente para 2022. Agora resta combinar com os "russos": os eleitores, a partir de 15 de novembro.
Nota metodológica
Os partidos foram classificados da seguinte forma:
Esquerda - PCdoB, PCB, PCO, PDT, PMN, PPL, PROS, PSB, PSOL, PSTU, PT, PV, Rede e UP.
Centro - MDB, PPS, PSDB.
Direita - Novo, PAN, Patriota, PTB, DEM, PGT, PHL, PL, PMB, PP, PRN, PR, PRB/Republicanos, Prona, PRP, PRTB, PSC, PSDC/DC, PSL, PST, PTdoB/Avante, PTC, PTN/Podemos, Solidariedade.
*Monize Arquer é doutora em Ciência Política pela Unicamp e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.
Oswaldo E. do Amaral e professor de Ciência Política na Unicamp e diretor do Cesop/Unicamp.
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