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Observatório das Eleições

Após sete vitórias consecutivas em Teresina, PSDB pode perder a eleição

Dr. Pessoa (MDB) e Kleber Montezuma (PSDB) são candidatos à prefeito de Teresina - Reprodução/Facebook/Arte-UOL
Dr. Pessoa (MDB) e Kleber Montezuma (PSDB) são candidatos à prefeito de Teresina Imagem: Reprodução/Facebook/Arte-UOL

28/11/2020 09h28

Vítor Sandes e Luciana Santana*

Fora dos holofotes nacionais, a disputa em Teresina merece atenção. O PSDB ganha eleições na capital piauiense desde 1992. Perdeu o controle da Prefeitura apenas entre meados de 2010 até 2012, quando o então prefeito peessedebista à época, Sílvio Mendes, renunciou para disputar as eleições estaduais em 2010. De 2010 a 2012 ocupou o cargo o então vice-prefeito da capital, Elmano Férrer (à época no PTB e hoje filiado ao PP).

Foram quatro prefeitos tucanos em Teresina: Wall Ferraz (1993-1995), Francisco Gerardo (1995-1996), Firmino Filho (1997-2004 e 2013-2020) e Sílvio Mendes (2005-2010). Wall Ferraz já havia sido prefeito da capital de 1986 a janeiro de 1989, à época pelo PMDB. Isso é importante de ser lembrado, pois a força política do PSDB em Teresina deu-se, em grande medida, pela vinda de Wall Ferraz para o partido. Com a morte de Ferraz em 1995, Firmino Filho, economista, professor e jovem político do partido, lançou-se como candidato de continuidade do legado de Ferraz em 1996, sendo vitorioso naquele pleito. Firmino Filho, junto com seu partido, não somente deu continuidade ao legado de Ferraz como conseguiu imprimir sua própria marca na política teresinense. Foi eleito prefeito da capital piauiense por quatro vezes.

Nesta eleição, Firmino Filho não poderia mais se colocar como candidato. Precisava, junto com seu partido, fazer o sucessor. No entanto, quem poderia assumir esta condição? Vários nomes foram apresentados, inclusive do ex-prefeito Sílvio Mendes. No entanto, o escolhido foi Kleber Montezuma.

Quem são os atuais candidatos?

Montezuma é economista e professor e, apesar de não ter ocupado cargos eletivos, participou da gestão do PSDB na capital. Deixou o cargo de secretário de Educação para disputar a eleição a prefeito. Antes, já havia ocupado as pastas de Educação e Cultura (2001-2004), Habitação e Urbanismo (1997-2000) e Trabalho e Assistência Social (1993-1996) na Prefeitura.

Candidato de confiança do atual prefeito, Montezuma foi também "abençoado" pelo senador Ciro Nogueira (PP), que indicou o vice para a chapa, o policial militar Eduardo Rodrigues da Silva, conhecido como Sargento R. Silva (PP). A gestão do prefeito Firmino Filho é desaprovada por 53% dos entrevistados e aprovada por 41%, de acordo com a pesquisa do Ibope de 23 de novembro. Com essa baixa avaliação, é difícil viabilizar um candidato de situação, ainda mais alguém sem experiência em disputas eleitorais.

O candidato Dr. Pessoa (MDB) foi eleito vereador de Teresina pelo PPS em 2000, 2004 e 2008. Em 2012, já no PSD, voltou a se reeleger para a Câmara Municipal. Em 2014 foi eleito deputado estadual. No entanto, derrotas também fazem parte da trajetória política de Pessoa. Em 1988, perdeu a disputa para a prefeitura de Lagoinha do Piauí e, em 1996, para a prefeitura de Água Branca. Em 1990 e em 2002, perdeu a eleição para o legislativo estadual. Em 2016, disputou a Prefeitura da capital e foi derrotado pelo atual prefeito. Filiado ao partido Solidariedade, em 2018, disputou o governo estadual contra Wellington Dias e também foi derrotado. Contraditoriamente hoje estão ao mesmo lado na disputa de Teresina.

É válido, no entanto, destacar que Dr. Pessoa teve 39,7% dos votos, no primeiro turno, no pleito de 2016 para a Prefeitura de Teresina e cerca de 20,5% na eleição para governador do Piauí em 2018. Não se trata de um candidato desconhecido da maior parte da população teresinense. Diferente de Kleber Montezuma, pouco conhecido e sem capital político próprio.

Desempenho nas pesquisas

A pesquisa Ibope/TV Rádio Clube de Teresina, divulgada no último dia 23 de novembro, aponta para uma vitória do candidato emedebista sobre o peessedebista. Na sondagem, 55% dos eleitores mencionam que votariam em Dr. Pessoa (MDB) e 30% em Kleber Montezuma (PSDB). 11% informaram que votarão em branco ou nulo e 4% estão indecisos. Na contabilização apenas dos votos válidos, que excluem votos em branco, nulos e indecisos, Pessoa teria 65% da intenção de votos contra 35% de Montezuma.

No primeiro turno, Dr. Pessoa obteve 34,53% dos votos válidos, enquanto Montezuma apresentou 26,70%. Gessy Fonseca (PSC), que teve 12,1% dos votos válidos, decidiu apoiar Dr. Pessoa e Fábio Novo (PT), que teve 11,5%, manteve-se neutro.

O clima da Campanha

Os ânimos poderiam estar mais acirrados na disputa pelo segundo turno, mas a vantagem nas pesquisas tornou a posição do candidato emedebista mais confortável, tanto que não tem participado de debates em rádio e televisão. Devido à recusa de Dr Pessoa não houve debate ontem na TV Clube, afiliada da Rede Globo no Piauí.

Restou ao candidato pessedebista tentar se capitalizar politicamente em cima dessas ausências. A estratégia política de Kleber Montezuma, no entanto, teria que ser extremamente contundente. Conforme as pesquisas, não bastaria o candidato da situação convencer o eleitor indeciso, mas mudar a preferência inicial de alguns eleitores que já se colocam a favor de Dr. Pessoa.

Para o PSDB, está em jogo a continuidade do seu domínio na capital. Além disso, perder o controle do maior colégio eleitoral do estado poderá implicar em um grande obstáculo ao futuro político do PSDB, de Firmino Filho e de seu aliado político, Ciro Nogueira (PP), que foi um dos grandes vitoriosos das eleições municipais no estado, tendo seu partido obtido 83 prefeituras de um total de 224 municípios piauienses.

Bolsonarismo entrou na eleição de Teresina?

De acordo com os dados da pesquisa do Ibope publicados do dia 23, o governo de Jair Bolsonaro é avaliado de forma negativa (ruim/péssimo) por 48% dos entrevistados, regular por 28% e bem avaliado por apenas 23% (ótimo/bom). Isso reflete bem a estratégia dos candidatos.

Nenhum dos dois têm se vinculado diretamente a Bolsonaro, mas o presidente também não tem sido alvo de críticas. As questões locais têm preponderado e o que está jogo é o continuísmo ou alternância. Neste caso, Dr. Pessoa tem se apresentado como viável eleitoralmente para a mudança política na capital piauiense.

O apoio do PT e de Wellington Dias ao MDB

O candidato petista e deputado estadual Fábio Novo (PT) terminou o primeiro turno em quarto lugar na disputa da capital, alcançando 11,5% dos válidos. Novo declarou que votará nulo, pois, após conversa com Dr. Pessoa, não se chegou a um consenso quanto à aliança no segundo turno. Devido à rivalidade histórica entre PT e PSDB, o candidato também não apoiou Kleber Montezuma. No entanto, o Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu apoiar a candidatura do MDB. O candidato Dr. Pessoa também recebeu apoio do governador Wellington Dias.

O apoio petista não foi bem recebido por outros aliados e o tom das críticas aumentaram nos últimos dias, especialmente com referências a realinhamentos de forças visando as eleições em 2022. De acordo com a última pesquisa Ibope, a avaliação da gestão do governador piauiense é ótima ou boa para 27% dos entrevistados, regular para 36%, ruim ou péssima para 34% e 2% não souberam avaliar. Considerando a avaliação negativa do governador na capital, é possível que esta seja a razão da candidatura de Dr. Pessoa não ter explorado em sua campanha o apoio recebido do PT.

Já houve aliança entre PT e PSDB no Piauí

Historicamente, assim como a nível nacional, PT e PSDB não costumam se alinhar. Não somente isso. Costumam rivalizar disputas eleitorais. A última aliança entre o PSDB e o PT em disputas com grande relevância no estado ocorreu em 1998, quando lançaram uma candidatura conjunta para o governo estadual. No entanto, naquele pleito, já no segundo turno, os dois partidos tomaram posições divergentes.

Em 2002, Wellington Dias (PT) foi eleito pela primeira vez governador em uma disputa contra Hugo Napoleão (PFL) que contou com o apoio de Firmino Filho (PSDB). A partir daquele momento, o PT começou uma trajetória de fortalecimento do partido, o que não significou ganhos políticos na capital. Mesmo Wellington Dias, quando foi candidato a prefeito de Teresina em 2012, obteve apenas 14,2% dos votos válidos.

Com o PSDB dominante na capital, o PT nunca conseguiu lançar uma candidatura viável eleitoralmente em Teresina. Dr. Pessoa (MDB), no entanto, parece ter conseguido encontrar o caminho. Com isso, o PT tratou de apoiar sua candidatura no segundo turno. A questão que fica é: esse apoio terá vida longa até 2022?

O fim da gestão do PSDB na capital

Sabemos que políticas como o Projeto Vila-Bairro, desenvolvido na década de 1990, possibilitaram que o PSDB garantisse um apoio espraiado em todo o município. Além disso, bons indicadores relacionados à educação pública municipal permitiram a população acesso à educação. Também é válido dizer que a oposição tem dificuldades de apresentar um projeto para a cidade que convença o eleitorado teresinense a eleger candidatos de outro partido.

A eleição em Teresina pode influenciar 2022?

Em 2018, participaram da mesma coligação PT, PP e MDB. Entretanto, a aliança entre Wellington Dias (PT) e Ciro Nogueira (PP) não parece ter vida longa. Nogueira tem buscado construir alianças para viabilizar sua candidatura de governador em 2022. Com isso, o PP buscou lançar e investir mais fortemente em candidaturas para as prefeituras piauienses.

Na capital, assim como em outros municípios, fica claro que o atual governador, Dias e o senador Nogueira, de fato, se colocarão em lados opostos no pleito em 2022, seja na disputa do Governo do Estado, seja para os demais cargos.

*Vítor Sandes é doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Partidos Políticos (Geppol).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br.