Empresário bolsonarista Victor Oliva: 'Jogar pedra dá ibope para o governo'
"O pior tipo de débil mental é o que torce para as coisas darem errado", diz o empresário José Victor Oliva, 66 anos, eleitor de Jair Bolsonaro. Victor afirma que, pelo "fim da corrupção", está disposto a repetir seu voto em 2022: "Se ele for um presidente importante, como tem sido, para as coisas em que eu acredito, vou votar nele sim. Por enquanto, eu estou gostando. E quero que dê certo."
Para ele, os detratores de Bolsonaro perdem seu tempo: "Jogar pedra no governo dá ibope para ele."
Com 230 mil seguidores no Instagram, Victor fez muitas postagens a favor de seu candidato durante a campanha, mas diz que isso "não influenciou o voto de ninguém": "As pessoas não estão nem aí para a minha opinião", acha.
O "público" dele é, basicamente, a elite que vota em Bolsonaro. Com um trânsito extraordinário na alta sociedade, Oliva ficou conhecido como o "rei da noite" de São Paulo nos anos 1980, depois de fundar com dois sócios a boate The Gallery, a mais festejada daquele tempo pelos ricos e famosos da cidade e alhures. Considerado a "cara" da boate, ele recebia todas as noites, pessoalmente, socialites, artistas do Brasil e de fora, políticos, jogadores de futebol, modelos e celebridades: "Passei vinte anos sem dormir", diz ele, referindo-se ao período em que comandou a boate. Pelos seus cálculos, algo em torno de 7.300 noites de animada vigília.
Cometa Halley
Desde então, tornou-se um bem-sucedido empresário de eventos e acumulou no portfólio produções tão lendárias como o fretamento em 1986 de um Boeing 767 para transportar um seleto grupo de celebridades (Hebe, Pelé, Xuxa...) para assistir à aproximação do cometa Halley da Terra (ninguém viu nada, evidentemente, mas serviu como pretexto para todos beberem muito champanhe e "celebrarem a vida"); em 1997, a festa foi no porta-aviões Minas Gerais, locação do lançamento da sandália Rider, com show de Lulu Santos e Ivete Sangalo (então na Banda Eva); já naquela época e durante muitos anos, Victor comandou o concorrido camarote da cervejaria Brahma no Sambódromo da Sapucaí, no Rio, cuja frequência ia de Madonna a Zeca Pagodinho, de Sabrina Sato a Itamar Franco, Gisele Bundchen, Monica Belucci, Vincent Cassel, Florinda Bolkan e um infindável etc.
Quarentena espetacular
Hoje, José Victor Oliva controla o Holding Club, formado por oito empresas que têm um faturamento de R$ 300 milhões por ano. Ele fala de uma queda nesses números, mas diz que passa o momento mais feliz de sua vida. Ex-marido da jogadora de basquete Hortência Marcari, Victor é pai de dois filhos com ela, e duas filhas com a atual mulher, a publicitária Tatianna Oliva. "Esses cinco meses ao lado da minha mulher e das minhas filhas foram espetaculares."
Se por um lado diz que ninguém está interessado em quem ele votou para presidente, por outro Victor conta que "todo o dia minha assessoria de imprensa manda uma porção de perguntas de jornalistas, como se a minha opinião fosse importantíssima, como se o mundo acordasse para ler a opinião do Victor Oliva". "Não é verdade. É uma opinião normal, com defeitos e qualidades."
Ao mesmo tempo, diz que se surpreende ao ser cumprimentado por estranhos na rua: "Outro dia fui a um restaurante e, quando entrei, os caras se levantaram e bateram palmas. Disseram: 'Adoro suas postagens, você é sensato'. Dizem muito isso, que eu sou sensato."
Na entrevista abaixo, ele fala de Bolsonaro, de Michelle, de Queiroz, de Moro, da quarentena...
UOL — Você hipotecou sua imagem na campanha do Bolsonaro. Como avalia o governo dele até aqui?
Victor Oliva — Eu não hipotequei minha imagem, simplesmente votei nele porque achei que era o melhor candidato. Eu e mais 57 milhões de pessoas. Nunca fiz campanha nem trabalhei para o governo, não tenho nada a ver com isso.
O que você apontaria como defeitos e qualidades do presidente?
Eu sei que há defeitos e que é fácil apontar. Não sou um idiota. Acho ruim, por exemplo, tratar mal os intelectuais e a educação.
Agora, esse negócio de gritar, mandar para a puta que o pariu, ou dizer que vai dar porrada em jornalista, isso é uma bobagem. O cara não é o Fernando Henrique, porra, nem o Juscelino Kubitschek. Esperar o que do Bolsonaro?
Jogar pedra só dá ibope. Tanto que a popularidade dele está subindo. O povo adora isso. E ele tá curtindo. Toda vez que a imprensa dá gás, ele surfa na onda.
E vou te contar uma coisa. Muita gente que se faz de politicamente correto, intelectual etc, quando está conversando comigo é mais bolsonarista do que eu.
Você concorda com o posicionamento do presidente em relação à epidemia de covid e à quarentena?
Eu não concordo com ninguém sobre isso. Acho que a covid foi usada politicamente por todo mundo, desde Genebra, entende? Os caras da Organização Mundial de Saúde (OMS) não explicaram nada. O Supremo Tribunal Federal (STF) jogou essa bomba para cima dos governadores e dos prefeitos, que querem jogar de volta para o Bolsonaro. Uma zona. A verdade é que são todos uns atrasados mentais. Brincam com a saúde alheia.
Se você perguntar da cloroquina, eu vou dizer: 'Não sei'. Por via das dúvidas, eu tomaria, se não fizesse mal. O mundo político parou para falar disso, e as pessoas estão cansadas desse assunto. Deu.
O mundo todo sofre com o baque na economia, decorrente da pandemia e da quarentena. Você acha que, por mais grave que seja a crise, nós poderíamos estar enfrentando esse momento de uma forma menos turbulenta?
É claro que o Brasil está passando esse momento com grande dificuldade, mas temos um ótimo ministro da Economia [Paulo Guedes], eu concordo 100% com ele, e ótimos ministros no governo, agricultura, infraestrutura...tinha uns caras meio estranhos, mas que já dançaram.
Em relação às pessoas que apoiaram o Bolsonaro na campanha, como é a sua conversa com elas hoje?
Elas são muito mais radicais do que eu. Todo mundo acha que o Bolsonaro é um santo, que ele tem de se reeleger, aliás, que já se reelegeu. Acham que não vai haver outros candidatos em 2022, o que é uma besteira porque ainda tem um caminho longo.
Não sei. De repente tem o Luciano Huck. Sei lá, um cara cabeça pra caramba. Talvez eu vote nele. O João Doria está fazendo uma gestão muito eficiente. Dois nomes que eu vou ter de observar bem de perto, porque são pessoas que estão preparadas.
Que motivos o levaram a votar em Bolsonaro? Foi contra o PT?
Lógico que todo mundo votou contra o PT. A gente via uma corrupção endêmica. O que você ouve do Bolsonaro fora do Brasil, eu que viajo bastante, não é nada perto do que falam do Lula e da Dilma. Bolsonaro é tido como um militar, brucutu, sem muita cultura, tal, mas um cara que baixou a corrupção, a criminalidade, está melhorando as finanças no Brasil com um grande ministro da Economia, a agricultura vai muito bem obrigado. A Bolsa de Valores foi até 100 pontos e agora deve subir mais um pouco. Quer dizer, perto da Argentina e outros países, não é a pior gestão.
A questão é que gente vive em um país que tem essa cultura do "desvio". Eu vou votar no candidato que jurar por Deus que é o que mais vai lutar contra a corrupção.
No dia a dia a gente encontra tanta dificuldade causada pela corrupção, isso atrasa muito os nossos negócios. Mas é evidente que está melhorando.
Sobre o envolvimento do senador Flávio Bolsonaro em uma organização criminosa na Assembleia Legislativa do Rio, você acha que isso pode comprometer o governo?
Esse negócio do dinheiro do Queiroz na conta da primeira-dama é uma merda. Mas eu separo o que é governo, o que não é. O Bolsonaro, ao que me parece, trava uma luta gigantesca para que o pilar do combate à corrupção seja mantido. Pelo caminho, apareceu a raspadinha [rachadinha] . Isso é com o filho dele. Ele vai ter de explicar.
A raspadinha é a forma de eles pegarem a grana, assim como o PT tem o dízimo. Cada partido faz de uma maneira, mas acaba sendo igual. Pegar dinheiro do fundo eleitoral e dos funcionários na Assembleia Legislativa é nojento.
Você, que sempre foi lavajatista, se decepcionou com a saída do Moro? E do Mandetta?
Sim. Eu acho que mais importante que o presidente é a Lava Jato. É o meu partido. O Mandetta fez um papel de merda, jogou para a torcida, aquela história de sair dançando, muito babaca. O outro ministro, que ficou um mês, eu nem sei quem é, e o Pazuello...acho que esse aí tá indo bem. Um administrador, sei lá.
Você acompanha o noticiário político do Brasil?
Todo dia. O que me dá uma certa agonia é ver um time de jornalistas pró Bolsonaro, e um contra. Os que estão a favor não criticam o que deveriam, e os contra não elogiam as coisas certas que ele faz. Então, quando você compra um jornal, já sabe o que vai ler.
O Bolsonaro, com as fragilidades dele, contaminou todos os veículos de informação do País. Parece que todo mundo foi jogar futebol no campo dele, que é meio de várzea, de chutar a canela. Deveria ser o contrário.
Bom, bastava ver aquela entrevista do Bolsonaro com a Renata e o Bonner antes da eleição para saber o que ia acontecer. Foi burrada de um lado, burrada do outro, tipo do negócio que não interessa a ninguém.
Os bolsonaristas costumam afirmar que toda a imprensa é "contra" o governo. Por outro lado, existe um inquérito que investiga apoiadores de Bolsonaro que estariam disseminando fake news em massa.
Eu não entendo nada de fake news. Eu não tenho cabeça de puta, então, acredito em tudo o que eu vejo. Às vezes, reposto coisas que eu jurava por Deus que eram verdade, aí vem uns caras e dizem: 'Ô, seu burro, é fake news!'.
Não tenho maldade. Adoro redes sociais, acho que é uma forma moderna de se comunicar, tomo porrada, mas recebo muito elogio.
Outro dia, quando entrei em um restaurante, as pessoas se levantaram e bateram palmas. Disseram: "Adoro suas postagens, você é sensato." Escuto muito isso, que sou sensato.
Mas os caras de esquerda devem me achar um bosta. Eles não vêem o duro que eu dou, os 500 empregados que eu tenho de pagar por mês.
Como você tem atravessado a quarentena?
Estou uns 5 quilos mais gordinho, me alimentei bem esse tempo todo, cozinhei bastante. Acho que a gente passou a entender o mundo de maneira diferente. Eu estou cheio de problemas, principalmente financeiros, mas hoje sou muito mais feliz. Joguei um monte de coisas fora da minha vida, e esses cinco meses do lado da minha mulher e das minhas filhas foram espetaculares. Hoje eu posso dizer que conheço minha família. Eu achava que eu conhecia.
Você pensa em votar em Bolsonaro em 2022?
Eu acho que a gente tem de desmontar essa herança de corrupção do PT. Muita coisa do passado precisa ser erradicada. Principalmente aquela distribuição de cargos.
Então, eu me pergunto: "Como é que acaba a corrupção? É com o Bolsonaro? Deixa então ele ficar mais quatro anos." Hoje, eu votaria nele.
Aí, tem gente que diz, "Ah, mas vai acarretar esse e aquele efeitos colaterais". Tudo bem. Depois vem o Moro, e assim vamos indo. Eu não tenho uma cultura política profundíssima.
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